Contratado em setembro de 2021 para desenvolver novos projetos de conteúdo para a Amazon Studios, Lázaro Ramos faz sua estreia oficial no Prime Video nesta quinta-feira (20) com o especial de humor Feliz Ano Novo... De Novo, ao lado de Ingrid Guimarães, que também deixou a Globo para se dedicar com exclusividade à gigante do streaming.
Diante de uma plateia de convidados, a dupla apresenta esquetes ao vivo e alguns clipes previamente gravados, usando como base do humor temas que fazem parte do cotidiano geral, como a vida conjugal de um casal entediado. Mas também há espaço para provocar a audiência com críticas sociais, como o racismo estrutural, machismo e etarismo.
"Primeiro a Amazon fez essa provocação da gente criar um especial de fim de ano, e a gente resolveu fazer um especial de ano novo, porque o ano estava com tanto assunto que a gente não sabia se no fim do ano a gente ia ter atenção e até energia que a gente pretendia colocar no especial, que é através da comédia mandar uma energia boa para as pessoas mesmo que seja discutindo assuntos que às vezes são incômodos, né? Tem isso né? Humor como estratégia de aproximação", disse Lázaro em entrevista exclusiva à coluna.
"Tínhamos muito o desejo de fazer homenagem a gêneros de comédia que a gente curte. Tem humor familiar, tem o mais político, tem o mais escrachado. Só que a gente queria ser relevante. A gente juntou uma equipe de roteiristas que tem um trabalho muito autoral. Queríamos a opinião dessas pessoas. Eu acho que o resultado do que tem no projeto é justamente disso, de uma galera supercomprometida em fazer humor, em ser leve, mas também ser relevante", acrescentou.
E de fato funcionou. Em quase uma hora, Lázaro e Ingrid provocam risos de maneira involuntária em boa parte do especial. Mas também cutucam feridas sociais e carregam a audiência a uma reflexão sobre a maneira como lidam com temas espinhosos no dia a dia.
Em uma das esquetes, Lázaro interpreta um office boy de uma grande empresa. Por seu trabalho exemplar, é promovido a chefe de sua área, e passa a fazer trabalhos degradantes, como comprar preservativos a um dos executivos, mesmo com formação superior na mesma área que outros colegas brancos da corporação e que ocupam postos de prestígio.
Por conta dos "novos tempos", a empresa se vê na obrigação de dar espaço para pessoas pretas em cargos de chefia, e o personagem de Lázaro começa a se destacar. Os colegas que antes o tratavam com desprezo por ter sido office boy, tornam-se puxa-sacos e adotam um discurso apelativo e visivelmente forçado para se adequarem à nova política interna.
"Rolou assim: como é que a gente faz para falar esse assunto sem perder os ouvidos, aproximando mais pessoas do tema? Tem alguns assuntos que não têm muito jeito de você se prevenir de tudo isso. A ideia é convocar as pessoas para conversarem através da comédia, que é uma ótima estratégia, porque assim você ri de uma coisa que você faz você fala: 'Caramba, eu sou assim mesmo'. Acho que às vezes é mais fácil até ouvir uma crítica desse jeito do que somente apontando, fazendo uma exposição, e a pessoa rejeita. Eu acho que a comédia abre o coração, e é a nossa tentativa", analisou.
Nova fase
Lázaro teve a oportunidade de emplacar trabalhos com sua digital na Globo, mas nenhum deles foi 100% autoral. No Prime Video, com mais poder e autonomia, ele foge do discurso de "liberdade", usado por diversos ex-colegas que também deixaram a emissora após anos de vínculo, e afirma que entende as necessidades da empresa e também os anseios do público na tomada de decisões para criar os novos projetos.
"Liberdade total não existe e a gente sempre tem cliente. Quando a gente trabalha numa empresa privada, inclusive, temos metas, anseios e necessidades que a gente tem que oferecer. Eu acho que o fato de estar contratado de uma empresa como essa, onde neste momento a classe artística vem tendo muita dificuldade de estar em cena, tanto pela questão política, quanto pela questão da pandemia, dá alguns alívios. O fato de poder experimentar um formato de programa de comédia para começar o ano, é um alívio, porque tem gente que nem está conseguindo vender os seus projetos", comentou.
"Acho que a gente está no momento de resgate da nossa produção cultural em todos os sentidos, tanto no sentido da viabilização, mas também de entender o que é que a gente vai falar para o nosso público para continuar tendo conexão com este público. Eu fico muito atento aos ouvidos que nós temos. Eu gosto muito de ser servidor do público, de fazer coisas para ser útil para as pessoas, seja levando um sorriso, seja levando uma reflexão. E acho que o momento não é de mais liberdade. Acho que o momento continua sendo de encontrar a nossa voz para sermos relevantes no nosso tempo", concluiu.