*Texto de Gabriela Ramos

Drag queen desde 2015, quando assistiu pela primeira vez o reality show RuPaul’s Drag Race, Ginger Moon se encantou por esse universo e hoje é um dos maiores nomes da cena drag de São Paulo. A artista já era atriz de teatro e dançarina, mas mesmo sem experiência como performer decidiu se jogar e se montar, enfrentando o preconceito: "Ser drag queen no Brasil é muito difícil!" 

"Ainda mais sendo drag queen mulher, a gente é colocada em dúvida toda hora. Sempre tem que fazer 50 vezes melhor do que um homem cis para ser notada. Eu acho que é muito difícil, mas é isso: Sobrevivência! Literalmente é uma sobrevivência que a gente tem que ter", declarou Bruna Tieme, artista por trás de Ginger Moon. 

Além de levantar a bandeira do feminismo no universo drag, Ginger Moon debate a gordofobia nas redes sociais, que, segundo ela, também é muito presente no mundo artístico: "E o nosso meio, o meio LGBTQIAP+ e drag, eu sinto que é muito gordofóbico. É uma cultura muito gordofóbica, da exaltação da cintura fina, do padrão, da branquitude".

"Antigamente, eu tinha esse receio de falar, mas acho que a gente sempre vai ser vista como chata, em qualquer momento, por qualquer pessoa. Então, por que vou deixar de falar de algo que me incomoda por conta do outro?", completou. 

Ovelha colorida

Mesmo se aperfeiçoando e ganhando espaço no universo drag, Ginger Moon revelou que não teve apoio familiar para se tornar artista: "Eu sempre fui a ovelha colorida da família! Minha família nunca gostou de que eu fizesse teatro, dança. Foram me assistir no teatro duas vezes na vida e eu faço desde os 13 anos".

"Então, eles meio que fingem que não sabem o que eu faço, até hoje, eles pensam que é só mais uma coisa estranha que eu tô fazendo", completou. Ela ainda disse à coluna que sempre acompanhou algumas drags na TV, principalmente no SBT. 

"Eu sempre convivi com drag, no teatro e na dança, e sempre amei. Assistia drags no SBT, em todos os lugares e eu amava demais", revelou. Após começar a acompanhar o reality RuPaul’s Drag Race, Ginger Moon pesquisou se haviam mulheres drags ou se era somente homens que se montavam. Nessas pesquisas, conheceu Palloma Maremoto, uma das primeiras mulheres drags, e que abriu portas para esse universo. 

"Ela me colocou em um grupo do WhatsApp só com mulheres drags, nesse grupo tinham várias pessoas, incluindo a Pamela Safic. A gente se conheceu e ela perguntou se eu queria performar em um lugar, falei que queria, mas eu não tinha nada, não tinha peruca, roupa, não tinha nome. Eu literalmente me joguei, me enfiei nesse mundo", explicou sobre início de carreira como drag queen em São Paulo. 

"As ideias para os shows vêm do desespero. Vem de você abraçar seu caos interior. Drag é muito sobre isso: abraçar seu caos interior, seu caos e saber lidar com ele, e mostrar ele para o mundo. O caos também pode ser legal e bonito", completou sobre suas inspirações. 

Ginger Moon e Don Valentim

Ginger Moon namora Don Valentim, que é drag king, e se conheceram na inauguração da Casa 1, centro de acolhimento de pessoas LGBTQIAP+ em São Paulo. "Fui convidada e queria muito já performar com drag king e com uma drag queen homem cis. Postei em uma rede social: 'Algum drag king que queira performar comigo tal dia?' e ele foi o primeiro a comentar", disse.

"Eu olhei assim e falei: 'Nossa, que gatinho!', vai ser esse mesmo! A gente marcou ensaio, já foi aquela tensão e performamos. E eu falo que a gente performa até hoje, porque é literalmente isso, a gente performa até hoje", continuou. O casal, formado por uma queen e um king, faz muitos shows juntos, mas Ginger Moon afirmou que prefere performar sozinha e explicou a diferença entre os dois termos utilizados por eles.

"Hoje em dia, os limites entre drag queen e drag king são muito tênues. É mais sobre uma identificação com o termo queen e king do que necessariamente do que era falado antigamente, que é performar, fazer um performance masculina ou feminina. Você olha o Dom, você olha eu e o que tem de diferente? Um bigode? Eu posso usar um bigode se eu quiser. Drag é sobre fazer essa bagunça toda", finalizou. 

Hoje, Ginger Moon faz parte do elenco da série Nasce Uma Estrela, da Netflix e da peça Vingativas, em São Paulo. Além do documentário All That Drag!, do Canal E! Entertainment, com estreia prevista para o último trimestre deste ano.