Alice Wegmann avalia sucesso de 'Rensga Hits'
Reprodução/Instagram - 08/04/2022
Alice Wegmann avalia sucesso de 'Rensga Hits'


Alice Wegmann confessa: tremeu na base diante da popularidade recém-conquistada. A atriz de 26 anos tem 15 de carreira, oito novelas, quatro séries e um tanto de peças de teatro no currículo, mas ainda não tinha experimentado a projeção que a cantora sertaneja Raíssa, protagonista de “Rensga Hits!”, lhe trouxe. Desde que a série estreou no Globoplay, no início do mês, não param de chover convites para participações em programas de TV, tem público cercando a artista na rua e as músicas da personagem, como “Desatola bandida”, estão na boca do povo.

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Diante dessa realidade, Alice se assustou. Teve receio de perder o cotidiano zero glamouroso, os amigos de vida inteira, o juízo. Quem fez a ficha cair foi seu namorado, Dudu Borges. Os dois se conheceram nos bastidores desse trabalho. Ele é produtor musical e carrega a experiência de quem trabalhou com estrelas do porte de Rick Martin, Ivete Sangalo, Michel Teló, Luan Santana, Jorge Ben Jor, Fabio Jr., entre muitas outras. Acostumado a ocupar o topo das paradas sem se deixar deslumbrar, Dudu tocou a real para Alice.


— Ele disse: “Você está há 15 anos se dedicando pra caramba. O que realmente mudou? É a mesma Alice de sempre”. E sou mesmo. A convivência com o Dudu, que já “hitou” um monte de artistas, me ajudou a entender esse lugar — conta ela. — A série me trouxe uma dimensão que nenhum outro trabalho tinha me dado. Tive medo do sucesso.

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Outra novidade que veio com a personagem foi a leveza. Acostumada a papéis densos, como a Maria de “Onde nascem os fortes” — que a projetou e a fez ser considerada uma das maiores atrizes de sua geração —, e a Dalila, de “Órfãos da terra”, Alice experimentou, pela primeira vez, uma atmosfera que une melodrama e humor. Não que Raíssa não tenha lhe imposto desafios. Cantar foi o maior deles, segundo a atriz, que se viu numa posição de vulnerabilidade comparada a “ficar pelada na frente do Brasil inteiro”, brinca. Prova da tensão que enfrentou é o bigodinho suado que lhe toma o rosto toda vez que ela surge em cena soltando a voz.

Espontaneidade

Mas a carga dramática que a atriz sempre injetou nos tipos que vem interpretando ao longo de sua trajetória, desta vez, deu lugar à espontaneidade e ao carisma que caracterizam Raíssa. São traços que a aproximam de sua intérprete, conhecida por ser divertida, comunicativa e dona do um sorriso iluminado que virou marca registrada da personagem.

— É fácil se identificar com a Raíssa. A persistência dessa garota é o que o brasileiro é. A gente está sempre se ferrando, mas busca saídas, melhorias. Raíssa está na lama, mas segue sonhando, acreditando — analisa. — Com a Maria, de “Onde nascem os fortes”, eu chorava em 98% das cenas. Foram 53 capítulos com força total, ela sofria muito, mas não havia esse carisma da Raíssa. Faltava a leveza que aprendi nesta série. Queria uma coisa mais solar.

Lidar com essa energia ajudou em um processo pelo qual Alice vinha passando: o de aprender a lidar de um jeito menos doloroso com o fim de suas personagens.

— Você vive aquela vida, exercita coisas dentro de você, há todos os outros personagens em volta e, de repente, tem um corte. É como se a sua melhor amiga tivesse morrido. E é difícil enterrar!

Para se ter uma ideia, quando a atriz terminou “Onde nascem os fortes” precisou recorrer à terapia.

— Ficou um buraco, um vazio que não sabia como preencher. Vivi um luto, uma fase de depressão. Engordei 12 quilos. Fiquei seis meses com dificuldade de voltar — lembra. — Com a terapia, entendi que não precisava sofrer tanto, havia outras coisas pela frente. Com a Raíssa, veio uma mudança gostosa. Antes eu ficava numa angústia... Não conseguia curtir os frutos do trabalho. Agora estou conseguindo receber esse reconhecimento.

Não foi apenas essa chave que Raíssa virou. Para interpretar o papel, Alice precisou engordar cerca de oito quilos. Quando se viu exuberante na tela, a atriz gostou daquela imagem. Algo impensável uns anos atrás, quando desenvolveu transtornos alimentares. Tinha cerca de 15 anos e crises de ansiedade toda semana. Evitava usar camiseta com vergonha do próprio corpo.

— Acho que teve a ver com o medo da exposição e com a minha sexualidade, de não me conhecer inteiramente. Também tinha o esporte... — explica ela, que, na época, também era atleta (ginasta) e vivia uma eterna cobrança em cima de seu peso. — Foi muito bom agora me achar linda assim. Tinha tantas questões com isso... Agora, quando eu me vi, pensei: “Que força! Por que era tão encucada com esse tipo de coisas?”. Pela primeira vez, fiquei confortável com isso.

Busca por autoconhecimento

Alice não arrisca dizer que está curada da compulsão alimentar, mas hoje se sente mais confortável dentro da própria pele. Muito graças ao maior alcance de movimentos de conscientização.

— Posso falar que me sinto bem mais livre do que há um, dois, dez anos. Estamos chegando num lugar de menos preocupações com coisas rasas e concentrando em outras mais maduras — acredita. — Mas aprendi que nunca vamos esquecer nossos traumas. Aprendemos é a lidar melhor com eles. E, aí, procuro pensar no que fazer daqui pra frente, em quem eu quero ser, no que me dá prazer.

Se conectar a novos prazeres foi um dos aprendizados colhidos na pandemia.

— A coisa da comida tinha a ver com eu não saber do que gostava. Sempre estava fazendo muita coisa o tempo todo. Era um desespero por preencher. Na pandemia, parei. Entendi o que é não fazer nada, percebi que posso pegar um livro, tomar um banho quentinho.

Canalizar a espiritualidade também foi fundamental. Alice diz que sempre foi uma menina de fé, mas não sabia direito no que acreditava. Se encontrou na umbanda. Mas segue explorando outros terrenos. Frequenta igreja católica, terreiros de candomblé, centros budista e espírita.

— Achei um lugar para me cuidar que tem muito de tudo isso. No fim, acho que tudo fala da mesma energia. Quando comecei a praticar, senti que isso está atrelado ao mesmo objetivo de quando a gente busca um analista: o autoconhecimento para se melhorar e melhorar o mundo.

Força de vontade para isso ela tem de sobra. Alice é focada. E diretona. Chegou chegando no atual namorado. “Fui para cima mesmo”, assumiu, na festa de lançamento de “Rensga hits” — que, após ter a melhor semana de estreia de uma série de ficção em usuários únicos, já está com gravações marcadas para 2023. A partir daí, atriz passou a viver na ponte aérea e virou madrasta de três crianças.

— Não imaginava isso, assim, tão cedo (risos), mas não foi uma questão. Desde a primeira vez em que fiquei com o Dudu, sabia que ele tinha três filhos. Gosto de ver a relação dele com os meninos — diz. — Ninguém é madrasta pronta, né, estou aprendendo todos os dias. E gostando muito. Criança traz renovação e questionamentos.

A firmeza para correr atrás de suas escolhas, Alice credita ao esporte. A frustração diante de exercícios imperfeitos lhe deu persistência para jamais desistir nem se acomodar. Lição que ela levou para a vida. Filha de uma professora de educação física e de um engenheiro de produção, que a criaram na rédea curta, a carioca estudou no Santo Inácio, colégio tradicional do Rio. Teve também o tempero da avó paterna, contadora de histórias de quem a neta puxou a veia artística. O teatro foi consequência. Alice se formou no Tablado (e também em Comunicação, na PUC).

— Tudo isso deu na Alice que sou hoje, uma grande mistureba — define.

+ O "AUÊ" é o programa de entretenimento do iG Gente. Com apresentação de Kadu Brandão e comentários da equipe de redação, o programa vai ao ar toda sexta-feira, às 12h, no YouTube, com retransmissão nas redes sociais do portal.


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