Cauã Reymond é protagonista do filme 'A Viagem de Pedro'
Reprodução/Instagram - 01.09.2022
Cauã Reymond é protagonista do filme 'A Viagem de Pedro'


Às vésperas do bicentenário da Independência e em meio às polêmicas comemorações, como a vinda do coração de Dom Pedro I ao Brasil, estreia nos cinemas nesta quinta-feira "A Viagem de Pedro", retratando justamente o translado de ida do imperador para Portugal. Cauã Reymond dá vida ao protagonista, retratando um período de saúde mais fragilizada do imperador, quando ele enfrenta problemas que impactam, inclusive, sua agitada vida sexual.

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O longa-metragem se passa justamente entre a então capital Rio de Janeiro e Portugal, a bordo de uma embarcação nas águas do Oceano Atlântico. Na busca de disputar o trono português com o irmão Dom Miguel, Pedro é representado mais "desconstruído".


— O meu primeiro personagem foi Dom Pedro, na terceira série (da escola), quando eu nem sabia que queria ser ator, (retratado) muito herói, muito macho — relembrou Cauã Reymond, que compara o papel à sua interpretação em "A viagem de Pedro": — Achei muito interessante trazer várias camadas de desconstrução desse personagem.

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Com uma vida sexual bastante ativa retratada no filme, como o romance com Domitila de Castro, sua amante, a famosa Marquesa de Santos, Dom Pedro registrou uma dezena de filhos, inclusive os fora do casamento com a Imperatriz Leopoldina. No longa, isso contrasta com os problemas de saúde do imperador:

— Um Dom Pedro totalmente frágil, com elementos que a gente traz: a sífilis, a epilepsia, que leva ele à questão da impotência sexual — narrou o protagonista, que aparece nu em algumas cenas, inclusive frontalmente, ao ser examinado por um médico. O personagem histórico chega a questionar como conseguirá vencer a disputa pelo trono com "pau mole".

Pedro, 'um homem tóxico'

O filme é lançado no mesmo momento em que o coração de Dom Pedro veio de Portugal ao Brasil, contrariando um pedido do próprio imperador, que seria deixá-lo na cidade do Porto. Para a diretora Laís Bodanzky, a obra serve para "questionar as estátuas":

— A História oficial brasileira foi escrita o tempo inteiro com interesse de determinado ponto de vista, normalmente de quem tem o poder político e econômico — explica, completando que a efeméride do bicentenário da Independência foi uma coincidência: — Apesar de ser sobre o Dom Pedro e não ter a ideia de reverenciar a esse que seria um herói, a gente nunca fez pra ser lançado agora: aconteceu.

Com espaço para debater temas como o machismo estrutural, Laís teria sido convidada a dar destaque a esse ponto de vista.

— Quando eu aceitei o convite, veio junto um comentário do Cauã, que eu emprestasse meu olhar como mulher. Olhar para o passado, com um olhar atual, e entender que este Dom Pedro era um homem tóxico. Naquela época, 200 anos atrás, o que era esperado com essa estrutura patriarcal, machista: um opressor de gênero e de raça também.

O racismo, que é retratado através dos personagens negros que têm espaço para contar suas histórias na embarcação. Se eles têm a oportunidade de contar uma "história que a História não conta", como canta o recente samba enredo da Mangueira, uma das atrizes questionou o desfecho de sua personagem.

— Eu estava passando mal, (precisava) encontrar uma solução para essa mulher que fala de liberdade, de maneira muito tranquila, de sexualidade, do gozo da mulher, de como é considerado sagrado em algumas culturas africanas — explica Isabél Zuaa, que interpretou Dira, uma mulher negra, serviçal e que "conduz o Dom Pedro ao prazer", como destacou Cauã Reymond.

A última cena retrataria um castigo final à personagem, o que mexeu com Isabél e a fez sugerir mudanças no roteiro: — Vendo as algemas no set, fiquei pior. Aquilo não fazia sentido, foi um chororô. Falei para a Laís (diretora): "Você não queria fazer algo diferente?", e a gente fez — conclui.

Com retratação de outros idiomas para além do português, o que seria uma realidade daquele momento do Brasil, segundo a própria diretora, "A Viagem de Pedro" — que conquistou os trófeus Cristo Redentor de melhor diretora (Laís Bodanzky) e melhor ator coadjuvante (Sergio Laurentino); e o de melhor filme da América no Septimius Awards, em Amsterdã — estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 1º de setembro.

+ O "AUÊ" é o programa de entretenimento do iG Gente. Com apresentação de Kadu Brandão e comentários da equipe de redação, o programa vai ao ar toda sexta-feira, às 12h, no YouTube, com retransmissão nas redes sociais do portal.


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