Valéria Almeida, que está no comando do quadro "Bem Estar", no "Encontro", ao lado de Michelle Loreto, avalia que a Globo mudou muito nos onze anos que completa trabalhando na emissora. Valéria faz parte dos quatro apresentadores negros das "Super Manhãs da Globo", ao lado de Rita Batista, Manoel Soares e Thiago Oliveira e analisa a representatividade na TV.
Para a jornalista, a diversidade racial nas telas é reflexo das mudanças internas da emissora. Ela sente que os núcleos de diversidade da empresa ajudaram a construir o novo cenário do elenco de apresentadores.
"Quando eu penso, vejo que, de quando comecei para hoje, melhorou muito. Eu era a única negra em uma equipe de 20 pessoas ou tinha mais uma pessoa comigo. Hoje, na redação, vemos repórteres, produtores e diretores negros que, desde o primeiro momento, pensam, escrevem e apresentam conteúdo na Globo", pontua.
Ela sente que é um prazer viver esse momento de mudança na emissora. "A diversidade na tela estimula a diversidade no mundo porque em todos os lugares precisamos disso. Temos 56% da população negra e 51% da população geral é de mulheres brancas, negras ou indígenas", aponta.
Para Valéria, a importância de tal diversidade é mostrar pessoas negras "em todos os lugares bons da sociedade". "Não dá para a gente achar que só caiba ao negro quando o lugar é ruim, aí é normal? Devemos nos questionar o porquê dos lugares ruins com maioria negra", pondera.
"Eu tenho 39 anos, não me via na televisão, não me encontrava ou achava que esse era um posto para a gente. Se tinha uma pessoa, era a exceção, essa naturalização da nossa imagem é necessária", avalia.
A apresentadora até relembra que recebe comentários de pessoas que se influenciaram pelo estilo dela e pela imagem positiva que ela passa na televisão. "Isso mexe com a autoestima das pessoas, eu recebo mensagens de gente dizendo que está deixando o cabelo como o meu, que eu inspirei a filha a fazer faculdade, porque estou aqui, vejo um povo acreditando em dias melhores", celebra.
Valéria adora a interação com a plateia, apesar dos memes
a mulher dormindo no meio da plateia do encontro AO VIVO AINDA chega pic.twitter.com/IeqL1BLoMb
— jhennifer 📖: o lado feio do amor (@coment_jhenni) July 18, 2022
Estreante na apresentação com plateia, Valéria passou por uma situação curiosa nas últimas semanas. A jornalista perguntou se alguém da plateia fazia exercícios no fim de semana, mas ninguém levantou a mão. Apesar dos internautas sentirem a situação como um 'gelo', Valéria garante que foi um momento sincero do público.
"Não fiquei constrangida! As pessoas foram honestas, ninguém levantou a mão e só um cara que levantou e disse que fazia só no fim de semana. Eu não levei gelo, não, a plateia foi honesta", garante.
Ela até reflete e imagina que se o público não fosse honesto, uma entrevista mais específica poderia ser constrangedora. "Se levantam a mão e eu pergunto algo, seria pior para eles, teriam que mentir no ar. A plateia foi honesta, eles não estão ali para enganar ninguém, estão lá para acompanhar o programa. E eu me diverti um monte", conta, rindo.
Mesmo com a pergunta curiosa, Valéria diz que faz exercícios no fim de semana. "Meu dia da promessa não é de segunda-feira. É de domingo. Eu penso que se não consigo fazer nesse dia, não consigo fazer em nenhum outro, pego o embalo no domingo e continuo", brinca.
Sobre a interação com o público, Valéria se sente mais feliz em estar no palco com a plateia, pois se sentia sozinha no estúdio do "Bem Estar". "Eu adoro falar em público, faço palestras, apresento eventos e às vezes subo em palcos com mais de duas mil pessoas e essa interação dá um quentinho na alma, é estimulante e diferente do estúdio, quando estava sozinha e isolada do feedback", pontua.
Nova fase no "Bem Estar"
Valéria, que começou no quadro do "Bem Estar" na pandemia de covid-19, afirma que a mudança para o palco com a presença da plateia e de Patrícia Poeta e Manoel Soares é uma importante fase na carreira.
"É uma outra forma de comunicar, é um olho no olho, é muito diferente da dinâmica do estúdio. Eu sempre tive uma relação á distância com a Patrícia, mas uma conexão muito legal. E eu já conhecia o Manoel desde o 'Profissão Repórter', o que já era incrível", elogia.
Ela pontua que a notícia da mudança do programa para São Paulo trouxe "muita leveza". "Para mim, foi um grande presente de poder estar junto, a comunicação ficou mais fluida e isso chega para o público, estou com eles, a informação fica mais natural e é um privilégio trabalhar com os dois, com uma carreira tão longa", analisa.
Além de estar no palco com Patrícia e Manoel, ela também divide a apresentação do "Bem Estar" com Michelle Loreto e desenvolve as pautas do quadro com ela. "O que é muito louvável é que a gente seguiu na nossa parceria. Não importa quem apresente, a gente discute os caminhos do quadro, nos acrescentamos, a gente entende que a missão é fazer um quadro informativo, mas leve", indica.
Apesar de o "Bem Estar" ter se tornado um quadro dentro do "Encontro", Valéria sente que ele ainda é importante para os brasileiros. Ela até relembra algumas situações inusitadas que passou com o produto.
"Eu vejo que tem um retorno do quadro quando alguém fala para mim que conseguiu identificar um problema, acessou um tratamento, e descobriu um serviço no SUS porque levamos a informação. É isso, missão cumprida, sabe?", celebra.
"Tudo que é novo causa estranhamento"
Valéria, diferentemente dos internautas nas redes sociais, defende as "Super Manhãs da Globo". Para ela, as críticas e comparações com a antiga formação é pelo estranhamento com a mudança. "Não vou ser incoerente, mas sinto que tudo que é novo causa estranhamento, é um julgamento precoce para algo novo. Sempre há uma comparação toda vez que entra um programa novo na televisão. Esse programa ocupa o que já existia e quem já gostava desse outro sempre vai comparar", pontua.
Ela sente que, apesar das críticas, os profissionais não podem ser paralisados. "Sempre vai ter alguém para apontar o dedo e dizer que gostava mais da outra pessoa, do outro programa, sempre tem alguém para fazer o julgamento. Mas eu gosto de olhar para o lado bom da vida, tanto que só paro para olhar críticas construtivas", afirma.