Principal estreia dos cinemas nesta quinta-feira (30), "Rocketman" é um filme evento daqueles que o é com gosto (glam). Inspirado na fantasia real vivida por Elton John, o cantor arrojado, o iconoclasta extravagante e o ativista homossexual, o longa chega aos cinemas pressionado pelo arrebatador sucesso de "Bohemian Rhapsody"
, cinebiografia de outro monumento cultural britânico, a banda Queen.
"Bohemian Rhapsody" arrecadou mais de US$ 900 milhões nas bilheterias globais e ganhou quatro Oscars, entre outros prêmios. São credenciais poderosas. "Rocketman" debutou em Cannes, já está em cartaz nos cinemas do Reino Unido e ganha o mundo neste final de semana com essa baliza.
A despeito dos números pomposos nas bilheterias e dos prêmios na bagagem , "Bohemian Rhapsody" foi avacalhado pela crítica e bastante divisivo entre os fãs. É improvável que o filme sobre Elton John desperte reação análoga.
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Se o filme do Queen era chapa-branca e oficioso, "Rocketman" é pura distopia. É um musical, que se permite frequentemente sombio (que coragem é essa?) e que se assume como um ponto de vista, no caso do biografado, sobre sua trajetória como pessoa e artista.
São soluções narrativamente inteligentes e potentes do ponto de vista dramático. Elton John fez questão não apenas de incluir as polêmicas como de sublinhá-las. Admite o egocentrismo, bate na própria mãe (figurativamente, claro) e aponta dedos a torto e a direito, sempre observando que foi e é o maior responsável por suas circunstâncias.
Esse desprendimento falta a "Bohemian Rhapsody" e a tantos outras ditas cinebiografias convencionais. Curiosamente, o mesmo Dexter Fletcher que dirige "Rocketman" assumiu a direção após a demissão de Bryan Singer do filme do Queen. Essa distância conceitual entre as duas produções reforça a percepção de que John foi muito mais sincero, ou porra loca para usar uma definição roqueira, com sua trajetória e seu legado do que Brian May e companhia.