Não é nenhum segredo que Christopher Nolan é um dos mais poderosos e festejados cineastas da atualidade. Seu décimo filme, “Dunkirk”, é sob muitos aspectos um filme de um cineasta com a ambição de se eternizar – é um drama de guerra com técnica soberba e um viés narrativo singular; é, ainda, um filme menos vaidoso do que “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012) e “Interestelar” (2014).

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Kenneth Branag e James Darcy são dois dos bons atores britânicos a serviço de Chris Nolan em Dunkirk
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Kenneth Branag e James Darcy são dois dos bons atores britânicos a serviço de Chris Nolan em Dunkirk

Nolan tem adoradores e detratores apaixonados e os dois últimos filmes impulsionaram essa polarização. “Dunkirk” vem para devolver uma baliza menos volátil a essa discussão. Primeiramente, trata-se de um filme muitíssimo bem dirigido. Do esmero técnico à acuidade das atuações, o drama de guerra que conta com atores veteranos como Mark Rylance e Kenneth Branagh e estreantes como Barry Keoghan, Fionn Whitehead, além de Harry Styles, é equilibrado apesar de contar com alguns dos conhecidos virtuosismos do cineasta, como o desenvolvimento de linhas temporais distintas em paralelo.

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O filme recria a Operação Dínamo, que consistiu na evacuação de cerca de 340 mil soldados ingleses, franceses e belgas encurralados por tropas nazistas na cidade francesa de Dunquerque. Não se engane, apesar do inegável elogio ao espírito humano – e o arco centrado no personagem de Rylance é o mais notável comentário de Nolan nesse sentido – este é um filme sobre uma amarga derrota das tropas aliadas. Era 1940 e, naquele momento, tudo indicava para o triunfo alemão na segunda guerra mundial e aquele episódio em Dunquerque contribuiu fortemente para essa percepção.

Cena de Dunkirk, que estreia nesta quinta-feira (27) nos cinemas brasileiros
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Cena de Dunkirk, que estreia nesta quinta-feira (27) nos cinemas brasileiros

Ciente das potencialidades de tal história, Nolan, também autor do roteiro, faz de “Dunkirk” um filme de terror ambientado na segunda guerra mundial e é justamente esse o olhar que deve ser dispensado ao filme para que a experiência seja mais inteira, absoluta. Da cena inicial, que logo escancara a excelência do designer de som da produção, em que soldados ingleses são fuzilados por nazistas, a uma tensa cena no interior de um barco, também sendo alvejado por tiros nazistas, passando por diálogos travados pelos oficiais ingleses em comando no Molhe de Dunquerque, tudo contribui para essa atmosfera claustrofóbica e aterrorizante da iminência da morte.

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Chris Nolan dirige seus jovens atores nos bastidores de Dunkirk

Nesse contexto, a trilha sonora assinada por Hans Zimmer, colaborador habitual de Nolan, é uma bomba cardíaca. Além de colocar nosso coração na boca, a trilha asfixiante mostra como Nolan é um diretor detalhista. Não há nada, absolutamente nada fora de lugar ou propósito no filme. Um espetáculo em que grandiloquência e minimalismo se encontram de maneira salutar para apreciadores do bom cinema.

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A ação ininterrupta justifica o lançamento na temporada mais agitada do cinema, mas o que realmente impressiona em “Dunkirk” é que Nolan apresenta como um blockbuster de verão, um filme condoído da tragédia humana. Não à toa é seu filme menos expositivo, uma queixa constante de seus detratores, e muito provavelmente seu mais pessoal.

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