Tem gente que ama tanto animais de estimação que começa com um e depois não para mais. Foi o que aconteceu com Elizabeth II, atual e mais longeva rainha da Inglaterra. Ao longo de sua vida, ela teve dezenas de cachorros e mais de 30 deles eram iguais. Sua raça predileta é a pembroke welsh corgi, típica do País de Gales, com aparência de uma raposa baixinha e troncuda e originária de fazendas. Os primeiros corgis eram usados como cães de pastoreio.
Além desses cães, a monarca já teve ainda cocker spaniels e dorgis (resultado do cruzamento de dachshund com corgi). Todos eles receberam nomes: Willow, Foxy, Candy, Vulcan... Até os cavalos da realeza ela batizava. Um deles chamou de Winston, igual seu ex-primeiro-ministro.
Paixão começou cedo
Elizabeth passou a se interessar por corgis quando ainda era menina. Ela os descobriu depois que conheceu os cães dos filhos de um marquês. Seu pai, o rei Jorge VI, então lhe presentou com um filhote dessa raça e que batizou de Dookie. Logo em seguida ganhou Jane e não parou mais de criá-los. Estabeleceu uma “dinastia canina” dentro do Palácio de Buckingham.
Em 1944, aos 18 anos, Elizabeth ganhou de aniversário a matriarca de sua linhagem de cães, Susan. Todos os cães que teve depois dela eram seus descendentes. Era tão apegada a essa cadelinha, que, quando se casou com o príncipe Philip, em 1947, fez questão de levá-la para sua lua de mel. A rainha ainda influenciou aqueles que a rodeavam. Seus filhos, o príncipe Charles e a princesa Anne tinham seus próprios corgis e sua mãe e irmã também mais alguns.
Elizabeth escolhia os pais das ninhadas e estabeleceu no palácio uma ala para abrigar seus cachorros e que ficou conhecida como a “sala corgi”. Quando os cães morriam, todos bem velhinhos, eram então sepultados em um cemitério na mansão de campo da família, em Sandringham. Sua ancestral, a rainha Vitória, que teve cachorro, cabra, veado, papagaio e até burro, foi quem estreou o local. Elizabeth passou a utilizá-lo a partir de 1959, quando Susan morreu. Todos os seus cães possuem lápides, sendo que algumas até dedicatórias possuem.
Tratados com mordomias
Os cães de Elizabeth sempre foram muito mimados. Dookie, por exemplo, tinha mordomo exclusivo, sua própria cesta de vime, que era mantida acima do chão para ele não pegar vento frio e se resfriar, e uma dieta aprovada por veterinários. Nunca repetia a refeição servida na parte da manhã no final do dia e também recebia biscoitos extras em datas comemorativas.
Com a subida de Elizabeth ao trono em 1952, o tratamento dado aos cães se intensificou. O cardápio deles passou a ser variado, elaborado por um chef gourmet e servido em bandeja de prata. Os lençóis das caminhas trocados diariamente. No Natal, a rainha até criou o hábito de confeccionar para dar de presente a eles meias recheadas com petiscos e brinquedos caninos.
Quando indisciplinados eram até analisados por psicólogos na tentativa de mudarem de comportamento. Sim, alguns dos leais companheiros da rainha eram uns pestinhas. Para ter ideia, chegaram a morder policial, motorista, relojoeiro e se atacavam. O dorgi Chipper foi até morto pela matilha, que não poupou nem sua dona. Em 1991, a rainha precisou levar três pontos na mão esquerda após levar uma mordida tentando apartar uma briga entre dez deles.
Símbolos de uma era
A raça corgi se popularizou pelo mundo como sendo a dos “cães da rainha”. Viraram temas de obras de arte, souvenires para se levar de uma viagem pela Inglaterra e mais. Em 1991 foram cunhados em moedas do território ultramarino britânico de Gibraltar e em 2002 novamente, mas por ocasião da comemoração do 50º aniversário da coroação de Elizabeth II, conhecido como o Jubileu de Ouro.
Monty, Willow e Holly, os cães da última geração, até fizeram uma pequena participação na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpios de 2012, em Londres. Na ocasião, Daniel Craig, o interprete de 007, entrou no Palácio de Buckingham para buscar a rainha e os encontrou pelo caminho. Os corgis também foram retratados no filme “A Rainha”, com Helen Mirren, e mais recentemente viraram astros da animação infantil “The Queen’s Corgi”, lançada em 2019.
Desde 2015, a rainha Elizabeth, por vontade própria, parou com a reprodução deles e desde 2018 não tem mais nenhum exemplar puro da raça. Ela está com 94 anos e alegou há pouco tempo que sua decisão foi tomada para que os corgis, que geralmente chegam até a idade dos 15 anos, não corressem o risco de ficarem “órfãos”. A dinastia canina da rainha chegou ao fim, mas em breve outra pode surgir. O príncipe William e sua esposa Kate Middleton, por exemplo, são apaixonados por cães.
Fontes: Sites The Guardian; The Daily Telegraph; Vanity Fair; The New Zealand Herald; e livros “Amazing & Extraordinary Facts: Royal Family Life”, de Ruth Binney, e “A Brief History of the Private Life of Elizabeth II”, de Michael Paterson.