Ninguém pode acusar Marina Meliande de comodismo ou falta de coragem. “Mormaço”, seu primeiro longa-metragem solo como cineasta, carrega em seu âmago uma proposta estética ousada e é narrativamente divagativo.
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A defensora pública Ana (Marina Provenzzano) está na faixa dos 30 anos é solteira e engajada politicamente. Ela vai precisar mudar de casa por conta do processo de reorganização urbanística que acomete o Rio de Janeiro antes das Olimpíadas de 2016. “Mormaço” trata do violento e veloz processo que marcou o Rio de Janeiro naquele período específico e lança um olhar sobre o impacto gerado em frações menos favorecidas da sociedade.
Ana se engaja na proteção de uma comunidade ameaçada de despejo. O que chama a atenção é que quanto mais se lança nessa luta de Davi contra Golias, mais ela sucumbe a uma rara doença que aos poucos vai se fazendo sentir. Uma pequena mancha roxa que coça bastante e vai se alastrando pelo corpo de Ana com alguma concomitância às frustradas tentativas de barrar o avanço do Estado sobre aquela comunidade.
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A metáfora pode parecer óbvia, mas Meliande avança no comentário. De repente, seu filme, que empresta imagens documentais para adornar a dramaturgia, não é mais um drama, mas sim uma produção embrenhada no fantástico, com alguns toques cronenbergianos.
Se a mescla de gêneros causa estranheza a um espectador habituado ao convencional, reforça a inquietude de uma cineasta que tenta tirar o cinema brasileiro do lugar comum e, ao fazê-lo, ecoa chagas sociais dentro de um gênero receptivo a articulações conceituais dessa estirpe.
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“Mormaço” , é bem verdade, carece de atores mais inspirados e sofre um pouco com essa transição no terceiro ato. Mas são aspectos que não diminuem o impacto de um filme que sabe ser político de uma forma criativa e oxigenada.