Lucy Alves interpreta Brisa na novela
Reprodução/Kadu Brandão 04.10.2022
Lucy Alves interpreta Brisa na novela

Sai a onça, entra a gata. Com a despedida de Juma Marruá (Alanis Guillen) e do sucesso “Pantanal”, o horário nobre da TV Globo caminha em direção a outra heroína com ares felinos. Quem assim define é Lucy Alves, protagonista de “Travessia”, novela escrita por Gloria Perez e dirigida por Mauro Mendonça Filho que estreia nesta segunda-feira (dia 10) na faixa das 21h.

“Eu costumo associar as personagens a animais, e vejo Brisa como um gato, sabe? É um bicho desconfiado e muito rápido. Nada bobo, tem a sagacidade da rua. Ela é assim, uma mulher íntegra, que acredita nas pessoas e quer dar chance a elas. Mas, pisou no calo, Brisa resolve a parada”, adianta a atriz e cantora revelada ao Brasil na edição de 2013 do “The voice” e que este ano voltou a (en)cantar num reality musical sob a fantasia da leoa do “The masked singer”.

Em conversa exclusiva com a Canal Extra, a paraibana de 36 anos falou sobre sua representatividade como “mulher, preta e nordestina”, enaltecendo a cultura do Maranhão na nova novela; a responsabilidade de manter em alta a audiência no horário; sua relação com a internet — a vida da personagem sofre uma reviravolta ao ser vítima de crime virtual, o deepfake —; bissexualidade, beleza e carreira musical, entre outros assuntos.


Este não será o seu primeiro papel de destaque no horário nobre. Você foi aclamada como Luzia, em “Velho Chico” (2016), dividiu os louros de Lourdes com Regina Casé em “Amor de mãe” (2019)... O que Brisa representa?

Estou num momento de maturidade na carreira. Tenho feito mulheres que vêm do Nordeste, minha raiz, minha identidade. E todas são livres, não abrem mão do que gostam, do que as faz felizes. Nos dias de hoje, isso é representatividade. Brisa é uma heroína que vai estar no ar por mais tempo, enfrentando percalços e aventuras. Ela é do Maranhão, tem essa questão da cultura local, mas costura toda a trama. E é criada por Gloria Perez, uma autora que admiro demais! Ela sabe escrever como ninguém, aborda questões atuais e diferentes. Também é um desafio pra mim estar em meio a um elenco de estrelas, afiado. Não vou dizer que seja fácil, mas está sendo muito prazeroso. O clima no set é muito bom, e está só começando.

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Este trabalho enaltece o Nordeste, focando na cultura do Maranhão. Você, que é paraibana, já conhecia os costumes de lá?

Muito pouco. Eu já tinha estado em São Luís e outras cidades maranhenses para fazer shows. Mas chegava e ia embora. Esse quase um mês que passamos lá foi uma oportunidade única. Tanto para o entrosamento do elenco quanto para descobrir o quão intenso e maravilhoso é o Maranhão. Um lugar místico, de muitos personagens interessantes e crenças. A música tem vários sotaques com as manifestações culturais, desde o Bumba Meu Boi até o Tambor de Crioula, passando pelas Caixeiras do Divino. A história vai passando pela oralidade... É encantador. Assim como a Bahia, chama muita atenção pela religiosidade e pelas belezas naturais. Os Lençóis Maranhenses são um lugar surreal! Estive lá de dia e à noite, observei as estrelas... Aprendi a dançar o Boi, que sempre achei tão difícil quando via a minha amiga Thaynara OG fazer. Foi massa poder conversar, provar as comidas, sentir como o maranhense enxerga ascoisas. Trouxemos isso tudo pro set de gravações no Rio.

“Só se for por amor”, série recém-lançada pela Netflix, se passa em Goiás. Então, ambas as produções das quais você é protagonista, atualmente, saem do eixo Rio-São Paulo...

Pois é, essa também tem muito a ver comigo. Mostra o universo sertanejo e a diversidade musical do país. A gente fez uma viagem pelo pop de Pabllo Vittar e Anitta. Maria Gadú compôs músicas e fez arranjos para a série. É massa ver no streaming uma banda com sanfoneira. Estou sempre falando do meu Brasil, graças a Deus. Esse país está merecendo um carinho, e pra mim é uma honra retratar meu povo e minha cultura.

Você pôde conservar o seu sotaque?

Pra Deusa, de “Só se for por amor”, pude manter o meu jeito de falar, porque ela também é paraibana. Pra Brisa, tive que acrescentar umas nuances, porque o sotaque do Maranhão tem um chiadinho que na Paraíba não tem, a gente fala mais seco.

Qual foi a maior travessia que você já enfrentou na vida?

Sem dúvida, trocar a Paraíba pelo Rio de Janeiro. Vivi boa parte da minha vida em João Pessoa, fui muito feliz e aprendi muito lá. Pude estudar, conviver com família e amigos, e esse alicerce foi importantíssimo. Mas vir pra cá sozinha virou uma página da minha história. Já vai fazer seis anos que estou no Rio, e construí tudo do zero, sem conhecer pessoas do mercado musical nem da dramaturgia. Eu me atirei e não me arrependo. Cresci e sigo evoluindo profissionalmente. Essa mudança me abriu muito a cabeça, é outra parada. A gente tem sempre que abdicar de coisas quando escolhe, é claro. Eu deixei família e amigos longe.

Você participou de dois realities musicais, o “The voice Brasil” e o “The masked singer”, ficando em segundo e terceiro lugares, respectivamente. Hoje, brilha como protagonista. Não é sobre ganhar sempre, né?

Brinco que sou cria dos realities. A Globo inventa e me convida, eu vou. Quando a gente encara como uma competição saudável, uma plataforma para projetar, é muito legal. O “The voice” foi assim, eu participei despretensiosamente. Achava que ia ficar um dia só no ar com a minha sanfona e já ia valer, porque tanta gente ia me ver... De repente, eu estava na final. E no “The masked singer”, nem pensei em competição, só queria me divertir. Achava engraçada a coisa das fantasias, de representar um personagem aleatório, uma criatura. No meu caso, a leoa. Quando nos conectamos com a nossa criança interior, a criatividade vem à tona. Eu só queria brincar.

Mas você é competitiva? Ficou chateada ao perder?

Eu fico competindo comigo mesma. Não vou mentir, não gosto de perder. Mas acho que tenho uma relação saudável com isso, não me aflige. Eu dou o meu sangue até o fim.

Aceitaria participar de um outro estilo de reality, o “Big Brother Brasil”?

Aí também é demais (risos)... Talvez a minha saúde mental não suporte. Seria muito tempo confinada, eu nem sei o que passaria pela minha cabeça. Neste momento, não me chamem, não tenho vontade. Mas eu nunca digo nunca, amanhã posso acordar e querer estar lá.

Como tem encarado a responsabilidade de manter a audiência em alta após o sucesso de “Pantanal”?

É bom porque “Pantanal” já entrega pra gente uma audiência aquecida. A missão é segurar assim. Mas “Travessia” é tão boa, tão bem conduzida, que eu só tenho que exercer o meu papel e convencer. Com novela da Gloria, é muito difícil dar ruim. A história da minha personagem é muito boa, real, atual... Estou torcendo para que dê certo e eu consiga tocar as pessoas. É sobre isso, aliás. A missão maior é fazer quem está do outro lado da tela se identificar e/ou se emocionar.

Na novela, Brisa vai formar um triângulo amoroso com Ari (Chay Suede) e Oto (Romulo Estrela). Já aconteceu com você ficar dividida entre dois amores?

Não... Só mesmo na ficção. Eu ainda não sei o que vai acontecer com Brisa e Oto. Vamos ver no que vai dar desse encantamento dos dois. Estou curiosa pra saber também.

Ari trai Brisa com Chiara (Jade Picon). O que você pensa sobre fidelidade?

Já fui corna e já traí. Acho que tudo depende dos acordos. É preciso combinar com a pessoa com quem você está, não existe regra.

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