Aos 12 anos Vínicius de Oliveira deu vida a Josué, no Central do Brasil
Reprodução: divulgação
Aos 12 anos Vínicius de Oliveira deu vida a Josué, no Central do Brasil


Há 25 anos um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro, o “Central do Brasil”, era gravado. Dirigida por Walter Salles, a trama narra a história de Dora que ajuda Josué na busca da família biológica, depois da morte trágica da mãe do menino.

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Após a estreia, em 1998, o filme se tornou um marco na categoria, recebeu indicação ao Oscar, e conquistou o Urso de Ouro em Berlim como melhor filme, além do Globo de Ouro. Atualmente, “Central” está presente na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, segundo a Associação Brasileira de Críticos no Cinema. 


25 anos depois, Vinícius de Oliveira, que deu vida a Josué, avalia o trabalho com surpresa. Segundo ele, foi só nos últimos anos que “caiu a ficha” de que protagonizou uma das obras mais importantes do cinema nacional. Até os dias atuais as pessoas marcam o ator nas redes sociais e comentam sobre o filme e, com isso, ele consegue entender que fez parte de um sucesso absoluto.

Na época da gravação, Vinícius tinha 12 anos e não pensava em ser ator. Inclusive, ele nunca tinha ido ao cinema. Vinícius morava com a mãe e os irmãos no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, e trabalhava como engraxate no aeroporto Santos Dumont para ajudar a família.

Certo dia, Vinícius pediu dinheiro a um homem, que por coincidência era Walter Salles, o diretor de “Central do Brasil”. A ousadia do garoto chamou a atenção do diretor, que não teve dúvidas de que Vinicius era o menino que ele tanto procurava para viver Josué. Vinicius foi escolhido entre 1500 garotos.

Com
Reprodução
Com "Central do Brasil" Fernanda Montenegro foi indicada ao Oscar - na foto ao lado do então menino Vinícius de Oliveira


A vivência para ser Josué

Para o ator, a malícia de ser um garoto de comunidade que já trabalhava desde cedo foi a vantagem diante dos demais atores.

“Na favela, com 11 anos, a gente fica não só mais esperto, como também cria um olhar mais aguçado para a vida, sabe, por a gente ser rodeado por muitas questões. Então, a criança da comunidade da favela que vive na rua tem isso. Acaba criando essa malandragem, acaba criando essa coisa um pouco mais adulta, deixa um pouco a infância do lado, consegue debater de igual com um adulto na questão da marra, na questão de discutir", avalia.

"Na questão de não dar moleza, então, de uma certa forma, eu tinha isso ali em mim e acabou servindo para Josué e foi perfeito, né? A rua me trouxe a malícia para ser Josué”, explica Vinícius.

A vida do garoto mudou completamente. Ele passou meses viajando pelo Brasil ao lado de Fernanda Montenegro. Se por um lado foi bem interessante, inclusive, financeiramente para família, por outro, o jovem Vinícius sentiu dificuldades em se adaptar a um cenário de gravação constante e com pouco espaço para brincadeiras.

“Tinha toda essa cobrança que às vezes eu achava um saco, porque eu não entendia, não tinha noção daquele processo. Não sabia o que estava fazendo direito. Sentia saudades de casa, sentia vontade de brincar, de jogar  futebol. Às vezes não deixavam eu fazer nada no set, eu ficava puto”, relembra.

O ator entrega um episódio onde foi proibido de jogar futebol com a equipe dos bastidores. Irritado com a negativa, ele fez uma “greve de gravação”.  “Fiquei um tempão para ser convencido a voltar a filmar, viu?”, conta, rindo. A gravadora deu todo o apoio financeiro para o ator, tanto na escola como na faculdade e ainda auxiliou os irmãos dele.

Eternamente Josué

Além de Josué, Vinícius já deu vida a vários personagens. No entanto, o menino do “Central do Brasil” jamais é esquecido. Segundo o ator, teve um momento em que ele cansou da lembrança constante. 

“Uma vez deu no saco, tanto que parei de dar entrevistas para as pessoas, sempre eram as mesmas perguntas. As mesmas coisas que todo mundo já sabe. Deu uma cansada e aí fiquei um tempinho nisso. E aí até que retomou enfim  a coisa de ‘Central’, principalmente depois de 20 anos, né? E aí começou a retomar uma euforia de falar do filme”, explica.


Com as pazes feitas, Vinícius olha para o ‘Central’ com orgulho e reafirma que tinha cansado das entrevistas e não do público, que sempre o tratou com carinho e compartilhou com ele visões e emoções do filme. Se não fosse por Josué, o ator contou que gostaria de ser lembrado por “Malaquias”, personagem que viveu na série “Unidade Básica”, disponível na Globoplay.

Atualmente, Vinícius está no ar na série “Não Foi Minha Culpa”, lançada na última semana na Star+, e se prepara para estar em outras produções que devem pintar no final de agosto e nos próximos meses no streaming. 

Um novo final de Central do Brasil

É evidente que o fim do “Central do Brasil” é um desfecho necessário e que dá todo o tom à genialidade da obra. No entanto, o iG Gente convida o ator para pensar em um novo final para o filme, que ele consideraria ideal. A obra termina após Josué encontrar a casa da família biológica. Ele é deixado por Dora (Fernanda Montenegro), mas não realiza o sonho de encontrar o pai, só os irmãos.

Paula Prandini
"Central do Brasil"

O ator opinou que deveria ter pelo menos aparecido essa figura masculina do pai que foi tão buscada. “Nunca parei para pensar se eu mudaria alguma coisa no ‘Central’ e, enfim, pensando agora, talvez colocaria a figura do pai. Em algum momento, não sei no Rio de Janeiro, voltando para casa. Tipo a Fernanda voltando para o Rio e o pai para o Nordeste”, considera. 


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