Nanda Costa, a Érika de 'Amor de Mãe', é a entrevistada desta semana. No bate-papo, a atriz fala da novela, dos amigos que reencontrou na trama de Manuela Dias, da vontade de ser mãe e da sua relação com a mulher, a percussionista Lan Lanh: "Eu e Lan sempre vivemos todas as fases muito bem, mas demoramos cinco anos para tornar isso público porque a gente não queria interferência por conta do país que a gente vive: por preconceito, por medo, por vários motivos".
Em 'Segunda Chamada', você teve uma participação densa... Qual foi a importância social daquela personagem?
É sempre muito difícil lidar com personagens com questões que você sabe que tem muita gente passando por isso. Falar sobre uma mulher com três filhos para criar, tentando a todo custo voltar a estudar, indo à noite pra escola, se desdobrando em mil para ter uma oportunidade melhor na vida de trabalho, com esse tamanho desemprego! Ela estava na fila do SUS há muito tempo pra conseguir ligar as trompas e não correr o risco de engravidar, porque ela tinha um problema de saúde que a impedia de tomar pílula. Tudo estava dificultando. Aí ela descobriu que estava grávida, já com três filhos. Ela entrou num desespero porque não conseguiu dar conta nem daqueles três direito. Então, acabou fazendo um aborto clandestino e morreu. Acho importante trazer a reflexão para essa questão tão polêmica.
Você se preparou para Érica de maneira especial?
Eu estava gravando 'Segunda Chamada' um pouco antes, então não consegui participar de toda a preparação para a novela. Mas eu acho que a trama foi muito bem desenhada pela Manu (Manuela Dias, autora). Quando eu leio, fica muito claro pra mim. Eu estou inteira em cena, conectada com os meus parceiros e disponível.
Tem algo em comum com ela?
Em comum com ela eu tenho o amor pela família, os valores... Somos simples na essência. A Érica se dá superbem com as pessoas. Para ela não tem diferença se a alguém está limpando o chão ou usando a joia mais cara do mundo. Pra ela, isso é indiferente. O valor está em outro lugar. Eu também. Cada vez mais volto para as minhas raízes, para o lugar de onde eu vim.
Como você definiria a Érica?
Érica é uma menina leve, focada, muito determinada e boa no que faz. Ela é boa filha, irmã, amiga. Sempre tem um conselho legal pra falar. É bem 'viver e não ter a vergonha de ser feliz'. A Érica não nasceu pra apanhar, não. Ela não faz nada de errado, não ficou com ele enquanto ele está casado. E que moral que a amante teria pra reclamar dela? Eu acho que se ela levar, ela devolve. Ela é diferente de todas as mulheres com que o Raul (Murilo Benício) se relacionou. Ela é solar, autêntica. Érica é um sol pro Raul nesse momento da vida dele. Eles nunca foram amantes, foi tudo às claras. Quando ela se apaixonou por ele, ele ainda estava casado. Mas aí não tem a ver com o caráter. Isso pode acontecer.
E seu 'Amor de Mãe'? Como é?
A minha mãe me teve com 16 anos, então ela me criou com a ajuda dos meus avós. Eles foram muito presentes, sempre. E eu aprendi em casa que a coisa mais importante no mundo é o amor. A religião da nossa família sempre foi o amor. Não adianta você ter uma religião, pregar uma coisa e fazer outra na vida. Esse é o ensinamento mais valioso que eu tenho. Só consigo ser a pessoa que sou hoje pela educação e pela criação que tive. Até por estar vivendo esse amor com uma mulher. Foi assim que me ensinaram o que era de fato importante.
Nas redes sociais, você tem postado bastante sobre a sua relação com Lan Lanh. Se sente mais autoconfiante agora?
Estou num momento mais livre, mais madura, mais eu, mais coerente com a pessoa que eu sou de verdade. Eu e Lan sempre vivemos todas as fases muito bem, mas demoramos cinco anos para tornar isso público porque a gente não queria interferência por conta do país que a gente vive: por preconceito, por medo, por vários motivos. A gente viveu esse amor só entre a gente, a família e os mais próximos por um tempo. Quando a gente decidiu casar, morar junto, não fazia mais sentido esconder isso. O que tem na rede social é tudo de verdade. Eu e Lan Lanh não somos um casal fake em nenhuma instância.
Você também pensa em ser mãe?
Agora estou vivendo um 'Amor de Mãe' enquanto filha. Mas pretendo, sim, aumentar a família e ser mãe. Viver o outro lado da história. Esse desejo sempre me pertenceu. Não tenho uma data, um prazo. Congelei meus óvulos. Foi uma decisão tomada com muita consciência. Então, sim, uma gravidez está nos meus planos.
Como está sendo trabalhar com Regina Casé e o núcleo familiar da novela?
Regina Casé é uma atriz divina, genial, que faz uma mãe leoa, que abraça e vai à luta. Isso traz um aconchego, sabe? Essa sensação boa me faz voltar pro colo da minha mãe e da minha avó. E o legal é que nessa novela eu tenho vários irmãos. Na vida, tenho uma irmã mais nova só. Poder dividir as responsabilidades é uma coisa muito boa. Por eu ser a irmã mais velha, eu sempre que ajudava minha mãe com tudo. Agora, não. Eu tenho o Magno (Juliano Cazarré), o Ryan (Thiago Martins), pra compartilhar e espalhar esse amor.
E você reencontra Thiago Martins nessa novela, depois de 'Pega, Pega'...
Atuar de novo com Thiago Martins é um sonho. Minha vida fica mais feliz quando ele está perto. Ele é daquelas pessoas que transformam a energia do ambiente. Às vezes, a gente está num dia difícil ou tem uma cena complicada, mas se ele está perto, tudo muda. A gente se dá superbem. Com o Cazarré também, eu já tinha trabalhado com ele em 'Febre do Rato'.
Como é a parceria com Murilo Benício?
Murilo Benício é um parceiro que eu só tenho a agradecer. Um ator superexperiente, que joga junto. Tudo fica mais fácil quando a gente está cercada de pessoas que a gente admira.
Érica é maquiadora. Qual é a sua relação pessoal com a maquiagem?
Gosto de maquiagem. Antigamente, eu usava só um corretivo e um rimelzinho. Agora estou gostando mais de brincar com cores, ousar. E fiz curso de maquiagem por conta da personagem. Sempre fui muito curiosa, libriana, sempre fiquei muito ligada nessa coisa da simetria enquanto me maquiavam. Tenho quase que um perfeccionismo, uma coisa meio chata. Então, treinei muito meu olhar, aprendi e arrisco. Agora, com a Érica, estou gostando ainda mais de brincar com isso.
O visual também mudou. Seu cabelo era curtinho. Já se adaptou?
Eu já tive vários tipos de cabelo: louro, comprido, curto, megahair... Já usei muitas vezes e de vários tipos. Como meu corte estava muito curto e a personagem entra no mar e na piscina, a gente optou pelo megahair com cabelo natural. Eu lavo e seco sem fazer nada demais. Ele fica cacheadinho e encaixa direitinho com o meu. Não está me dando o trabalho que os outros deram. Tinha que escovar, fazer babyliss e tal. E o Zé (José Luiz Villamarim, diretor) tem uma estética muito naturalista também. Ele não gosta de muita maquiagem nem cabelo elaborado. Isso traz uma liberdade. Eu chego, tiro o brilho do rosto, e o cabelo seca ao natural. A Érica pedia um cabelão. Foi uma proposta da caracterizadora da novela, a Gilvete (Santos), em parceria com o Zé.
Sobre a sua porção musical, como está? Ainda tem investido nessa outra faceta artística?
Eu gosto de experimentar. Sempre gostei de música, desde os 14 anos que eu toco um pouquinho de violão. Com a Lan na minha vida, isso ficou mais forte, presente. Às vezes eu chego em casa e ela está lá no estúdio compondo, tocando. Eu fico lá com ela. A gente compôs juntas uma canção que concorreu ao Grammy latino de 'Melhor Canção', foi gravada por Maria Bethânia e foi a música de abertura da série 'Entre Irmãs'. A gente brinca bastante de fazer música... A Lan me estimula bastante, diz que eu tenho jeito. Agora, cantar nunca foi meu foco. Não acho que eu seja uma atriz-cantora. Eu não participaria de um 'PopStar', eu sei os meus limites.