Bete Coelho interpreta Molly-Bloom, de James Joyce, no teatro

Atriz também assina a direção ao lado de Daniela Thomas

Foto: Crédito: Fernando Sant'Ana
Bete Coelho interpreta Molly-Bloom, de James Joyce, no teatro

Em nova montagem da Cia.BR116, “Molly-Bloom” traz o texto formado pelas partes finais da obra Ulysses, de James Joyce, cuja primeira publicação fez 100 anos em 2022, uma espécie de post-scriptum de toda ação do clássico do autor irlandês. A peça tem a atriz Bete Coelho, que também assina a direção ao lado de Daniela Thomas, e o ator Roberto Audio.

Com tradução de Caetano W. Galindo e codireção de Gabriel Fernandes,
“Molly-Bloom” é o fluxo ininterrupto e fascinante do pensamento da
personagem, que nunca deixou de ser um desafio e uma tentação para
leitores, críticos e, talvez acima de todos, para as atrizes. Os escritos de James Joyce assim como de outros autores concretos da literatura e dramaturgia mundial foram apresentados a Bete Coelho por Haroldo de Campos em saraus e eventos culturais. Desde então a atriz pensava em levar Molly-Bloom aos palcos.

Em cena, Leopold Bloom [Roberto Audio], icônico personagem da literatura mundial, retorna a sua casa após flanar por cerca de 16 horas pela cidade de Dublin, capital da Irlanda. Sua esposa, Molly Bloom [Bete Coelho], já está dormindo, ou finge estar. Ele, exausto, deita na cama com cautela para não a acordar e cai no sono. Molly, então, parte para sua odisseia mental, singrando o mar de seus pensamentos. Entre travesseiros e fluidos líquidos e gasosos, navega as águas do passado, a infância em Gibraltar, seu pai, os “enamoramentos”, o primeiro beijo, o filho morto; navega as águas do presente, o casamento, o adultério, a barriga que está ficando grandinha, a conjectura de talvez parar com a cerveja no jantar, a filha; e as águas fascinantes e traiçoeiras da libido, do sexo, do proibido. 

Na encenação de Molly-Bloom, Daniela Thomas criou uma cenografia para que o público assista ao espetáculo como se lê a obra clássica de Joyce, de vários ângulos. O cenário multimídia é um convite para que a plateia esteja junto à cena, vendo pequenos detalhes da montagem. “A ideia é trazer a amplitude do livro para o palco oferecendo maneiras diferentes de olhar a mesma cena, sem induzir a uma única compreensão”, pontua Bete Coelho.

A Cia.BR116 decidiu não encenar apenas o célebre monólogo final,
desencaixando-o do livro como um fragmento isolado. “Optamos por incluir na montagem trechos do episódio anterior, onde Leopold Bloom, finalmente sozinho depois de um dia longo e cansativo, se prepara para entrar na cama com a esposa que, ele sabe, cometeu adultério naquele dia”. Trata-se de um gesto aparentemente discreto, essa ligeira manipulação do texto que reconecta Molly e Bloom, mas com um efeito profundamente transformador. Trazer o final do capítulo anterior permite ao público conceber de maneira muito mais plena aquele mundo, aquelas pessoas e a integralidade do livro Ulysses. Bete Coelho
também destaca o pensamento revolucionário da consciência e da sexualidade femininas presentes nas falas de Molly Bloom. 

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