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Leci Brandão entrega expectativas para homenagens no festival IMuNe: "Desafio bonito"

Deputada ainda detalha como concilia carreira artística com a política

Leci Brandão
Foto: Reprodução Instagram
Leci Brandão

Leci Brandão, de 80 anos, será homenageada no IMuNe,  que ocorrerá em Belo Horizonte entre os dias 13 e 16 de novembro. Em entrevista à reportagem do  iG Gente, a deputada do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) entregou as expectativas para o festival, além de comentar detalhes da carreira como sambista e do papel como ativista política.


“Primeiramente, eu tenho que agradecer. Tudo o que acontece na minha vida de bom, agradeço a Deus e aos Orixás, porque eu não tinha dimensão que, depois do segundo milênio, aos 80 anos de idade, eu fosse receber tantas homenagens como tenho recebido. Estou muito feliz e muito grata a Deus por tudo isso”, diz ela sobre o convite para a homenagem no evento.


Dessa vez, o tema da 6ª edição de um dos maiores eventos da cena musical negra, indígena, periférica e  LGBTQIAPN+  do Brasil será “Solidariedade na Música como estratégia para adiar o fim do mundo”.


Questionada sobre a possibilidade de se aproximar de um público mais jovem através do festival, Leci Brandão responde: “Com certeza”. “Sempre tive essa atitude enquanto artista de gravar e de cantar música para gente que tem idade até para ser meu filho. Eu gosto de novidade. É um desafio bonito e acho legal demais”.


Cultura preta

Leci Brandão
Foto: Reprodução Instagram
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Ativista da causa antirracista, ela também analisa a trajetória política. “Sempre tive um comportamento de luta naturalmente. Coloquei as lutas e as questões sociais como uma forma artística. Eu fiz da minha arte uma forma de lutar pelas pessoas em todos os aspectos”, defende.


Para Leci, o cargo como deputada é uma forma de continuar lutando pelos protestos que fez nas próprias músicas que lançou como sambista. “São muitas pautas e são as pautas que, quando eu fui eleita para ser deputada em São Paulo, eu entendi que eu teria que fazer tudo aquilo que cantei durante esses anos todos”, explica.


Nascida em Madureira, no Rio de Janeiro, Brandão passou por muitas profissões antes de se dedicar à música e à política. “Eu fui servente de escola ajudando a minha mãe, já fui Operária de fábrica e telefonista. Tive várias funções na minha vida e cheguei à conclusão de que você não precisa ser deslumbrada e achar que você é a rainha da cocada”, argumenta. 


Responsável por produzir músicas que versam sobre diversos grupos estigmatizados pelos preconceitos sociais, Leci relata que recebeu críticas no início da carreira. Se hoje é mais fácil falar acerca dessas temáticas, no passado a situação era diferente.

Foto: Foto: Roger Cipó
Leci Brandão


A artista afirma ter sido “criticada” pela “ousadia” que teve na década de 1970.“ Nosso repertório tem música que fala de favela, dos povos indígenas, da mulher, dos LGBTs. Hoje em dia, todo mundo está falando, mas, quando eu comecei a gravar sobre esses temas, é claro que fui bastante criticada pela minha ousadia”, pondera.


Para a composição das faixas, a sambista se rotula como uma “jornalista” que observa tudo que a cerca na hora de escrever as letras e melodias. “Como se fosse uma jornalista, vou observando o comportamento do ser humano, o que acontece com a natureza e também com o meio ambiente”, pontua.


Consciência Negra

Comemorado no próximo dia 20, o  Dia da Consciência Negra homenageia Zumbi dos Palmares, morto em 1695 por bandeirantes. A figura se consolidou no cenário cultural brasileiro pela postura de resistência à escravidão no país. Leci exalta a importância da data, mas destaca que a discussão sobre o racismo não deveria se restringir a um único dia do ano.


“Eu entendo, 20 de novembro é importantíssimo, mas eu acho que o Brasil teria que o ano inteiro, nos 365 dias, falar da gente, da nossa história. Nós somos importantes e a nossa ancestralidade é muito forte, grande e séria”, salienta.


Brandão ainda comenta sobre a falta de espaço para mulheres na política. Segundo ela, o enfrentamento do racismo está constantemente ligado com a presença de pessoas pretas no ramo político.


“Eu fui a segunda mulher negra a chegar aqui nessa Assembleia, entrei aqui em 2010 a outra deputada, doutora Theodosina Ribeiro entrou nos anos 70. Ou seja, 40 anos depois chegou eu aqui. É muita coisa que continua errada e que a sociedade brasileira fica devendo para gente. Eu quero a nossa presença, a nossa cara, no Poder Legislativo, Executivo e Judiciário”, finaliza.