Zé do Caixão
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Zé do Caixão

Liz Marins, filha de José Mojica, cineasta e ator que interpretava Zé do Caixão, denunciou dois médicos da operadora de saúde  Prevent Senior pelo atendimento prestado ao pai dias antes dele morrer aos 83 anos. O cineasta morreu em decorrência de uma broncopneumonia em fevereiro de 2020. 


“A minha denúncia é contra dois médicos, um que tirou ele da semi-uti quando ele estava estabilizado, grave, mas estabilizado, e mandou pro quarto e um médico que vendo o meu pai com a saturação despencando no quarto, não deu o atendimento imediato e ficou tentando nos convencer a deixá-lo morrer”, afirmou Liz em entrevista à GloboNews.

Em nota, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), diz que apura denúncias quando é formalmente acionado, o que não ocorreu no caso dos médicos citados. O Conselho alega que não pode julgar antes de ter informações detalhadas, como o prontuário do paciente. 

A Prevent Senior é acusada de conduta antiética e anticientífica na pandemia de Covid-19. Há denúncias de alteração de prontuários médicos para maquiar mortes pela doença, realização de pesquisa médica sem consentimento de pacientes e distribuição de medicamentos para tratamento precoce da doença, que não têm eficácia comprovada. 

Mojica teve uma broncopneumonia no dia 25 de janeiro de 2020 e internado, dez dias depois, no dia 5, o cineasta passou por uma sessão de hemodiálise e passou mal. No prontuário, impresso por volta de 12h daquele dia, consta que ele estava com desconforto respiratório, evoluiu para uma taquicardia, tendência a pressão baixa, taquipneia, respiração acelerada e queda de saturação (oxigenação no sangue). Por isso, ele foi transferido para a semi-uti. 

Na internação, Liz diz que a equipe reforçava que o estado de saúde dele era grave e oferecia cuidados paliativos, mas a família não aceitou e pediu para que os médicos interviessem em todas as situações. 

“A médica chegou para nos conscientizar que a situação dele, deste dia 5 [de fevereiro], à tarde, era grave, que meu pai era dialítico, cardiopata, já com uma certa idade, estava com 83 anos e que o estado de saúde dele era bem delicado. Nós falamos, nós sabemos disso, enfim faz tempo que há alguns anos a situação de saúde dele está frágil, ele já foi inclusive internado várias vezes nesse mesmo hospital e felizmente saiu de todas as internações. Eu falava, não só eu mas todos os familiares é que o que tinha que ser feito era tudo o que fosse possível pela vida dele mesmo”, contou.

Em nota, a Prevent Senior afirma que "os prontuários do paciente demonstram que todos os investimentos possíveis foram realizados no tratamento do Sr. Mojica. Os detalhes dos prontuários não podem ser divulgados por razões legais, mas é possível afirmar que o paciente tinha uma série de comorbidades que agravaram seu quadro de saúde ao longo dos anos". 

O médico Daniel Dorta Santiago de Carvalho Duarte autorizou, segundo Liz, às 20h30, a saída do cineasta da semi-uti para o quarto contra a vontade da família e justificando que o paciente estava estável. “O médico falou, ‘fique tranquila que ele está estável’. Estável como? em níveis que só poderiam ficar em semi-uti ou uti?”, questionou a filha.

“Eu pedi muito, entenda-se muito muito insistentemente para esse médico do 5º andar não passar o meu pai para o apartamento porque ele não estava em estado de saúde para apartamento, ele tinha que ser monitorado, tinha que estar com oxigênio adequado, e ele só tinha isso na semi-uti”, completou.

Para ela, era difícil monitorar saturação de oxigênio e a pressão arterial, já que a enfermagem passava de seis em seis horas no quarto. “Eu fui categórica quando eu estava falando com esse médico do 5º andar, que não estávamos seguras, que meu pai poderia falecer de uma hora pra outra e que não era pra passar pro apartamento que só na UTI ele ficaria com os cuidados que ele precisaria até melhorar, para depois passar pro quarto. O médico não me escutou. Na verdade, arbitrariamente, enquanto eu falava, já tinham pessoas retirando as coisas e aí passaram meu pai para o 16º andar, onde ficava o apartamento", disse. 

“Eu sabia que aquilo não podia ficar daquela forma, que meu pai não ia falecer desse jeito, não comigo vendo isso”, completou. O relatório de enfermagem mostra o agravamento do quadro do cineasta. Às 20h30, na semi-uti, a saturação estava em 93%. Em uma hora e meia em que ele ficou no quarto, a saturação caiu para 87%, e depois, para 77%.


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