Samantha Schmütz falou pela primeira vez sobre a polêmica declaração de Juliana Paes , que se refere a uma colega sem dizer o nome. Para os internautas, a destinatária da mensagem seria Schmütz — algo que ela duvida. Em entrevista ao jornal O Globo, a humorista afirmou que conversou com Juliana e explicou por que não acredita que o vídeo tenha sido para ela.
"Ao me deparar com algumas reportagens afirmando que a mensagem da Juliana Paes seria para mim, duvidei. Não acredito que seja, porque nunca a chamei de covarde, nem de desonesta nem de criminosa. Sempre falei que desonesta, covarde e criminosa é a política pública do Brasil de combate à Covid-19", disse.
Samantha Schmütz tirou do fundo da gaveta músicas que escreveu 15, 20 anos atrás. Sente que chegou o momento de usar sua potência artística de um jeito diferente. Saem os filmes e programas de comédia e entram em cena ritmos como o samba. “Canto desde 1997. Em Niterói, onde nasci e vivo até hoje, estava sempre pedindo uma oportunidade nos barzinhos. Cheguei a ser backing vocal de banda e, em 2020, lancei canção com a Nação Zumbi”, conta a atriz, que passou os últimos dias em São Paulo finalizando faixas para um álbum futuro.
Uma das mais interessantes da safra é “Tá tudo errado”. A letra surgiu em 2000, quando o Brasil completou 500 anos, e fala das mazelas do país, pelos cinco séculos. Num trecho, ela diz: “Nos invadiram, nos transformaram. O que era belo, escravizaram. O que era lindo, asfaltaram”. “Na minha avaliação, estamos exatamente no mesmo lugar”, observa Samantha. “A canção, aliás, se chamava ‘Índios no asfalto’, mas resolvi ressignificar.”
O ativismo da artista vai além do trabalho. Aos 42 anos — mais de duas décadas de carreira —, ela usa a voz para falar sobre tudo que considera errado, incluindo o governo Jair Bolsonaro e os colegas de profissão que não se posicionam politicamente. O engajamento ficou ainda mais forte depois da morte do ator (e grande amigo) Paulo Gustavo, em maio. Samantha passou a colocar o dedo na ferida nas redes sociais, criticando quem desrespeita as medidas para conter o avanço do novo coronavírus e as celebridades que agem como se nada estivesse acontecendo. Juliana Paes publicou um vídeo em que afirma ter sido “agredida” por uma colega de profissão, sem citar nomes. O recado parecia para Samantha que, na sequência, compartilhou uma mensagem com seus milhões de seguidores virtuais: “Quem não está falando, não é porque está em cima do muro. É porque está do outro lado do muro mesmo. O lado que dá vergonha de estar, por isso silencia”.
A atitude combativa da atriz não agradou a todos e uma série de denúncias derrubaram seu perfil no Instagram, no último domingo. “Desativaram minha conta! Querem me enterrar, mas esqueceram que sou semente”, escreveu, no Twitter. No mesmo dia, o veto foi revisto.
Em uma hora de conversa por vídeo, a atriz mostrou indignação, empatia e uma força gigante apesar de seus 1,52m de altura.
O que realmente aconteceu entre você e a Juliana Paes? Como começou o bate-boca?
Ao me deparar com algumas reportagens afirmando que a mensagem da Juliana Paes seria para mim, duvidei. Não acredito que seja, porque nunca a chamei de covarde, nem de desonesta nem de criminosa. Sempre falei que desonesta, covarde e criminosa é a política pública do Brasil de combate à Covid-19. Acho que esse assunto já foi muito além do que deveria e acaba por desvirtuar o foco do meu questionamento para com a classe, que é no sentido de se posicionar e chamar à responsabilidade em relação à pandemia. Não se trata de uma briga entre colegas.
Você e Juliana conversaram no privado?
Tive uma conversa, sim, com a Juliana no privado. O que sei é que não costumo transformar conversas particulares em assuntos públicos. Ainda não tivemos a oportunidade de falar depois de tudo o que rolou. Mas reforço que estou sempre aberta ao diálogo.
Antes dessa controversa envolvendo a Juliana, você disse que a Deborah Secco deveria mudar o sobrenome para “tosca” por continuar publicando “normalmente” após a morte de Paulo Gustavo. Ela respondeu que “dava para fazer dancinha e se indignar”. Você acha que dá?
A mensagem não foi especificamente para ninguém. Foi para todo o mundo. Inclusive para mim. Falamos com tantas pessoas na internet e não estamos tratando assuntos sérios. Não é para as pessoas pararem de fazer publicidade ou dancinhas. Não é isso. Mas é cruel fazer neste momento. Mais uma vez, não estou apontando o dedo para alguém. Todos nós temos que nos questionar: Será que é legal só mostrar a vida maravilhosa? Não quero transformar isso numa briga pessoal. Estava muito chateada quando falei aquilo sobre a Deborah; a morte do Paulo estava muito recente. Eu errei, não foi legal. Não deveria ter feito. O dia que nos encontrarmos, quero falar sobre esse assunto com ela. Não desejo que isso vire uma grande coisa.
Gabriela Pugliesi declarou que a morte do Paulo Gustavo foi “vontade de Deus”. você disse que foi “falta de vacina”. De certa forma, a revolta com a partida do ator te fez mais ativa nas redes?
Totalmente. Não foi Deus... Antes, ele mandou a Pfizer enviar não sei quantos e-mails. Nem Deus conseguiu dar conta dessa negligência. Não dá para termos esse tipo de atitude porque assim continuamos alienando o povo. Vamos chamar as pessoas para a realidade. Paulo levou a metade da alegria do Brasil. Ele era próximo de todo mundo. Se essa pessoa que era parente do país inteiro não nos comoveu a ponto de realmente nos levantar, o que vai? Choro todos os dias desde que meu amigo partiu. É difícil. Todo lugar em que vou eu me lembro dele. São muitas recordações.
Ainda há espaço para ficar em cima do muro?
Não estou dizendo para escolher um lado partidário, sair gritando por aí o nome de um candidato. Meu interesse é a saúde pública. Acho que deveríamos nos unir em prol da vacina. Não podemos ficar na mão de um governo que não responde a dezenas de e-mails de um laboratório, mas retorna rapidamente a mensagem da Conmebol sobre a realização da Copa América no Brasil. Vamos usar nossa voz não só em benefício próprio, não só para vender produtos. Estou à mercê de alguém que tem prioridades diferentes das minhas.
Está difícil fazer o povo rir no Brasil?
No país de hoje está difícil. O que me faz rir são os memes na internet baseados na realidade, o que seria cômico se não fosse trágico. O humor está sendo feito em cima da desgraça. Parece ficção.
Tem acompanhado a CPI da Covid-19? Apoia quem foi às ruas pedir pelo impeachment?
É o reality show da nossa vida, né? É um show de horrores. Aquilo ali vai nos afetar diretamente. É nossa responsabilidade. Inclusive, fui às ruas pedir o impeachment do (presidente) Bolsonaro. O governo é mais perigoso do que o vírus. O assunto é urgente.
Quando percebeu que sua conta do Instagram havia sido desativada?
Estava fazendo uns stories, no último domingo, quando apareceu uma notificação, avisando que meu perfil estava desativado. Não encaro como uma censura do aplicativo. Fui alvo de denúncias de pessoas e robôs, que estavam incomodadas com minha opinião. Teve gente que gostou de eu ter sido “calada”. Li comentários do tipo: “Que bom! Que fique banida para sempre”. Um absurdo. Não se colocaram no meu lugar.
O que você acha sobre seu perfil ter sido bloqueado no Instagram, e o do médico Victor Sorrentino, preso no Egito depois de assediar uma vendedora com uma “piada” de cunho sexual, não?
É muito complicado que eu, por falar minha opinião, tenha tido minha conta derrubada, e ele, tendo assediado descaradamente uma mulher, não. Mas o caso ganhou muita visibilidade e as pessoas se mobilizaram para que fosse preso. Ao mesmo tempo, foi permitido que o médico publicasse um crime em vídeo.
Seu trabalho e seu ativismo são bem conhecidos. Mas sabemos muito pouco sobre sua vida pessoal. Ainda é casada com o americano Michael Cannet? Pensam em filhos?
Somos casados no papel há nove anos e moramos em Niterói. E não queremos filhos. É muita responsabilidade. Sou muito preocupada e chata. Acho que não teria mais vida. Só pensaria na criança. Não teria paz, eu acho.
Quando tudo isso acabar, onde você se imagina?
A minhas prioridades são meu bem-estar e minha saúde. Mas percebi também que quanto mais coerente eu sou, mais atraio pessoas que pensam parecido comigo e me entendem. Estou muito centrada e certa do que quero. Estou convicta das posições que tomei, das amizades que permaneceram, das que não permaneceram. Então, quero continuar trabalhando e ser uma voz cada vez mais forte de contribuição para mudar as coisas que estão erradas.