Sucesso em 1997, a novela "Chiquititas" fez parte da infância de muitas crianças em toda a América Latina. O fenômeno se repetiu em 2013, quando o SBT fez um remake da trama logo após consolidar uma boa audiência com Carrossel. E os responsáveis por isso foram eles: os atores mirins, que tiveram que abrir mão de muita coisa para cativar meninas e meninos.
Dentro de uma rotina com estudos e brincadeiras, os atores mirins tiveram que arrumar um tempo para trabalhar. “Eu sempre consegui conciliar essas coisas. Mas, sim, cansa muito”, diz Gabriel Santana, que interpretou o Mosca em "Chiquititas" e recentemente esteve em "Pantanal", novela da Globo.
O ator tinha 13 anos quando conquistou o papel e lembra que a decisão de entrar na área foi dele. Na época, trabalhava como modelo e ator de comerciais quando recebeu a proposta. "Na agência que estava, consegui um teste para Chiquititas. Meus pais perguntaram se eu queria fazer e falaram: 'Gabriel, você quer mesmo fazer o teste? Você é muito jovem, a responsabilidade é muito grande. Eles fizeram quase uma sessão de terapia comigo para explicar que eu teria que assumir uma parada muito séria'", lembra Gabriel.
No entanto, o carioca de 23 anos, garante que sempre quis o papel, que mudou a carreira dele e o inseriu de vez na TV. Gabriel ainda afirma que a mãe sempre o acompanhava nas gravações, algo obrigatório por lei para menores de 16 anos, e dava o suporte necessário. "Sem ela, não teria conseguido", diz o ator.
E esse sentimento se repete com colegas de trabalho. Miguel Venerabile, de 8 anos, que interpreta Joca em “Mar do Sertão”, conta ao iG Gente que a relação familiar é fundamental. “Sempre amei assistir peças de teatro porque eu via com os meus pais, com toda minha família. E um dia falei: ‘Mãe, eu amo fazer peça de teatro. Eu quero estar lá, eu quero estar no palco’”, recorda o ator mirim.
Mesmo que a vontade seja da criança, não há como deixar de lado a responsabilidade que ela passa a ter ao assumir um trabalho na infância, com a exposição que a TV aberta tem.
Com as gravações, como fica a escola?
“A gente gravava na segunda etapa do dia. Então, de manhã, a gente ia para escola, até às 12h45. Aí tinha um carro do SBT que buscava e levava para o estúdio”, explica Gabriel Santana. Ele ainda conta que a emissora e o juizado de menores acompanham a rotina escolar dos atores, algo estabelecido por lei.
“Perante a lei brasileira, um menor de idade, que atua com a arte, tem que estar estudando e manter uma boa média no boletim. Isso passa pela produção da novela, depois pelo juizado. E ainda tem uma perícia médica. Só com tudo em ordem, eles deixam trabalhar”, ressalta.
Miguel, que já esteve em “Gênesis” e “Reis”, também concilia bem as responsabilidades. “Não atrapalha minha vida na escola, não. A gente tem que estudar. Eu faço minhas lições de casa e estudo para as provas. Tem meu curso de inglês. É tranquilo”.
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A mãe do ator, Raquel Venerabile, confirma que é preciso entregar documentos para o juizado e para a emissora, a TV Globo no caso de Miguel, comprovando que o trabalho não afeta os estudos e nem a saúde do pequeno artista. Desta maneira, a empresa e o órgão começam a acompanhá-lo.
Trabalham e estudam, mas ganham menos
Gabriel Santana sabia que tinha mais responsabilidade do que outras crianças e sentia que não recebia um reconhecimento justo por isso. “O salário é menor que os de atores adultos, o que eu acho muito estranho, porque a criança trabalha tanto quanto o adulto. Tudo bem, tem o limite de carga horária de seis horas. Mas, para atuar, tem que estar estudando. No final das contas, eu acredito que a carga horária do ator mirim é maior e ele recebe menos”, pondera.
Vale lembrar que o carioca atuou em “Chiquititas”, onde o enredo principal era o infantil. Logo, ele tinha a mesma quantidade de cenas ou até mais que os adultos. Algo que não acontece com Miguel, que tem um papel considerado menor em “Mar do Sertão”. Deste modo, o menino e a mãe afirmam que não sentem a diferença em relação ao salário.
E a brincadeira?
“Eu vejo atuar mais como uma brincadeira do que um trabalho”, assume Miguel, que ainda detalha, animado: “Sempre arranjo tempo para brincar. Às vezes, esperando entre uma cena e outra, a gente brinca, corre. Conversa sobre figurinhas [do álbum da Copa do Mundo]. Eu e o Enzo Diniz [Manduca em “Mar do Sertão] brincamos muito”.
Gabriel, que estava na pré-adolescência quando começou a atuar, diz que não se lembra de ter deixado de ir em festas ou de encontrar os amigos devido ao trabalho, mas assume: “Eu, com 13 anos, tinha consciência. Às vezes deixava de ir em algum lugar porque tinha gravação no dia seguinte. Então, rolava aquela frustração. Mas a decisão era minha, se eu achasse que ia render no outro dia, eu ia”.
Mesmo com todos os desafios, os dois atores não se arrependem da escolha de trabalhar com arte de maneira "precoce". “Têm coisas na vida que acontecem e a gente tem que estar preparado para a responsabilidade que vem. Eu acho que se não tivesse a oportunidade na época, não sei se hoje em dia eu estaria onde estou”, pondera Gabriel Santana, que viveu Renato em “Pantanal”.
Miguel ainda deixa um recado para quem deseja ser ator mirim: “Eu quero continuar sendo artista. Não desisto. Se a pessoa desistir, ela não vai chegar onde quer”, analisa.