Nesta semana, a influenciadora Gkay chamou a atenção da internet por conta de assuntos ligados à aparência. A humorista é uma adepta assumida de procedimentos estéticos e, além disso, adotou um visual platinado, com uma lace com fios loiros e sobrancelhas descolorias - o que dividiu a opinião dos seguidores.
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Até o ano passado, em uma entrevista, a influenciadora assumiu a realização de uma bichectomia, harmonização facial, botox e preenchimento labial. Além dessas, Gkay também investiu em uma lipo lad, cirurgia para evidenciar a musculatura do abdômen.
Todos esses procedimentos realizados em um curto intervalo de tempo, somados a grande exposição que a influenciadora garante nas redes sociais, se transformaram em um prato cheio para que os seguidores da humorista se sentissem à vontade para opinar sobre o visual da artista.
“Que desgra** essa cirurgia de tanquinho e os bracinhos finos porque não malha (risos). "Cape** feio”, criticou um internauta. “Está pago (risos), e está mesmo, porque quem recebeu a bolada foi o cirurgião”, comentou outro. “Ela está a cara do Ken humano”, twittou mais um.
Sendo alvo de comentários ofensivos, a influenciadora desabafou na internet, pediu “paz” e relembrou a própria trajetória: “QUER FALAR DE MIM????????? sai de casa cedo SOZINHA enfrenta o mundo, enfrenta NÃO, enfrenta TODO MUNDO, trabalha todo dia sem parar, sustenta TODA A TUA FAMÍLIA, SOZINHA!!!!!!!!!!!!!!!! aí tu fala de mim fd*", comentou.
Fama, exposição e a busca incessante pela beleza
Gkay tem 29 anos e quase 20 milhões de seguidores no Instagram. Ela começou a sua carreira em 2013, no YouTube, compartilhando conteúdos humorísticos. Assim, a exposição da vida é constante há quase 10 anos. Isso deve ser analisado segundo o psicanalista e doutor em Psicologia pela USP Leonardo Goldberg, especialista no assunto “sociedade do espetáculo”, quando se pensa na busca incessante da influencer pela beleza.
Em conversa com o iG Gente, o especialista expôs que a distorção de imagem é algo comum na humanidade. Segundo ele, a visão que construímos de nós mesmos se dá a partir da nossa relação com o outro. Nesse sentido, uma pessoa famosa acaba sofrendo ainda mais com essa busca pela beleza - visto que ela não tem um ciclo social restrito a amigos e familiares, mas a 20 milhões de pessoas, como no caso de Gkay.
“Em uma figura pública esse 'outro' são tantos que vira uma coisa quase que monstruosa. São muitos 'outros'. E o pior caminho nessa situação é tentar corresponder ao que a gente supõe que seja a expectativa desse outro. Fique perfeito, seja magro, pinte o cabelo. Os famosos são muito atravessados por essas demandas”, analisa Leonardo.
Outro problema visto pelo médico é em relação às redes sociais. Segundo ele, as plataformas exigem a comparação entre os usuários desde a sua estrutura. “A internet não tem pausa. Estamos todo o momento nos comparando nas redes sociais e colhendo as referências estéticas do momento. O ponto é que essas referências são inalcançáveis, já que elas estão filtradas e vistas em outras perspectivas”, esclarece.
Para o médico, portanto, a vivência de Gkay nas redes sociais são gatilhos potentes para que a influencer siga na busca por novos procedimentos estéticos. “Se eu entrar no Instagram agora e não ter minha auto-estima atingida é porque tem algo de errado comigo”, brincou o médico. Leonardo conta que é comum que os famosos se sintam “em dívida” com os fãs e busquem cada vez mais entregar o que acreditam que o público espera, inclusive, no fator estético.
“Os famosos às vezes caem no engano de que há uma relação em que o outro [fãs] demanda e que ele pode ofertar. Não há”, explicou o psicólogo. Para Leonardo, é preciso que os influencers permitam ser mais humanos, quebrando o esteriótipo de fortaleza e, além disso, saibam dosar o quanto a opinião alheia é verdadeiramente importante para a tomada de decisões pessoais. Segundo ele, os procedimentos estéticos deixam de ser saudáveis quando a alegria ou realizações pessoais estão concentradas apenas na estética.
Crítica contra a aparência é crime?
A relação entre os fãs e os ídolos nas redes sociais soa como uma falsa proximidade, já que essas plataformas possibilitam uma interação direta. O que era impossível há alguns anos quando o grande canhão de visibilidade estava concentrado nas televisões. Acontece que a interação nas redes sociais não possibilita contato apenas dos fãs, mas também dos haters.
Gkay na última semana foi alvo de comentários ofensivos que abordavam não só a aparência, mas também a personalidade. Até que ponto isso é permitido? Essa foi uma das perguntas realizadas para Marcelo Crespo, coordenador do curso de Direito Digital da ESPM. De acordo com o especialista, a legislação brasileira não possui uma lei específica para haters, mas eventualmente é possível responsabilizar usuários que aproveitam do anonimato para detonar um famoso na internet.
O especialista, porém, alerta que é preciso entender a conduta dos atos praticados. Por exemplo, em caso de ofensa que não seja categorizada como injuria, difamação ou ameaça, a lei entende como opinião, o que está previsto na liberdade de expressão. Contudo, o professor reitera que, no Brasil, essa liberdade não é ilimitada.
“Existem limitações a determinados tipos de manifestações. Somos livres para nos manifestar, mas nossa identidade não pode ser escondida. Eu posso sim ser responsabilizado caso a minha livre manifestação de pensamento for ofensiva ao direito de outra pessoa”, explica.
Em relação ao caso de Gkay, por exemplo, Marcelo avalia alguns comentários recebidos pela influenciadora e concluiu: “Chamá-la de feia é liberdade de expressão e não configura crime. Não é educado, mas também não é crime. Seria crime, porém, se alguns desses comentários a difamasse, por exemplo, acusá-la de roubo, desvio de dinheiro, etc. Aí seria um crime contra a honra”, finalizou.
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