A beleza nem sempre ajuda a quem trabalha na TV. E Mateus Carrieri sabe bem disso. Ele começou sua carreira aos 7 anos e desde pequeno teve que lidar com situações embaraçosas por ser uma criança bonita. Hoje, aos 55 anos de idade, o ator tem a consciência de que sofreu assédio sexual quando era novinho.
Em entrevista ao podcast Não É Nada Pessoal, apresentado por Arthur Pires e por este colunista que vos escreve, o ex-participante de A Fazenda 12 comentou que um ator veterano certa vez o "presenteou" com uma revista pornô. Na época, por falta de consciência, ele não havia se atentado à real intenção do ex-colega de trabalho.
"O assédio foi uma coisa que veio, e hoje eu tenho esse entendimento, veio acontecendo na minha vida desde muito pequeno. E hoje, relembrando de algumas coisas que aconteceram quando eu era criança, e não acho que é uma coisa que me traumatizou, foram situações que hoje eu penso: 'Aquele cara foi um filho da puta, estava me assediando e eu nem percebi'", começou o ator.
"Eu era criança, menor de idade. Aí em um ator e me traz uma revistinha pornô. Sabe literatura de cordel pornô? Então! E por que este cara me deu esta revistinha? Um velho dando uma revistinha dessa para uma criança, estando só eu e ele? Na época eu estava começando a me masturbar, pegava a revistinha e levava pra casa. Mas hoje em dia, refletindo, já estava sofrendo assédio. Nunca fui abusado. Mas isso já era uma sacanagem", explicou.
Mateus nunca teve problemas com os estigmas de sua profissão e disse que desde pequeno enfrentou de cabeça erguida as ofensas e bullying que sofria na escola pelo fato de trabalhar na área artística.
"Eu comecei na TV muito criança, então eu sou de uma época que trabalhar em TV significava que os meninos eram viados e as meninas eram putas. Nenhum pai sonhava que o filho fosse ator ou atriz. Depois de um tempo a coisa virou e os pais querem que os filhos sejam famosos a qualquer custo", comentou.
Dias atuais
Mateus sempre foi assediado por diretores e autores de novelas, mas nunca cedeu às investidas. Como sempre recebeu convites para trabalhos, ele nunca deu importância aos assédios e tampouco problematizou as ofertas que recebia de papéis de destaque por noitadas de sexo. Ele simplesmente recusava e abraçava as propostas que não vinham carregadas de interesses escusos.
"Chegou um tempo que o trabalho começou a ficar mais difícil, principalmente na TV. Por isso que eu tenho orgulho da minha carreira no teatro. Estou em cartaz com excelentes espetáculos há muitos anos. Mas em determinado momento eu tinha várias opções como ator de TV, e não me fazia falta de trabalhar com este ou aquele diretor. E você vai aprendendo", comentou.
Mateus avalia que o pior assédio, para ele, é de quem usa seu poder de influência. Diretores e autores, que têm o poder de definir qual ator será escalado para o projeto, são os que mais o incomoda quando agem desta forma.
"Quando vieram essas propostas e algumas foram bem pontuais, isso me deixou triste. Mais do que revoltado, me deixou chateado. Chegar nessa idade... E já não sou mais o garotão, não tenho o estereótipo do garotão. Daqui a pouco eu serei avô", refletiu.
Atualmente, Mateus está em cartaz com o espetáculo O Vendedor de Sonhos, uma adaptação da série literária de Augusto Cury, e tem viajado o Brasil com suas apresentações.