Tiktoker expõe paternidade na web
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Tiktoker expõe paternidade na web

Aos 19 anos, Guilherme Costa teve que superar a loucura da vida universitária e se dedicar para o que estava prestes a acontecer na vida dele. A pequena Ana Beatriz viria como fruto da relação do jovem com a namorada Fabiana.

Após quase dez anos do nascimento da primogênita, a vida lhe prepararia outra surpresa. Desta vez, em dose tripla. Quem vê o perfil de Guilherme no TikTok, onde tem mais de um milhão de seguidores no @Guieasmeninas, se questiona sobre como um rapaz de 31 anos compartilha tão bem a paternidade ao lado das quatro filhas: Ana Beatriz, de 12, e as trigêmeas Luísa, Mariana e Isabela, de três anos.


Amadurecimento

Vivendo a vida de universitário, com festas e curtição, Guilherme era um rapaz comum. Ao entrar na faculdade ganhou um carro, não precisava trabalhar e aproveitava o tempo livre com os amigos e a namorada.

"Foi uma mudança de realidade muito grande para mim, porque eu costumo dizer que eu era um cara muito irresponsável, eu era um cara que fazia faculdade, que não trabalhava, para mim não passava pela minha cabeça trabalhar, porque meu pai me dava tudo de tudo", relembra.

Na época, Guilherme já se relacionava com a mãe das meninas, mas o plano de ser pai nem passava pela cabeça. "Eu tinha um relacionamento muito bom com a Fabiana, mas a última coisa que eu pensava naquele momento era em ser uma pessoa séria ou criar um futuro".

Quando Fabi contou que estava grávida, tudo mudou. Desde aquele momento, ele soube que precisaria mudar de vida e, no percurso, outra pessoa renasceria com a chegada de Ana. "Os meus amigos até ficaram bravos comigo, estressados, porque eles falavam 'cadê o Guilherme que a gente tá acostumado? Que saía de segunda a segunda'", relembra.

Deixar de ir às festas e levar a faculdade a sério fez com que ele percebesse estar envolto de pessoas que já não eram compatíveis com a nova realidade. "Percebi que naquele momento eu não estava vivendo mais por mim. Eu estava começando a viver por outra pessoa, por um serzinho minúsculo que estava dentro da barriga da Fá e aquela minha vida egoísta e aquele cara irresponsável não poderiam existir mais", recorda.

Assim que Aninha nasceu, Guilherme, que nunca havia trabalhado, passou a cumprir carga-horaria de até 18 horas. "[O nascimento da Ana] me evoluiu com pessoa, então, agradeço muito por isso ter acontecido comigo", comenta Guilherme, que diz ter passado a ver a vida de maneira mais positiva. 


Montanha-russa

Oito anos após o nascimento de Ana Beatriz, o casal passou a considerar ter outros filhos. Já formados na graduação, com maior estabilidade e experiencia na vida como pais, Guilherme e Fabiana acharam um bom momento para o crescimento da família.

Fabiana tem uma irmã gêmea e, na época, a irmã tinha recebido um diagnóstico de câncer de mama. Devido isso, a mulher de Guilherme foi recomendada a deixar de usar a pílula anticoncepcional e buscar outro método de controle de natalidade. Sendo assim, o casal afrouxou os cuidados durante as relações. 

Fabiana notou o atraso do ciclo menstrual e confirmou a gravidez com o teste de farmácia. Feliz, o casal mal podia esperar para dar início à preparação da chegada de mais um filho.

Surpresa em dose tripla

No exame que mede os hormônios da gravidez, o beta HCG, Fabi estava exibindo números altíssimos, o que fez o médico apontar que ela já estaria em um período avançado da gestação. O profissional, então, recomendou um exame de imagem para ver o bebê, no entanto, ao realizar, foi verificado que não havia feto no útero dela.

"O médico falou 'o teu exame de sangue deu que você estava grávida, seu Beta HCG está alto, mas como não tem criança na sua barriga, você perdeu o neném'", relembra Guilherme, relatando a tristeza que sentiu.

Como Fabi comentou com o médico não ter tido nenhum sangramento, o profissional recomendou que ela voltasse ao hospital dois dias depois. No retorno, os níveis de hormônio triplicaram. "O médico falou 'vamos fazer a imagem novamente porque agora nós vamos achar um bebê aí dentro, esse bebê está escondido em algum lugar e o cara da ultrassonografia que não está achando".

Exames feitos e, novamente, os médicos não acharam o bebê no útero de Fabi. Veio, então, outra 'bomba', os médicos apontaram ser uma gravidez ectópica, quando o embrião se forma na trompa da gestante, fazendo com que, uma hora, a estrutura se rompa, causando uma hemorragia na grávida e impedindo a gestação completa do feto.

Devido à complexidade da situação, o médico indicou Fabi para uma cirurgia de retirada do feto, já que nem ela e nem o bebê sobreviveriam à gravidez. O casal teve que passar a noite no hospital, já que, na manhã seguinte, Fabi iria operar. A situação mudou quando uma médica resolveu analisar mais precisamente o caso. Ao notar duas bolinhas bem pequenas no exame de imagem, a doutora sugeriu ser uma gestação gemelar, um caso de gêmeos, ou então, o aparecimento de cistos. "A gente estava naquela montanha-russa de alegria, tristeza, desespero, alegria, esperança de novo", conta Gui.

Depois de 15 dias em observação, vendo se ela sentiria alguma dor ou sangramento, o casal voltou ao hospital. Realizados os exames, eles perceberam uma movimentação agitada por parte dos profissionais. 

"Qual tratamento vocês fizeram?", questionou uma das médicas ao casal. Ainda sem entender o que estava acontecendo, Gui e Fabi, que não fizeram tratamento, foram surpreendidos com a notícia: não era uma caso de aborto espontâneo, nem gravidez ectópica e nem gemelar. Era trigemelar, eles seriam pais de trigêmeas.

"Naquele momento a Fabiana ficou desesperada. Ela fala que ficou uns dois meses em estado de choque, e, provavelmente, eu acho que a maioria das pessoas é assim. Ela pensou: 'como que eu vou ter três crianças na minha barriga? Como é que nós vamos pagar a escola para três crianças? Como é que nós vamos alimentar quatro crianças?'. Ela pensou tudo isso e a única coisa que eu pensava e penso até hoje é que todo dia eu acordo e, quando vou andar, tem quatro coisas andando atrás de mim", comenta, emocionado. 

Apesar de encarar sempre pelo lado positivo, ter três bebês de uma vez exige bastante organização financeira e preparo físico. "Eu tenho 30 anos, mas a minha coluna é de 60, de tanto peso que carrego todo dia, então, é muito cansativo, estressante, mas o amor que essas princesas me dão todo dia me faz esquecer essas coisas", reflete.


A vida de influenciador e redes sociais

Guilherme e Fabiana não eram lá muito fãs de redes sociais, Fabi, ainda hoje, não gosta muito de aparecer, se diz tímida. Mas pouco tempo após o nascimento das trigêmeas, Guilherme recebeu uma sugestão que mudou a vida dele e da família. 

"Você é muito comunicativo, muito engraçado, e quatro filhos, ainda mais trigêmeos, hoje em dia é muito raro de acontecer. Você tem que criar um Instagram para contar a vida de vocês", apontou o médico pediatra das filhas. 

Com quatro filhas para sustentar, Guilherme só pensava em "preciso trabalhar, vou mexer com isso para quê?!". Mas a insistência do médico o fez criar uma conta. Aos poucos o perfil no Instagram foi crescendo e ganhando cada vez mais curiosos sobre a vida de uma família com trigêmeas. Mas o divisor de águas foi o TikTok. 

Assim que o Guilherme começou a postar vídeos das meninas, do dia para a noite, o perfil já contava com mais de 100 mil visualizações e, em pouco tempo, chegaram 500 mil novos seguidores.

Quando as trigêmeas estavam com 6 meses, Guilherme passou a ser influenciador com parceria com uma das maiores empresas de produtos para recém-nascidos e crianças. Desde então, alguns itens básicos, como fraldas, ele tem recebido sem custos.

Embora o retorno financeiro do trabalho nas redes sociais não dê para aposentar Gui e Fabiana dos respectivos empregos, ele conta que, através das plataformas e parcerias, o retorno já é um bom complemento da renda familiar.

As redes sociais também fizeram Guilherme ter um conflito em relação a carreira profissional. Ele, que é executivo de contas e lida com clientes importantes ao redor do mundo, precisou de um tempo para refletir se a exposição pública prejudicaria o trabalho.

"Eu pensava: 'cara, e se um cliente me vê na internet fazendo brincadeirinha com as minhas filhas? Não, não posso fazer isso não, meu dia a dia é estar de gravata aqui", relembra.

O conflitou durou até Guilherme avaliar estar fazendo um conteúdo bacana para as redes. "O que eu estou fazendo aqui é coisa boa, estou brincando com as minhas filhas. É coisa legal. Não preciso ficar com vergonha ou com receio, com medo de que isso vá gerar algo negativo para o meu trabalho".

@guieasmeninas Estar presente com as meninas não tem preço!! Crianças se divertem com pouco, basta ter criatividade e vontade 😍 #fy #fyp #triplets #trigemeas #guieasmeninas ♬ Happy Music - Mystix Instrumentals


Hate e as consequências da vida pública

Se engana quem pensa que por ser um perfil familiar, sobretudo de crianças, a conta fique isenta de hate e comentários ofensivos. Na terra de palpites e perfis fakes, as pessoas não temem em ser desagradáveis. Guilherme conta que até chegou a repensar a exposição da família após receber criticas desproporcionais.

"A gente postou um vídeo da Isabela, eu acho que ela empurrou a Mariana ou ela tomou o celular, algo assim, e ela tinha um ano e meio", conta.

"Não tem no mundo coisa mais pura do que uma criança, então elas tretam todo dia aqui e a gente posta de vez em quando as tretas. E aí recebemos alguns comentários negativos de hate com a Isabela", diz o pai.

Naquele momento, Guilherme pensou em fechar o perfil e deixar de postar vídeos das meninas. Ele e Fabiana ficaram muito mal com a repercussão e os comentários negativos.

"[Pensei] não é possível que existem pessoas que pensam desse jeito e que atacam uma criança. A gente tem que ignorar. Isso são pessoas que não conhecem, provavelmente nem tem filho, não sabem o que é criança. Então, assim, existe uma dificuldade de processar comentários negativos", analisa.

Do outro lado, existem as pessoas boas com relatos emocionantes e são nelas que a familia se apegam ao criar o conteudo digital. 

"Tem uma senhora que mandou um 'oi, tudo bem, eu sou brasileira, moro no Japão e tenho uma doença terminal, não sei mais quantos meses eu tenho de vida, os médicos estipulam entre seis a oito meses e a alegria da minha vida é acessar a página de vocês e ver as meninas'. Então, como é que eu reajo aos haters? Eu foco nas pessoas que transmitem amor para gente", aponta.


Pai de meninas e a paternidade no Brasil

Guilherme ainda analisa o que mais teme na criação das quatro filhas. "O maior desafio é o que o mundo vai impor para elas, e minha maior preocupação é que o mundo é muito machista".

Neste ano, o Brasil atingiu o maior número de bebês sem o registro dos pais desde 2018.  O levantamento realizado pelos Cartórios de Registro Civil do Brasil (Arpen), mostra que, no primeiro semestre deste ano 86.610 bebês nascidos não têm o nome do pai nos documentos. 

Sendo a paternidade um tema problemático no Brasil, Guilherme reflete a questão do abandono. "É uma coisa muito decepcionante porque os homens que fazem isso não têm noção do quão positivo e maravilhoso é você ter um filho. As pessoas são muito rasas nos relacionamentos que criam. A base do ser humano é ter relacionamentos, e o relacionamento mais bonito que existe é entre pais e filhos. O amor mais puro que a gente pode ter é de um filho", finaliza.

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