Deliciosamente exagerado, "Aladdin" faz a linha cafona, mas cativa pelo charme
Nova produção da Disney é um triunfo para Guy Ritchie após o fracasso comercial e de crítica de "Rei Arhtur" e um alento para o astro Will Smith
Por Reinaldo Glioche |
Na onda de refilmagens em live-action de algumas de suas mais bem-sucedidas animações, “Aladdin” é um produto diferente dentro do universo da Disney. Primeiro porque é dirigido por Guy Ritchie, o ex-marido de Madonna responsável por alguns bons filmes de gangster britânicos como “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” (1998) e “Snatch – Porcos e Diamantes” (2000) e segundo porque o longa apresenta um elenco diverso e sem grandes astros, ainda que se escore em Will Smith como o gênio.
Depois de dois trailers ruins e muita suspeição em torno de Mena Massoud, que vive Aladdin , e Naomi Scott, a intérprete de Jasmine, é seguro dizer que o longa é bom. É cafona, mas super charmoso.
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Retrabalhar uma produção tão icônica é arriscado. O financeiramente bem-sucedido “A Bela e a Fera” (2017) é um filme com problemas de identidade, atuação e até mesmo conceito, algo que não acontece aqui. Este é um filme de Guy Ritchie .
Ele compreende a natureza do protagonista, um tipo marginal e malandro de bom coração, como poucos cineastas e tem um olhar para as cenas de ação que favorecem o desenvolvimento da história. Nos números musicais consegue ser mais eficaz do que Bill Condon, para forçar a comparação com “A Bela e a Fera”, que era um veterano no gênero, e é especialmente feliz nos números desenvolvidos especialmente para seu filme, como quando Scott interpreta a canção Speechless .
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“Aladdin” funciona também por deixar Will Smith à vontade para ser Will Smith, algo que vinha sendo um problema nos últimos filmes do astro. Ritchie consegue usar a energia do ator de maneira muito inteligente e seu Gênio é totalmente diferente de um jeito muito especial do dublado por Robin Williams na animação de 1992. Ainda assim, se resolve como uma homenagem para quem tem a performance vocal do finado ator em grande estima.
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Química e representatividade
Este filme é o maior projeto da carreira de Massoud e ele não decepciona. O ator tem carisma e a química que desenvolve com Scott é potente. Sem dúvida alguma esses elementos acabam sendo a principal baliza para a apreciação do filme pelo público. Já Marwan Kenzari, que vive Jafar, é o ponto baixo entre os atores. Exagerado e caricato, ele não consegue manter o fluxo desenvolvido pelo elenco que ainda tem Nasim Pedrad, como a ama da princesa, como um valioso trunfo cômico.
O primeiro blockbuster árabe-americano da Disney se insere em uma tendência de vocação comercial inegável que inspira maior representatividade na tela grande. “Pantera Negra” (2018) e “Mulan” (2020) também integram esse movimento.
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Dos figurinos exóticos à opulência das caracterizações, passando pela orgia de cores e a malemolência do papagaio Iago, “Aladdin” é deliciosamente exagerado. Esse descompromisso, que é mais aparência do que factual, faz bem ao filme que ganha completamente o público bem antes do protagonista fazer o seu terceiro desejo.