Desde meados de 2018 fala-se que a Netflix resgatou as comédias românticas com filmes como "Para Todos os Garotos que Já Amei", "A Barraca do Beijo", entre outros. A percepção dominante é que essa era uma estratégia válida para fidelizar um público jovem e isso é verdade. Mas é também abordar a questão apenas pelo prisma da Netflix.
Há uma renascença das comédias românticas em Hollywood que vale a pena ficar atento. É um reflexo direto de movimentos como o Time´s Up e o #MeToo e que tem condições de ser longevo e sustentável.
Veja o caso de "Casal Improvável" , do mesmo diretor de "Sexo, Drogas e Jingle Bells" (2015) e da roteirista de "The Post - A Guerra Secreta" (2017). No filme, Charlize Theron faz a secretária de Estado dos EUA que tem ambições de concorrer à Casa Branca e acaba reencontrando Seth Rogen, um jornalista idealista que escreve para a mídia alternativa e, bem, é o Seth Rogen.
A ideia aqui, tão explicitada no título nacional, é brincar com as perspectivas de que essa relação amorosa é coisa de cinema. Uma fala do trailer, que não está no filme, até brinca com isso. "É como se fosse 'Uma Linda Mulher', só que ela é o Richard Gere e você, Julia Roberts", exorta o amigo de Seth Rogen no material promocional.
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"Casal Improvável" tem um roteiro inteligentíssimo que mescla expectativas inerentes à estrutura dos romances a um filme que não necessariamente pretende ser crítico à política, mas entende que pode e deve acomodar suas críticas de maneira bem humorada e inteligente.
É, ainda, um filme empoderador. Aqui é o homem quem precisa se ajustar a mulher a despeito do crescimento emocional dos dois protagonistas. Sinais dos tempos.
O filme se comunica diretamente com outro lançamento recente. "Meu Eterno Talvez", lançado há alguns dias na Netflix , mostra uma chef de sucesso (Ali Wong) que reencontra um antigo crush, só que ele não deu certo na vida e trabalha com o pai na cidade em que ambos cresceram.
A maneira como os dois filmes abordam a fragilidade masculina, de não ser o alfa da relação, e a consciência das mulheres de que não devem anular seus sonhos e vida profissional em nome de um amor (que pode ou não dar certo) é francamente salutar.
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Mudou tanto assim?
É claro que ainda estamos no terreno das comédias românticas e isso implica em alguns graus de concessão, mas esses dois filmes lidam muito bem com isso. Essa atenção à contemporaneidade, à maneira como as mulheres estão se posicionando em suas relações amorosas, mas fundamentalmente como encaram essas relações em suas vidas oxigena um gênero que estava precisando do update.