Desde o início de sua trajetória em busca do sonho de trabalhar com arte, Mariana Gallindo nunca teve medo de desafios. Pelo contrário! Porém, ao dar vida à Elke Maravilha em "Chacrinha, O Musical" — que focava o apresentador vivendo sua infância em Surubim (PE) e atingindo o auge da carreira na Globo —, esse seu lado positivo ficou ainda mais aflorado. "Se hoje tenho mais coragem, plenitude e assertividade nas minhas ações, devo isso a ela. Serei eternamente grata por todos os ensinamentos que recebi", destacou durante bate-papo exclusivo com o iG Gente.
Nos últimos anos, a artista esteve envolvida em produções teatrais e chegou a fazer testes para estrear no vídeo, mas, como fez questão de ressaltar, "acho que tudo tem seu momento, e, se demoraram 15 anos, é porque precisava de maturidade e experiência para entregar o meu melhor para o público". No entanto, essa "hora" chegou! Mariana assinou contrato com a RecordTV e pode ser vista como Zade em "Gênesis". Mas não acabou, não! Ela também está à frente da recém-inaugurada Casa Henriquieta, que fica em São Paulo e já é sucesso. Vem com a gente!
- 1. Você tem 15 anos de carreira e só agora estreou na TV. Como foi gravar e se preparar para "Gênesis"? A demora em ir para a TV foi uma escolha?
Ao mesmo tempo em que foi um processo desafiador, foi muito tranquilo e natural. Eu me preparei não apenas técnica, mas psicologicamente para essa estreia, já que tive tempo de ir elaborando cada acontecimento. Claro que senti muitos medos, afinal nunca tinha gravado uma novela, não sabia o funcionamento do set, nem da opinião das pessoas, porém fui buscando a verdade do meu trabalho. Sobre essa demora em ir para a TV, sempre foquei o teatro musical, no entanto, há dois anos, decidi ampliar minha área de atuação. Queria muito viver novos desafios e alcançar públicos diferentes. Fiz alguns testes para seriados, mas não fui aprovada em nenhum. Então, surgiu "Gênesis", e passei! Acho que tudo tem seu momento, e, se demoraram 15 anos, é porque precisava de maturidade e experiência para entregar o meu melhor para o público.
- 2. O que levou de bagagem dos palcos para o set? E o que vai levar agora do set para os palcos?
Dos palcos trouxe o espírito de grupo e a disciplina de estudos, pois no teatro não podemos repetir a cena, então isso nos leva para um estado de entrega, presença e união único, que ajudou muito nas gravações. O que mais aprendi no set foi entregar o meu melhor, sem imaginar qual seria o retorno. No teatro, sabemos na hora da cena se ela foi boa ou não, se agradou ou não; na televisão, entregamos nosso trabalho ao diretor e só saberemos a repercussão junto ao público, o que nos obriga a ter muito desprendimento em relação ao resultado.
- 3. Qual a reação de se ver na TV? E a sensação?
Muito boa. Gostei do olhar da direção e fiquei muito feliz de ver as cenas e não me enxergar. Apesar de ser eu, consegui ver a Zade, e é exatamente este o foco: dar vida e voz às personagens.
Você viu?
- 4. Com tanta experiência em musicais, como analisa o cenário no país dos grandes espetáculos em meio ao caos da pandemia?
Infelizmente, a produção da cultura em geral já estava sofrendo muito devido a questões políticas anteriores. Agora, diante de tudo isso, creio que produzir como antes vai levar tempo. Este é um momento de exceção, e o mais importante é prezar pela saúde e pela vida de todos. Independentemente do atual cenário, sou otimista. O teatro sempre sobrevive e se adapta, e tenho certeza de que, assim que possível, voltaremos mais fortes e criativos, podendo devolver sonhos e esperança ao nosso público.
- 5. Você acabou de inaugurar em São Paulo a Casa Henriquieta, onde vai lecionar canto, dança e teatro musical. Acha relevante ter um plano B?
Costumo dizer que o plano B é o plano A, e empreender é a melhor opção para um artista no Brasil. É claro que isso não é tão simples, porque demanda tempo, dinheiro, estudo, mas a liberdade de realizar os próprios projetos vale todos os esforços.
- 6. Quando surgiu a ideia desse projeto? Como tem sido o trabalho por lá?
O começo de tudo foi o aniversário de 60 anos da minha mãe. A partir daí, nasceu o projeto SEXagenárias e, com ele, a criação da Casa Henriquieta, que fica na zona norte de São Paulo e tem o propósito de autoconhecimento e socialização. Há aulas de crochê, canto, dança, teatro musical, rodas de leitura e outras atividades artísticas que visam à aprendizagem e à troca de experiências. Por conta da pandemia, abrimos o espaço devagarinho, com turmas super-reduzidas e todos os protocolos de segurança recomendados, já que trabalhamos principalmente com idosas. Cuido de tudo pessoalmente, de cada detalhe, e espero do fundo do coração que as pessoas sintam o carinho e a felicidade que tenho pela casa.
- 7. Aos 32 anos, você optou por dar aulas para mulheres da terceira idade. Conte o porquê dessa escolha e como é essa troca.
Como disse, comecei esse trabalho por causa da minha mãe e acabei me apaixonando completamente por esse público. Adoro a energia delas, a capacidade de aprender, de ousar, as histórias de vida. Acho que o contrário é também verdadeiro.
- 8. De que modo você se enxerga na terceira idade?
Maravilhosa! (risos) Acredito que nessa idade colhemos os frutos de uma vida coerente e consistente em todos os sentidos. Eu me vejo tocando muito mais pessoas com a minha arte, reconhecida pelo meu trabalho, e produzindo bastante. Desejo, do fundo do coração, que eu seja uma mulher muito mais livre, ousada e feliz.
- 9. Você tem um canal no YouTube em que dá aulas e fala sobre temas atuais do universo feminino. De que modo lida com as redes sociais e os fãs?
Comecei a utilizar as redes de verdade depois da novela. Gosto muito de criar conteúdos, mas não sabia como interagir. Agora estou mais solta e amando essa troca on-line. É muito bom saber o que as pessoas pensam e poder falar o que penso!
- 10. Impossível não perguntar sobre sua relação com Elke Maravilha, já que deu vida a ela no musical "Chacrinha", em 2015. Como foi participar? O que ela achou da sua interpretação?
Foi uma dor e uma delícia, exatamente nessa ordem. Na primeira vez em que a encontrei, me apresentei e fiquei impactada com aquela energia. Ela, porém, olhou no fundo dos meus olhos e disse: "Você que vai ser a Elke? Se eu não gostar, vou falar". Deu uma risada deliciosa e saiu andando. Fiquei apavorada, mas esse encontro me explicou tudo. Essa era a Elke, autêntica, sincera, bem-humorada e com uma energia que só quem a conheceu sabe explicar. Escolhi não imitá-la, e sim transmitir ao público seu temperamento, sua energia, sua visão e sua atitude quanto ao mundo; apesar de certa da minha escolha, estava apreensiva para saber se a agradaria. A minha dor só virou delícia quando, na estreia do espetáculo no Rio de Janeiro, me chamou e comentou que eu era a Elkinha, que tinha passado uma versão muito melhor do que ela mesma se imaginava. Então contei que esse era o modo como eu a via, ela sorriu, e a partir desse dia começamos a nos encontrar mais. Conviver com ela e interpretá-la foi um dos maiores presentes que já recebi como artista. Cada conversa me transformou, e fiquei impactada com sua verdade e sua entrega. Elke era inteira em tudo o que fazia. Se hoje tenho mais coragem, plenitude e assertividade nas minhas ações, devo isso a ela. Serei eternamente grata por todos os ensinamentos que adquiri. Viva a Elke!