Paranaense de nascença, Larissa Maxine é carioca de coração. Detentora de um espírito vívido, a artista possui uma voz que acalenta os ouvidos de quem a ouvir. No auge de seus 32 anos, ela viaja o Brasil representando uma arte antiga e marginalizada, que tem poder de entreter, sensualizar e mudar. Seja o jeito de pensar, de agir, de ver ou falar.
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Com duas formações e um mestrado em artes, Larissa Maxine é uma das poucas artistas de burlesco do País. Praticamente uma nômade, foi na Itália que ela se apaixonou pela arte originada no século XVI: “Conheci o burlesque num bar de rock italiano, quando vi pensei: ‘caralho, quero fazer isso’”.
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Pupila de Allice Red Desire, Larissa nunca esconde a dificuldade de se fazer burlesco no Brasil:“O jeito que a gente aprende é muito autodidata. Quando esse tipo de arte chegou ao País no século XX, ele ganhou fama de mal visto. Por mais que seja um país tropical e tenhamos a tradição de usar menos roupas, ele segue marginalizado até hoje”.
Mas não seriam as dificuldades que impediriam Maxine , alcunha originada da palavra Maximus, de aprender o que hoje seria o grande trunfo de sua vida, o burlesco. Hoje estabelecida no meio, a artista é referência no assunto e possui um currículo de dar inveja a qualquer noviça no ramo.
“Eu faço de tudo. Desde minhas fantasias até as coreografias dos meus atos. Eu acho importante seguir esse rumo low budget. Até por que, não é sempre que você vai poder comprar roupas caras. Para incentivar as meninas que querem seguir essa arte, sempre falo que com cola quente e alguns trocados a gente pode dominar o mundo”.
Bur (lesco) lando Regras
Sempre em tom animado, que no fundo traduz o verdadeiro exotismo e carisma de sua alma, Larissa Maxine fala de burlesco com paixão e convicção: “O burlesco nada mais é que quebrar regras de forma sensual e engraçada”, analisou.
Ao ser questionada sobre a vulgaridade envolvida na arte, Larissa chama a reportagem para uma reflexão importante nos dias atuais: “O que é vulgar? De forma alguma nosso corpo será vulgar. Temos essa visão da vulgarização no burlesque por causa do patriarcado. A sociedade machista impõe regras onde as mulheres não podem ter seus tesões (sic.), enquanto mesmo assim continuamos correndo perigo e sendo julgadas”.
Com tom feminista sobre tudo que faz, a artista não permite que os preconceitos enraizados atrapalhem seu modo de viver ou ganhar a vida. Experiente, ela sabe tirar a roupa como ninguém, mas isso não significa que a nudez seja um convite.
“Isso é muito doido. Eu fico chocada como a culpa sempre recai sobre as mulheres. No estupro, por exemplo, para a sociedade, a culpada é a vítima que vestiu aquela roupa curta ou que mostrou demais. Poxa, ninguém pede para ter seu corpo danificado. O burlesco é isso. É pedir a liberdade do nosso próprio corpo!”.
O Lado Família de Larissa Maxine
Vinda de uma família árabe, Larissa Maxine desde tenra idade possui a afinidade com os palcos, que sempre veio de encontro com as tradições familiares. Apesar de viver um grande sonho hoje, a artista assume, que não tem muita relação com as tradições religiosas de sua família.
“Não tenho muita identificação. Eu deveria ter casado, eu estava prometida. Tem gente na minha família que nem fala comigo. Por vontade, eu não quis seguir as tradições. Parentes do meu pai são mais caretas, mas isso não o impede de ter orgulho de mim. Ele assiste a tudo que eu faço. Ele é super fã. Já os outros, acham que o que eu faço é desrespeitoso”.
Apesar de ter abdicado de muito para seguir seu sonho, Larissa não se arrepende. Muito pelo contrário, a artista vê em cada pedrada que leva um motivo para para fazer da arte um movimento transformador.
“Como artistas temos obrigação de transformar, o burlesco é mutável e eu entro nisso dançando, atuando e vivendo para tentar dar esse grito, essa catarse”, comentou Larissa explicando com poucas palavras a libertação psíquica que lhe é proporcionada ao fazer o que faz.
Mulher Diaba e o Ódio Gratuito
Dona de uma criatividade imensurável, Larissa é responsável por grande parte de seus espetáculos. A criação dos personagens, a coreografia, as histórias e etc. Um de seus sucessos que divide opiniões é a Mulher Diaba.
“A Mulher Diaba é uma forma extrema de mostrar de que a mulher não é culpada de estupros. Quando faço uma vampira ou uma boneca vodu, eu tenho que procurar essas referências de críticas sociais por que elas existem e estão ali”.
Sabendo da dificuldade que enfrenta, subir aos palcos é mais do que um ritual que lhe proporciona dinheiro e tesão - por fazer o que ama. Maxine sabe que sua profissão carrega o fardo de orientar subliminar ou diretamente os espectadores. Por isso, aguenta as críticas, mas se preocupa com o futuro da humanidade.
“Por essa personagem eu já recebi inúmeras críticas na internet. Muitas pessoas dizendo que eu era vulgar ou que não iria para o céu por dar vida a Mulher Diaba. Essa disseminação de ódio me assusta, pois, principalmente, os religiosos deveriam compartilhar amor e a aceitação e não o contrário”, detalha indignada com tom menos dócil.
Dona de uma lábia sagaz e afiada, é de se arriscar que se pertencesse a um grupo de amigos, Larissa Maxine seria aquela que senta no bar para tomar uma cerveja e conversa de tudo um pouco. Até os assuntos mais polêmicos.
“Eu moro no RJ e é muito louca essa convivência. De um lado, uma obra da natureza monumental. Do outro, temos que desviar de balas perdidas. Apesar da violência gritante, o que me assusta é o ódio. Eu vejo cada vez mais as pessoas próximas do Islamismo do que da democracia”.
Em seguida, ela defende um raciocínio polêmico: “Se pensarmos nessas pessoas que são pró Bolsonaro, pró liberação das armas… essas são as pessoas mais islâmicas e dentro da igreja evangélica temos exatamente isso”.
“A grande questão é que quando se mistura estado e religião as coisas não dão certo. Hoje temos uma bancada evangélica que cada vez mais muda nossa legislação. Como artista, nós vamos perdendo nosso espaço, nossos trabalhos”.
“Eles falam de cura gay! Como assim, cara?! É nosso trabalho impedir isso. Vale sempre lembrar também que quem elegemos com 52% dos votos não está mais no poder. O jeito e disseminar conhecimento por que o apocalipse chegou, baby”, diz Larissa Maxine.
A Paixão pelo Burlesco e o Terror Social
Apaixonada por cinema e filmes de terror, Maxine coloca um pouco de freakshow em tudo que faz: “Eu tenho que agradecer ao SBT pelo formação. Quando eu cresci me interessei mais pelo gênero e pelo medo que ele causa”.
Você viu?
Larissa detalha bem suas convicções: “O terror mexe muito com o imaginário das pessoas. O medo do vampiro, o desconhecido que vai entrar pela janela e te roubar aquilo de mais precioso”.
Graduada e pós graduada, a artista tenta sempre incluir uma paixão na outra. Em seus shows batizados de “Infame” a temática assombrosa mistura-se de maneira harmônica com a sensualidade.
Já em suas pesquisas acadêmicas, Larissa visa multar o horror nas telas para uma discussão do horror na vida, sempre envolvendo cineastas, psicólogos e pessoas que passaram por estes horrores.
“Desenvolvi um projeto para ajudar crianças em situação de risco com aulas de cinema associando o gênero de “Terrir” (subgênero do horror que mescla terror e comédia), criando uma identificação onde o monstro perde sua característica negativa e passa a ser o protagonista de sua própria história”.
Os Dois Lados de Ser Uma Artista de Burlesco
Terror, burlesco, mundo artístico. Estas são apenas algumas das paixões de Larissa Maxine, que apesar de parecer indestrutível, também é mulher, humana e cidadã. Como todos, ela precisa ser vista como tal.
“A parte mais difícil de estar no meu ramo é que os caras me veem como troféu, sabe? Isso me dá tanta preguiça que eu prefiro evitar. Se eu for falar para você quanto tempo eu estou sem transar… é triste!”, comenta entre risos, dando a entender que muitos ainda confundem a arte com vulgaridade.
Questionada pela reportagem sobre a melhor parte de ser uma artista de burlesque, Larissa Maxine se anima:“Me sinto uma rockstar que não toca rock. É incrível”.
“As vezes eu estou ali dançando e vejo as pessoas tirando as roupas… essa energia é incrível. É uma das maiores loucuras que vi durante minha vida nessa jornada”.
Engana-se quem pensa que a vida de “rockstar” é tudo de bom. Além dos assédios, os gritos de guerra, os esforços físicos e o empenho na carreira, Larissa Maxine comenta os ossos do ofício.
“Eu moro no Rio de Janeiro… e fazem três meses que eu não vou para casa. Assim, não estou reclamando, amo meu trabalho, mas são coisas que a gente passa. Um dia estou em um hotel, no outro na casa de uma amiga. Eu realmente nunca sei onde estarei no dia seguinte. E essa é a parte mais difícil da carreira”.
A vida no Youtube!
Formada em jornalismo, a artista tem vocação para o ramo. No Youtube, ela apresenta o “Canal de Fitas Malignas da Maxine”. A revista eletrônica é um tipo de pílula homeopática que com determinada periodicidade traz curiosidades sobre o mundo cinematográfico do terror, tutoriais para cineastas iniciantes e muito mais.
“Eu viajo o Brasil inteiro. Então, sempre que posso alimento o canal com curiosidades de macabras das cidades ou alerto meus seguidores sobre os lançamentos de terror mais esperados. Para se ter noção, o terror é tão underground que o maior festival de terror do país nunca chegou a ser mainstream”.
Amante do gênero que assusta grande parte da população, Larissa Maxine o defende com unhas e dentes: “Acho que o maior tapa na cara foi quando Guilhermo Del Toro ganhou o Oscar com um filme de terror ('A Forma da Agua')”.
Visionária e bem humorada, a artista faz previsões para a indústria cinematográfica: “Creio que daqui em diante, novos cineastas surgirão e os mais experientes começarão a apostar mais no gênero que foi tão rejeitado”.
Cheia de dotes, Maxine tão é dona de uma modéstia erudita. Sempre creditando amigos, ela assume que é responsável por grande parte dos processos de produção de seu canal no Youtube.
Mas ela sabe que nada disso seria possível sem um elemento essencial, os fãs. Sejam admiradores dela, de sua carreira, de cinema ou de cinema de terror, são eles que dão forças para que o veículo continue.
“O Brasil já possui grande público amante de terror, o grande problema é a distribuição de filmes. O meu canal visa informar que estes filmes existem e que eventos sobre o gênero acontecem. Compartilhamento de informações é o futuro!”.
Larissa Maxine: Além do Terror e do Burlesco
Amante do terror, Larissa Maxine possui uma carreira agitada. Mesmo amando seu momento atual, a mulher de feições cativantes, não limita seu talento a essa vertente da arte.
“Como atriz, eu não faço só filmes de terror. Em breve deve estrear na produção ‘Stella Model’, minha primeira protagonista dramática”, comenta com ansiedade que é possível ser sentida no fim de cada palavra.
Ao ser perguntada quem seria Maxine sem burlesco, ela brinca: “Eu sem essa arte estaria sei lá… sem graça, sem vida e fazendo tricô. O burlesco me tornou mais forte. Eu me sentia esquesita e agora eu sei que está tudo bem ser assim”.
Em continuidade ela afirmou: “O burlesco é meu grito. É a forma de me compreender como ser humano. É como sou e como vivo”.
Fronteiras para Maxine?
Ainda sem previsão de volta para casa, a artista está com a agenda apertada. Prestes a marcar presença no longa-metragem “Abissal”, ela também estrelará na produção “Stella Models”. Além do curta-metragem “A Janela da Outra”, que já conquistou o Festival de Dourados.
Com promessas de manter seus shows de burlesco, rodar o Brasil com seu canal do Youtube e divulgar o curta na internet (para todos) assim que possível, ela se despediu com afeição e animação.
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“Obrigada, beijos, beijos tchau”, finalizou Larissa Maxine , a estrela que quebra paradigmas todos os dias com intenção de não só realizar seus sonhos, mas de fazer um mundo melhor, com menos ódio, mas com muita sensualidade, arte e humor.