Alejandro Claveaux
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Alejandro Claveaux

Coragem/ não dá pra ser feliz existindo só pela metade/ Cria coragem/ que nenhuma mentira vai te proteger da verdade”. Os versos, da canção “Coragem”, hit de Deivid Cafajeste, mostram o drama vivido pelo sertanejo interpretado pelo ator Alejandro Claveaux, na série “Rensga Hits”, do Globoplay. Na trama, o astro se envolve com seu segurança pessoal e, apaixonado, não sabe como tornar público esse amor, realidade bem diferente da de seu intérprete.

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“O papel chegou muito bem para mim porque sei do que estou falando. Já namorei mulheres, homens, e vivo minha vida como quero. Sou livre e não tenho de ter um rótulo”, afirma ele, mostrando-se à vontade ao falar sobre a sexualidade e o atual relacionamento com um empresário.


Com uma carreira extensa na TV — ele encerrou em junho sua participação na novela “Cara e Coragem”, além de já ter no currículo mais de 30 trabalhos na TV, teatro e cinema —, Alejandro enfrentou com garra a descoberta de um tumor na laringe durante a preparação para a série, antes mesmo de iniciar as gravações. Segundo recomendação médica, o ator deveria fazer uma cirurgia com urgência, mas optou por aguardar. “Foi um momento horrível, mas se operasse, não poderia falar ou cantar por um tempo. Decidi arriscar pela urgência que a gente tem em falar sobre o afeto entre homens e mulheres”, conta.

Quatro meses depois, ao final dos trabalhos, Alejandro operou e descobriu que o tumor era benigno, mas entende o risco que assumiu. “Se eu não descobrisse a tempo, poderia se transformar em algo pior. A série salvou a minha vida.” Confira os melhores trechos da entrevista concedida pelo ator via Zoom, durante quase duras horas.

Quais foram suas referências e o seu maior desafio para dar vida ao Deivid?

Me inspirei nessa coisa forte e carregada da música e da melodia sertaneja, de cantar para a câmera, fazer carão e falar de sentimentos botando a mão no coração. O sertanejo é muito potente e tem muito material para pesquisar, desde a época da moda de viola, passando pelos anos 1990, até o sertanejo universitário e o feminejo... Acho que o maior desafio foi essa coisa dos agudos, de cantar um tom acima, falar e expressar a dor, o sofrimento. E também cantar e dançar ao mesmo tempo, tem que ter muito fôlego.

Você teve problemas de saúde durante as gravações da série. O que aconteceu exatamente?

Todos os atores que cantavam tiveram que fazer uma laringoscopia, para ver como estavam as cordas vocais, e eu descobri que tinha um tumor na laringe. Segundo o médico, deveria fazer uma biópsia e tirá-lo o mais rápido possível, porque poderia ser muito grave. Mas eu ia começar a fazer as aulas de canto e, se fizesse essa cirurgia, teria que ficar um tempo sem falar ou cantar, e eu disse que iria terminar o trabalho primeiro. Assumi o risco.

Não teve sintomas?

Jamais! Mesmo se a série fosse ruim, ela salvou minha vida, porque eu nunca iria fazer esse exame, e o médico disse que esse tipo de tumor não dá sinal. Quando você vê, já foi.

Como ficou o seu emocional durante o período de gravações?

Foi um momento horrível, estranho. Assisti ao documentário do Val Kilmer (o ator de 62 anos foi diagnosticado com um câncer na garganta em 2014 e atualmente precisa da ajuda de um aparelho para falar) e surtei, mas não deixei transparecer. Imagina a tragédia que é para um ator não poder falar? Vivemos uma tragédia com esse governo que incita o ódio, o Brasil é um dos países que mais mata a população LGBTQIAP+, então, queria fazer isso do meu jeito.

Já vivenciou sua sexualidade fora da heteronormatividade?

Óbvio, desde criança. Já namorei mulheres, homens, e vivo minha vida do jeito que quero. Todo mundo sabe e está tudo bem, e se não estiver, o problema é de quem não se conhece e não se experimenta. A gente vai morrer daqui a pouco, o tempo é curto, nós vivenciamos isso com a pandemia. Como você não vai viver o que você é, como não vai viver os seus prazeres?


Se encaixa em alguma das letras da sigla LGBTQIAP+?

Cinco anos atrás, eu estava tentando entender a questão do homem bissexual, mas hoje não tem nomenclatura, você pode me chamar da pior coisa, que para mim vai ser a melhor. O que esse governo fala que é o pior? Se ser gay é o pior, então, eu sou gay. Mas eu quero ter a liberdade de me apaixonar por homens e mulheres,

Você é bem incisivo ao se posicionar contra o governo. Já teve medo de ser cancelado?

Hoje em dia, não. Quando me posicionei, perdi 120 mil seguidores (ele tem 317 mil no Instagram), mas depois ganhei muito mais. Após verem o que aconteceu nesse governo, as pessoas foram mudando. Nunca vou deixar de falar sobre política, porque política e arte estão completamente ligadas.

Hoje é mais fácil para os artistas assumirem a própria sexualidade?

Sim, mas isso pode ficar um pouco na bolha, e é mais fácil para quem já é conhecido; para quem ainda está começando, pode ser uma questão. A gente tem que naturalizar afeto, carinho e amor, e não o que a gente vê no jornal, crimes, homofobia, fascismo. Mas sei que é difícil falar em um lugar em que os homens não conhecem a própria próstata, o seu ponto de prazer. Os homens heterossexuais têm o mesmo prazer e podem passar uma vida inteira sem conhecê-lo. E a gente vê essa potência do feminismo acontecendo, e os homens não conseguem alcançar esse lugar. A partir desse autoconhecimento, posso me relacionar com mulheres e homens incríveis que vão entender o homem que eu sou. No mundo ideal, as pessoas se amariam sem pensar em gênero.

Considera-se um homem feminista?

Fui criado num ambiente machista e é difícil falar sobre isso, mas tento ouvir o que as mulheres têm a dizer. As personagens e as atrizes dessa série, como Alice Wegmann, Lorena Comparato, Deborah Secco, são geniais, são mulheres feministas e é um grande acerto. Tento ver para onde vai esse macho que tenho dentro de mim, esse cara que estou tentando desconstruir.

Como é estar no ar com dois personagens tão diferentes, como em "Cara e Coragem" e "Rensga Hits?"

O Samuel, da novela, é um pescador, mais misterioso e com estilo de vida mais simples, sem vaidade. Dividi o set com a Taís Araujo e foi uma alegria, muito leve e divertido, existe uma conexão no nosso olhar. Já o Deivid é uma estrela, tem o poder de dominar o palco, é sedutor. Esse é o barato da profissão, viver personagens distintos com particularidades únicas.

O hit do seu personagem na série se chama "Coragem". Para o que a gente precisa ter coragem hoje em dia?

Tive que ter muita coragem pra chegar aqui e conversar sobre isso tudo, falar de mim e das minhas experiências. Hoje a gente tem que ter coragem para acordar. A partir do momento que a gente levanta da cama, tem que enfrentar esse mundo, que não é fácil, e tem tanta coisa acontecendo: guerra, pandemia, essa urgência das redes sociais, coisas que te tomam tempo e você acaba não vivendo a realidade. A coragem maior é parar e descobrir o seu sonho e a sua vontade, e ir atrás do que você quer.

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