Escrita por Claudia Souto
e dirigida por Natália Grimberg, "Cara e Coragem"
chega ao fim na próxima sexta-feira (13). E, por mais que a história envolvendo a radical rotina dos dublês, a existência de sósias e a degradação de uma família por conta de mistérios e segredos não tenha tirado totalmente o fôlego do público, pode-se dizer que a escalação de Rodrigo Fagundes
para dar vida ao mulherengo Armandinho foi um dos acertos da trama até aqui.
"Foi uma grande experiência e desafio fazê-lo. É uma temperatura bem distante da minha, mas procurei acionar todo o meu poder de observação e buscar a essência dele: a autoestima. Quando percebi isso, pude experimentar muita coisa. O texto traz momentos saborosos, e nossas diretoras e diretores estavam sempre equalizando meu tom, me permitindo botar meus temperos e se divertindo junto", afirmou ao iG Gente.
Em seguida, mostrando que é do tipo que não costuma fugir ao enfrentamento, o mineiro de Juiz de Fora respondeu a uma pergunta baseada na ficção e no contato do seu personagem com as três ex-companheiras. "Sou amigo dos meus ex! São poucos. Lido bem com relações e, se não houve nada gravíssimo nos términos, acho que dá para ter uma convivência saudável, sim. Mas nunca teve revival
não, que fique bem dito", declarou, entre gargalhadas.
Estimular o riso, aliás, é uma de suas maiores qualidades. Porém, tudo isso se intensificou e ganhou potência nacional após integrar o elenco do "Zorra Total", onde, por nove anos, interpretou o divertido Patrick ("olha a faca!"). Por conta do papel, venceu a categoria "comediante" do prêmio Melhores do Ano, do "Domingão do Faustão", em 2005.
Mas, antes que a gente acabe mudando de assunto, existe um detalhe importante que precisa ser mencionado: "Cara e Coragem" não foi a primeira incursão de Fagundes pela dramaturgia. O artista, formado em publicidade pela PUC-Rio e em teatro pela CAL, estreou nos folhetins em 2015, em "Babilônia". Já em 2017, foi elogiado por seu desempenho em "Pega Pega" como o altruísta e romântico mordomo Nelito.
Vale destacar que, durante a pandemia, ele gravou uma participação no humorístico inédito "Plantão Sem Fim", do Multishow, fez o curta "Dás um Banho, Zé Perri!", rodou o longa "Me Tira da Mira", que acabou de ser lançado, e o filme "Desapega". Ainda obteve muito sucesso na web ao tirar fotos imitando capas de discos famosos junto ao marido, Wendell Bendelack, com quem está há dezoito anos.
Somam-se a isso os espetáculos "Susto" e "Sylvia", a série infantil "Detetives do Prédio Azul", a segunda temporada de "Impuros", do Globoplay,
e o audiovisual "Tudo Bem No Natal Que Vem", ao lado de Leandro Hassum, na Netflix. Confira os melhores momentos na íntegra!
1. Rodrigo, por mais que seja "cinquentão", a gente que te acompanha não vê esse "peso" dos anos no seu comportamento na vida e na arte. Como avalia essas suas cinco décadas e qual o segredo para manter a jovialidade?
Sempre alimentei a criança dentro de mim. Odeio agir de acordo com minha idade, mas, às vezes, é preciso. Talvez o privilégio de ter uma estrutura familiar forte, amigos e escolher o que me faz bem possam ser alguns dos ingredientes. Mesmo com o passar do tempo, os problemas e as perdas, vou tentando manter o otimismo e cavar coisas que me façam bem.
2. E como trabalha sua sensualidade, que é forte no seu personagem?
Com dificuldade (risos). Eu me acho atraente, mas não sou padrão, sei disso. E essa característica não está só ligada ao sexo, mas também à sedução de querer agradar e ser querido por onde passo. Não que isso seja uma obrigação, pode até ser uma carência, mas prefiro sempre ser amado.
3. Você está casado há quase duas décadas com o roteirista Wendell Bendelack. Em pleno 2023, em que as relações estão cada vez mais descartáveis, o que fazem para se manter unidos?
Wendell e eu temos uma parceria, um namoro, uma amizade, um amor sólido. Somos infantis no cotidiano e temos uma preocupação mútua no trabalho, na vida, nos planos. Enfim, juro que não sei explicar, mas é um sentimento de amar dividir a vista com ele. E assim vamos!
4. Numa recente entrevista ao jornal "Extra", você comentou sobre a necessidade de expor o seu relacionamento por conta do governo Bolsonaro. Como foi tomar essa decisão e quais foram os prós e contras?
Nunca escondemos. Mas, quando começamos a ver essa validação do ódio nos últimos anos, alguma coisa bateu forte em nós, e passamos a nos mostrar mais como casal, não para levantar bandeiras ou brigar, mas para que pudéssemos ser uma espécie de farol para aqueles que têm medo da sua sexualidade ou não têm com quem falar.
E tivemos tantas mensagens de jovens e até de pessoas mais velhas dizendo quanto ajudamos nos vínculos delas em casa e, sobretudo, com elas mesmas. Esse foi o lado bom. De ruim é que, às vezes, sofremos ataques cruéis e maldosos na internet, porque na rua, no dia a dia, isso não acontece conosco. Mas estamos felizes com nossas decisões.
5. Em suas redes sociais, você demonstra estar à vontade e resolvido sobre sua sexualidade. Em que momento chegou a esse nível de segurança emocional?
Sempre fui cercado de amor, de respeito, de estímulo. Mesmo na minha família, que, no início, não entendia, nunca houve violência ou tentativa de impedimento de ser quem eu sou. Há uma mistura de ignorância e preocupação sobre a realidade ser cruel comigo, mas isso faz parte.
Quanto a estar seguro, isso oscila, pois, quando vejo essa violência acontecer diariamente com pessoas LGBTQIA+, dá um aperto no coração, uma identificação e um desejo de seguir enfrentando esse povo preconceituoso. É uma luta eterna. Mas somos fortes e encaramos! Não dá para recuar.
6. E o que espera do atual governo?
Tenho esperança na evolução das pessoas. Vamos levar um tempo para melhorar em muitos aspectos. Contudo, mais do que exigir do Lula, precisamos agir juntos. Cobrar sempre, mas fazer a nossa parte como cidadãos. E, mesmo quem não o apoia, é preciso repensar certas atitudes e tentar dar incentivo também. Pode parecer utópico o que digo: o país está literalmente dividido. Mas, só em saber que nossa democracia segue forte, já dá ânimo para continuar.
7. E depois de "Cara e Coragem", que, inclusive, já terminou de gravar, já tem novos projetos em vista?
Sim. Vou voltar aos palcos com a peça "Gargalhada Selvagem", com Alexandra Richter e direção e adaptação do Guilherme Weber e produção da WB Produções. Não vejo a hora de retornar ao teatro!