No Brasil, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019, por hora, quatro meninas de até 13 anos são violentadas sexualmente. O caso mais recente e que chocou o país foi o de uma garota do Espírito Santo que, com apenas 10 anos, precisou recorrer a um aborto legal . Desde os 6 anos ela era abusada pelo tio.

Porém, não é só no Brasil de hoje que crimes como esse chocam a opinião pública. Em 1939, Lina Medina, uma menina da província de Castrovirreyna, no Peru, entrou para a História como a grávida – e mãe – mais precoce do mundo. Ela tinha apenas 5 anos.

A triste história de Lina Medina foi retratada em documentário do History Channel
Reprodução/History Chanel
A triste história de Lina Medina foi retratada em documentário do History Channel


Tratada como doente

No caso de Lina, a própria família dizia, num primeiro momento, que ela estava doente, talvez com um tumor no estômago. Como o “inchaço” só tendia a aumentar e começava a chamar a atenção das pessoas, os pais de Lina se viram obrigados a levá-la a um médico para ser examinada. Antes até tentaram resolver o problema com um curandeiro xamã, mas em vão.

No hospital, os especialistas, ao verem o tamanho da barriga da menina, cogitaram a hipótese apontada pelos pais, mas para ter certeza do quadro se basearam na ciência. Gerardo Lozada, médico que primeiro investigou Lina atestou que ela estava grávida de sete meses. Porém, para não levar sozinho a fama de “descobridor” de um escândalo, encaminhou o diagnóstico para apreciação de mais colegas.

Obstetras, endocrinologistas, pediatras, ninguém acreditava nos resultados e solicitaram que Lina fosse levada imediatamente para a capital Lima, a fim de ser analisada pessoalmente. Era verdade. Após equipes de várias frentes constatarem que a criança estava realmente grávida, seu caso virou manchete internacional. Com a repercussão, até estúdio de cinema americano apareceu oferecendo dinheiro para filmar a menina. Outros queriam expô-la como “atração”.

Criminoso não foi encontrado

Não bastasse ter sido estuprada, Lina passou pelo constrangimento e a violência de ser cobrada publicamente pelo nome e o paradeiro do seu violentador. Não se sabe se por trauma, coação, vergonha ou limitação natural de sua idade, nunca falou nada a respeito. Houve médico que afirmou que ela “não poderia dar respostas precisas”.

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Sem a identidade do criminoso revelada, o pai e responsável pela menina, Tiburelo Medina, acabou indiciado e preso por suspeita de abuso sexual infantil e incesto. Porém, não demorou muito e foi solto e o crime arquivado. A Justiça aceitou a versão de Tiburelo, que se dizia inocente, porque considerou que Lina morava ainda com a mãe e mais cinco irmãos homens e não encontrou testemunhas nem indícios suficientes para se chegar a um culpado.

Tem mais. De acordo com algumas investigações posteriores, mas não conclusivas, o caso de Lina pode ter sido somente a ponta do iceberg revelado sobre um esquema de abuso infantil organizado e bastante antigo em sua província. Assim como em muitas partes do mundo, no interior isolado do Peru, existiriam seitas religiosas que estimulariam o abuso de crianças em rituais. Essas práticas poderiam não chocar os locais, por parte deles e suas famílias estarem compactuados. Para ter ideia, muitos acharam até mesmo que Lina estivesse grávida do deus Sol.

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Filho não foi abortado

Como na época, há 80 anos, sequer se falava em Direitos Humanos, legalização do aborto e nem lei havia para interromper uma gravidez fruto de um estupro, Lina foi obrigada a prosseguir com a gestação até o final. Seu filho, um menino, veio ao mundo por meio de uma cesariana.

Batizado com o nome do médico que atestou a gravidez, Gerardo foi criado como um irmão caçula e só soube de sua história real anos mais tarde. Morreu aos 40 anos, de uma doença que atingiu seus ossos. Quanto a Lina, apesar do início de vida traumático, se casou e, aos 38 anos, teve outro filho. Depois disso, o que se sabe é que passou a viver na periferia de Lima e se recusava a dar quaisquer detalhes ou entrevistas sobre seu passado.

Porém, se por um lado ninguém sabe até hoje quem a violentou, os médicos descobriram como o corpo de Lina conseguiu gerar um filho tão cedo e denunciar a “tortura” cometida contra ela. De acordo com o Dr. Edmundo Escomel, que registrou seu caso na revista médica “La Presse Médicale”, a menina já menstruava desde os 8 meses de vida (outras fontes falam 3 anos) e com 4 anos apresentava seios e quadris desenvolvidos. Ao longo de oito décadas, seus laudos e exames foram revisados por médicos dezenas de vezes e hoje a conclusão é que Lina teve uma “puberdade precoce”.

Fontes: Sites The Telegraph, Chicago Evening American, The New York Times, Los Angeles Times, Cedar Rapids Gazette; Journal of Medical-physical Research, da American Association for Medico-Physical Research, e La Presse Médicale: “La Plus Jeune Mère du Monde”. 

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