Gabriel Castro
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Gabriel Castro

Se uma famosa surgir nas escolas de samba do Rio de Janeiro sem saber sambar e buscando uma solução quase que milagrosa, é provável que o nome de Gabriel Castro seja apresentado para ela.

Quase um guru do samba, Gabriel é o responsável pela volta por cima de várias celebridades, sendo Gabi Martins a mais notória. Em 2021, a sertaneja virou piada na internet assim que um vídeo dela sambando no ensaio da Vila Isabel viralizou.

Gabi Martins tinha aceitado o desafio de desfilar pela primeira vez, no entanto, havia um problema: ela não sabia sambar e a web percebeu. Mas, além dos internautas, surpreendentemente, ela mesma entendeu que algo precisava mudar, e com urgência.

“Quando elas chegam em janeiro e olham as outras que já desfilam há algum tempo, elas percebem que estão muito defasadas, tipo, ‘cara, mas como eu vou chegar nesse nível aí se o desfile do carnaval já é mês que vem?’”.

 Foi assim que Gabriel e Gabi Martins foram apresentados, através da indicação da própria escola de samba, que optou por acolher ao invés de ceder para as críticas. 

“Foi a própria Gabi que falou comigo, fizemos a primeira aula, ela curtiu, [mas] deu uma sumida”, revela Gabriel, rindo, entendendo que, na época, Gabi achou que aquele primeiro treino seria o suficiente. 

“Ela chegou um pouquinho dura, ela realmente não tinha o molejo do samba, ainda”, completa.

Após o ensaio técnico, em que Gabi foi muito criticada, a cantora voltou atrás e entendeu que precisava focar se quisesse ter sucesso na avenida. “Com o adiamento do carnaval, por conta da pandemia, a gente teve mais um tempo para fazer aula, ela se esforçou super. Vinha para o Rio, pegava a ponte aérea, saia do show sem dormir, fazia aula, ficava [entre] dois a três dias e voltava para trabalhar. A Gabi é muito focada”, elogia.

Após as primeiras aulas, a reunião deles já não tinha a necessidade da presença de assessor nem outro membro da equipe. “Confio nele”, dizia Gabi Martins, segundo Gabriel. Com a proximidade e a parceria entre o professor e a aluna, o "guru" acabou virando amigo próximo da artista. “Já conheço a família dela, já estive na casa deles, conheço todo mundo”, entrega. 








Guru das famosas

Na preparação de 2020, Gabriel iniciava a trajetória como professor de celebridades. Aline Campos, ex-Riscado, foi a primeira famosa a procurar pelo trabalho do sambista após ser criticada pela falta de samba no pé.

“Saiu um vídeo que ela não estava dançando bem, um mês depois ela tava sambando para caramba e as pessoas [reagiram]: ‘Ué, o que aconteceu?’”, relembra Gabriel, contando que a modelo lhe ajudou muito divulgado o trabalho dele.

Com o caso de Aline Campos, as portas se abriram para o trabalho com Gabi Martins, que também integra a lista de sucessos do carioca. A fama de proporcionar o molejo do samba em pouco tempo foi tão disseminada entre as celebridades que, em 2023, Gabriel conta com mais duas alunas: a modelo Yasmin Brunet e a influenciadora Gabriela Versiani. 

Musas da Grande Rio para o Carnaval de 2023, Yasmin e Gabriela mudaram a rotina para que o trabalho de Gabriel seja 100% proveitoso. O sambista conta que Versiani até se mudou para o Rio de Janeiro para manter o foco e entregou que a reunião acontece duas vezes na semana, em um trabalho vem acontecendo há um mês.


Com Yasmin Brunet, o caso é mais delicado, ela o procurou e eles estão trabalhando já há duas semanas. No relato, Gabriel enfatiza o esforço da modelo.

Para entender a pressão e o motivo do foco de Yasmin, é preciso falar do sobrenome que ela carrega: Brunet. Yasmin é a única filha de Luiza Brunet, modelo que ocupou por décadas o posto de rainha de bateria da Portela e da Imperatriz Leopoldinense. Além de ter como mãe um símbolo carnavalesco, Yasmin também é carioca, é esperado que ela tenha a conexão com o samba.

“A mãe dela é muito respeitada no meio do samba, ela entende que é uma responsabilidade grande. Ela tem a consciência que comparações vão existir, então ela quer recuperar o máximo de tempo perdido. Ela quer aprender, me pede para mandar vídeo, quer fazer aula sempre.”

O método

E qual seria a receita milagrosa de Gabriel Castro para as famosas encontrarem o molejo do samba? A resposta é simples: musicalidade. “A primeira coisa: eu analiso se elas conseguem dançar dentro do tempo da música.” 

Para os leigos, a resposta pode ser um pouco abstrata, mas não é. Gabriel explica que várias pessoas têm o costume de escutar músicas, dançá-las, mas não prestam a atenção de fato nos elementos musicais. Para o professor, é necessária uma percepção de ritmo, batida, tempo e frequência. “Dançar é interpretar a música, então, você precisa escutar, traduzir, para depois você passar aquilo para o corpo”.

A partir da musicalidade, ele parte para os movimentos do quadril, depois braços, movimentos da passada. E, obviamente, analisando caso a caso, fazendo algumas adaptações. 

E quanto é o investimento para as famosas não passarem vergonha em plena avenida? É possível afirmar que, num plano de duas aulas semanais, como a de Gabriela Versiani, o valor fica aproximadamente em torno de R$ 1 mil. Se fechado um plano faltando poucas semanas para o Carnaval, como o caso de Brunet, o valor aumenta.

'O morro foi feito de samba'

No ano passado o caso de Mayara Lima, que coincidente, ou não, também já foi passista de Gabriel quando tinha 7 anos, viralizou nas redes sociais. Na época, quando era princesa de bateria da Paraíso do Tuiuti, ela protagonizou um espetáculo do samba. A dança em perfeita sincronia com a bateria fez o vídeo ultrapassar 24 milhões de visualizações.

Mas a surpresa se deu quando descobriram que ela era a princesa, e não a rainha. O cargo mais alto estava nas mãos da apresentadora Thay Magalhães, que, segundo o público, não sabia sambar, pelo menos, não como Mayara.

Com esse caso, cresceu a discussão sobre os cargos de notoriedade nas escolas de samba. Há quem defenda que as meninas da comunidade - e que tem intimidade com o ritmo - devem ser priorizadas, mesmo disputando a vaga com celebridades.

“Elas estão chegando num lugar que elas não estão ali desde sempre, não é o habitat delas e tem muita gente que estava ali antes. Para elas serem minimamente respeitadas, a galera quer que elas se esforcem”.

Para Gabriel, não há problema em celebridades nos cargos de destaque, desde que haja humildade para reconhecer os pontos de melhoria. “Tem que ter uma conexão real, caso contrário a coisa não acontece. A comunidade e as pessoas da escola percebem. Então, acho necessário esse esforço para que as pessoas se sintam representadas por aquela pessoa”.

Questionado sobre cargos pagos, Gabriel reflete que, ao menos, haverá dinheiro para as alas mais pobres, dando melhores condições para as pessoas de comunidade. E embora haja espaço para as celebridades, ele reafirma a importância de criar um vínculo com a comunidade.

“Tem que aprender a história da escola, de onde veio, os principais sambas, os títulos, os melhores momentos, conhecer as pessoas, a velha guarda, as baianas, as passistas, a bateria… tem que ter isso, se não tiver não faz muito sentido a pessoa estar ali sem ter uma ligação”.


Gabriel é o samba

Gabriel Castro já sinalizava que seria uma pessoa diferenciada. Em 2001, aos 11 anos, tentou ultrapassar a autoridade dos pais quando quis se inscrever escondido para integrar a ala das crianças da escola Paraíso do Tuiuti. 

Filho de pais separados, é a família paterna que sempre foi a maior referência no samba. O pai dele vivia a comunidade das escolas, a correria dos preparos anuais e a união com outros membros carnavalescos.

Ao levar o contrato de autorização para a mãe assinar, a matriarca, divorciada do pai, respondeu com ironia: “Não tem jeito, você tem o sangue do teu pai mesmo”.

Desde o primeiro desfile quando criança, Gabriel nunca mais parou. Aos 15 integrou a comissão de frente mesmo não sendo permitido, mas ele era um dos primeiros a pegar a coreografia. Não podia ficar de fora. 

Com 17 anos, Gabriel se tornou o diretor de passistas mais novo do Rio de Janeiro, pela Império da Tijuca. Desde então, ele vive entre diversas escolas, estandarte de ouro da Mocidade Independe de Padre Miguel, diretor artístico da Império Serrano, diretor de passistas da Unidos de Vila Isabel e diretor de passistas da Império da Tijuca. Além disso, ele também conquistou diversos alunos fora do Brasil, inclusive, sempre viaja movido por ensinar o samba. 


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