Luiz Schiavon foi um mestre do synthpop brasileiro
Foto: Leo Acevedo
Luiz Schiavon foi um mestre do synthpop brasileiro

Luiz Schiavon mostrou que nasceu para a música desde muito cedo, quando, aos 7 anos começou a mostrar seu talento no piano, chegando a se formar no Conservatório Mário de Andrade , em São Paulo , aos 19 .

Foi essa base que o preparou para um grande sucesso no futuro, principalmente como membro fundador e tecladista do grupo RPM .


Junto a Paulo Ricardo , Schiavon escreveu alguns dos grandes sucessos da banda, que já merecem o selo de clássicos, como Olhar 43, Revoluções Por Minuto e A Cruz e a Espada , desde quando o grupo lançou, sob um contrato com a CBS , hoje conhecida como Sony Music , seu álbum de estreia em 1984 .

A partir dali, se tornaram o principal ato musical do país .

Então, em 1986 , veio o espetacular álbum Rádio Pirata Ao Vivo , gravado nos dias 26 e 27 de maio no Pavilhão de Convenções do Anhembi , em São Paulo . A capa do disco tinha um selo impresso, informando que o disco foi gravado com tecnologia da marca Mitsubish com um pedido especial: "Ouça Alto".

Eu era um adolescente naquela época e fiquei impressionado com os arranjos de Schiavon na releitura de London, London , bela e introspectiva canção de Caetano Veloso , que escreveu a canção durante seu exílio na capital britânica. A sonoridade do piano Yamaha CP-70 que o já saudoso tecladista imprimiu naquele arranjo, além de ser um dos pontos altos do álbum - fez com que a música fosse redescoberta para os anos 1980 .

Outra canção que merece uma audição minuciosa é o instrumental Naja . Até hoje ela é atual, exceto o destaque que esse tipo de música merece. A bordo de seus sintetizadores, Luiz Schiavon criou uma obra-prima no rock, posicionando-o como um mestre do synthpop brasileiro .

Durante uma entrevista que realizei com Schiavon - e que acabou reverberando pela América Latina - há pouco mais de uma década, fiz o devido apontamento a ele como um dos maiores músicos brasileiros. Gentilmente, ele me respondeu observando seu trabalho na música como um todo.

"Não me considero um dos maiores músicos brasileiros, embora agradeça o elogio. Acho que minha maior virtude é ter um dom para arranjo e composição. E, apesar da formação em piano erudito, gosto muito de tralha eletronica. Talvez meu maior mérito tenha sido popularizar o uso da eletrônica em shows e gravações", me disse à época.

Sobre Naja , já citada nesta coluna, ele lamentou - e muito - a falta do gosto do público pela música instrumental: "Isso é uma coisa que me deixa chateado. Quando era jovem, com 20 e poucos anos, vc ia ao auditório do Anhembi e via 3 mil pessoas assistindo o Egberto (Gismonti) . Por esse tipo de influencia fizemos Naja que chegou ao top 5 das rádios! Hoje isso acabou e a música instrumental brasileira, que sempre foi uma das melhores do mundo, vem definhando. Nossos grandes músicos tem que ir para o exterior para viver onde, em geral, são reconhecidos e acabam tendo que permanecer por lá. Mas não é só na música.
Vivemos um momento de emburrecimento cultural que é reflexo de políticas públicas tacanhas e até mesmo, ouso dizer, mal-intencionadas".

Luiz Schiavon foi dono de um lendário sintetizador, utilizado em grandes produções musicais em todo mundo ao longo das últimas décadas, o Fairlight . Na ocasião, ele se considerou um "maluco" pelo preço que pagou pelo cobiçado aparelho, mas dono de um talento ímpar, trabalhou a complexidade dos acordes como poucos.

"Acho que fui o único, não lembro de nenhum outro maluco gastar US$ 118 mil num instrumento. Hoje ele está aposentado. Mas tenho mantido contato com o Peter Vogel, projetista do Fairlight, que está prestes a lançar o CMI 30A e, logicamente, estou na fila de espera. Como ex-proprietário fui convidado para um test-drive depois do lançamento oficial".

O bate papo foi concluído quando perguntei quem era o Luiz Schiavon . Hoje, o já saudoso músico resumiu sua pessoa, admirado por milhares de afficionados pela boa música no Brasil, com uma simples frase que resumiu o amor que desprendia a todos.

"Um cara do bem, que adora a família, os amigos e o RPM".

Esteja em paz, Schiavon .

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