O ator Stênio Garcia, de 92 anos, detonou a qualidade das novelas atuais. O artista afirmou que novos autores não sabem criar personagens para pessoas mais velhas e que muitos jovens atores não trabalham com a dedicação necessária.
Em entrevista à revista Quem neste domingo (9), o veterano disse: "Contracenar com um ator que não olha no olho? Não quero. Me brocha".
Com 71 anos de carreira, Stenio criticou a falta de profundidade no trabalho de novos profissionais. "Os autores novos não sabem mais escrever para as pessoas velhas, mas o Brasil é cheio de idoso. Para um idoso trabalhar, o autor tem que saber escrever para ele", afirmou. O ator chegou a mencionar Tarcísio Meira (1935-2021) que, segundo sua visão, grandes nomes da teledramaturgia deixaram um vazio no mercado.
O último papel fixo do ator em uma novela foi em "Salve Jorge" (2012), de Gloria Perez. Desde então, fez participações especiais em séries e programas de TV. Em "Deus Salve o Rei" (2018), sentiu dificuldade ao trabalhar com alguns colegas. "É muito difícil escolher o trabalho e contracenar com pessoas que não têm ideia do que estão fazendo ali", lamentou.
Stênio relembrou sua preparação para personagens e apontou a falta de dedicação nos tempos atuais. "Às vezes fazíamos uma proposta de personagem e escrevíamos uma vida inteira dele no caderno. Uma vez, interpretando o Aleijadinho, amarrei a mão para não usá-la, assim como ele fazia, e me furei. Hoje as pessoas não pesquisam mais os personagens", comentou.
O ator também destacou a importância do teatro na formação artística. "Temos atores que conhecem um processo de criação que muitos jovens não conhecem. Atores que não se formaram no teatro não têm profundidade no exercício do ofício", disse. Para ele, a internet contribuiu para o afastamento de uma formação mais rigorosa.
Apesar das críticas, Stênio garante que não pensa em se aposentar. No entanto, alertou sobre a instabilidade da profissão. "Se o ator não empreende e depende do audiovisual, que é o que paga melhor, não vive, porque não tem constância", afirmou.
O artista também comentou sobre a valorização dos profissionais do setor. "Todos os modelos de trabalho são por obra e, de repente, quando o ator é muito bom, são diárias. Não podemos nos deixar leiloar por menos do que valemos", concluiu.