Muitas perguntas sobre o acidente que matou a cantora Marília Mendonça e outros quatro integrantes do King Air C90 prefixo PT-ONJ, no último dia 5, em Piedade de Caratinga, ainda estão sem respostas. Mas a busca por elas está mobilizando o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Ao participar do FabCast, podcast da Força Aérea Brasileira (FAB), no dia 11, o brigadeiro do ar Marcelo Moreno deu detalhes de como sendo feita a montagem desse quebra-cabeças. Segundo ele, o trabalho remonta desde a saída do aeródromo de Goiânia até o “o momento do impacto’’. Como a aeronave não tinha caixa-preta, o GPS e os celulares recolhidos no local são alguns dos elementos fundamentais.
Moreno disse que o Cenipa possui um laboratório, o LabData, que “extrai o máximo de informações desses equipamentos nesse tipo de situação”. Também já foi pedido ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) informações do radar local para saber se foi registrado o deslocamento até a hora em que o avião caiu.
O brigadeiro disse ainda que no dia seguinte ao acidente, que ele definiu como “catastrófico”, equipes de prontidão no Seripa III, no Rio de Janeiro, e no Seripa VI, em Brasília, foram deslocadas, para o local da queda e para o aeródromo de Goiânia. No primeiro local, por volta de 7h, os profissionais já se encontravam dentro do avião para a coleta de dados e equipamento com a cena ainda montada.
Em Goiânia, além do combustível usado no abastecimento do avião antes da decolagem foram recolhidos o plano de voo e a documentação encontrada no hangar de manutenção da aeronave da PEC Táxi Aéreo. Nesse caso, o objetivo era verificar sua homologação e legalidade.
O brigadeiro contou ainda que para esse tipo de acontecimento, o Cenipa lança em campo equipes formadas por engenheiros, pilotos, psicólogos, médicos etc. Ele definiu a metodologia como uma “investigação holística” em que se observam os fatores humano, operacional e material. “Conseguimos voltar até a mesa do engenheiro que projetou o sistema operacional do avião”, exemplificou. Até drones são usados na captura de cada detalhe do local do acidente, para que os profissionais possam revisitá-lo durante suas análises.
Moreno criticou a falta de exigência por parte da ANAC de caixas-pretas em aeronaves com capacidade de transporte para até cinco passageiros, o que, segundo ele, dificulta o processo de averiguação. As caixas-pretas registram diálogos entre pilotos durante um voo, por exemplo. Mas disse que GPS e outros equipamentos do avião e da tripulação e passageiros (no caso, celulares) ajudam muito quando “recolhidos com suas integridades mantidas”.
O chefe do Cenipa fez questão de frisar que o trabalho do órgão não consiste em apontar culpados, peça do tal quebra-cabeça que está a cargo da polícia, mas, sim, entender a “dinâmica do acidente e assim ajudar na prevenção e tornar o transporte aéreo mais seguro”.