"A Juíza" examina trajetória de mulher que alavancou igualdade de gênero nos EUA

Segunda mulher na Suprema Corte dos EUA é uma figura incrivelmente popular e que este documentário indicado ao Oscar ilumina com afeto

Seguramente um dos documentários mais populares dos últimos tempos nos EUA, “A Juíza” finalmente estreia no Brasil depois de ser indicado ao Oscar na categoria e receber quatro indicações para os prêmios da MTV. Essa inusitada conjugação ajuda a entender a dimensão de Ruth Bader Ginsburg na cultura pop contemporânea e no status quo daquele país.

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A juíza Ruth Bader Ginsburg em cena do documentário sobre sua trajetória

Ginsburg foi pioneira na luta pelos direitos das mulheres e construiu uma trajetória singular no direito com um ativismo estratégico que resplandeceu na sua escolha pelo então presidente Bill Clinton para ser a segunda mulher na Suprema Corte dos EUA. “A Juíza” se incumbe de angular essa jornada sob a luz do atual momento em que agendas pró-minorias dominam a opinião pública.

É interessante o olhar dispensado ao casamento de Ginsburg e a importância que seu marido teve para sua ascensão à mais alta corte do Judiciário dos EUA. O filme tem a presença de espírito de reconhecer que uma relação forte e harmônica está acima de bolhas militantes e, nesse sentido, encontra respaldo na postura de sua biografada, que em sua atuação no tribunal soube preservar elogiável independência e navegar entre a maioria, de vocação conservadora, e a dissidência.

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É justamente esse comportamento altivo e concatenado com demandas sociais que empurram a interpretação do direito para o futuro que fez de Ginsburg uma figura tão popular, a ponto de ganhar inspirada parodia no humorístico "Saturday Night Live". A cena em que a octogenária juíza assiste Kate McKinnon satiriza-la é doce e dramaticamente poderosa.

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Cena de A Juíza, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (23)

O formato do longa é um tanto convencional, mas a figura de Ginsburg é realmente irresistível. Sua obstinação e comprometimento são inspiradores e a leveza com que entende a própria importância, um exemplo de posicionamento diante da vida. Não à toa virou a notória RBG, em referência bem sacada a um rapper. Camisetas, canecas, cadernos e tatuagens corroboram a força da juíza junto a um público jovem e ansioso por participar mais ativamente de mudanças estruturais na sociedade americana.

Ruth Bader Ginsburg é mesmo uma personagem especial e o que a faz assim não é exatamente sua penetração pop, ainda que isso desperte interesse para sua figura, mas a maneira como viu no direito, e continua vendo, uma ferramenta poderosa de transformação e evolução social.

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“A Juíza” não é a primeira produção a chegar nos cinemas sobre Ginsburg. Em março deste ano estreou a ficção “Suprema”, em que a atriz Felicity Jones deu vida à magistrada. O documentário estreia simultaneamente nos cinemas e nas plataformas digitais. Ele pode ser assistido gratuitamente no Videocamp.