Nascido em 6 de abril de 1933 em Neuilly sur Seine, Jean-Paul Belmondo saiu de cena hoje, aos 88 anos. Um choque imenso para o público, principalmente o francês, para o qual esse monstro sagrado do cinema, apelidado de “Bébel”, já tinha se tornado há décadas ao mesmo tempo um ícone e uma figura familiar. Conhecido e amado por todos, o ator tem uma filmografia incrivelmente rica e diversificada, com 67 títulos, muitos dos quais de grande sucesso de bilheteria no cinema, mas também na televisão, onde até os seus mais antigos filmes seguem sendo exibidos.
Esse ator imensamente popular do cinema de ação, rei da malandragem e da treta, começou sua carreira quase por acaso com “Acossado”, de Jean-Luc Godard, que o revelou aos amantes do cinema em 1959. O filme foi homenageado no Brasil no Festival Varilux de Cinema Francês de 2020. Belmondo tornou-se rapidamente o ícone da Nouvelle Vague e se esforçou por permanecer vinculado a essa nova onda cinematográfica que se ergueu nos anos 1960, com outros filmes de Godard (como o o cult “O demônio das onze horas”), e também de Jean-Pierre Melville (“Léon Morin, o padre” e “Técnica de um delator”), Peter Brook (“Duas almas em suplício”), François Truffaut (“A sereia do Mississipi”) ou Alain Resnais (“Stavisky ou o Império de Alexandre”).
Mas foi sua amizade com o popular cineasta Philippe de Broca, um sujeito alegre como ele, que mudaria seu destino como ator e daria à luz a figura de Bébel aos olhos de toda a França. Começou com “Cartouche” (1962) e continuou com cinco de seus maiores sucessos de público, incluindo “ O homem do Rio”, “As tribulações de um chinês na China” e “O Magnífico”. Foi com “O homem do Rio”, em 1964, que se destacou sua faceta audaciosa e irreverente, de um ator que não tinha medo de nada e se recusava a ser substituído nas cenas de ação.
Bébel nasceu atlético. Quando criança, foi expulso várias vezes das melhores escolas em que seu pai, o escultor Paul Belmondo, o matriculou. Ele só gostava de boxe e futebol ... e depois de teatro! Mas Belmondo não foi apenas um excelente dublê: até o crítico mais exigente o reconhece como um ator excepcional. Cômico, dramático, policial ou bandido, ele demonstrava uma habilidade única de encarnar filmes em registros e tons muito diferentes. O grande ator da Nouvelle Vague gostava de sua pluralidade. “Estou orgulhoso de ser uma estrela popular, não desdenho a aprovação do público”, disse.
Na década seguinte, Jean-Paul Belmondo começou a se tornar sistematicamente “O Belmondo”. O público francês ia ao cinema com a família para ver “O Belmondo” do ano. Essa personalização aconteceu sobretudo sob a batuta de outro diretor decisivo para sua carreira, Georges Lautner, com quem filmou “Tira ou ladrão”, “Le Guignolo” e “O profissional”, no início dos anos 1980. Na época, ele era dos poucos atores que podiam garantir sucesso comercial de um filme apenas com seu nome. O outro foi Alain Delon, seu grande amigo e rival, com quem ele faria alguns filmes, incluindo “Borsalino”, de Jacques Deray, em 1970.
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É com “Itinerário de um aventureiro”, de Claude Lelouch (1988), que lhe rendeu o César de Melhor Ator, que sua carreira de sucesso realmente chega ao fim. Um filme melancólico e simbólico de fim de viagem, em que um empresário cansado das responsabilidades se faz passar por morto durante um cruzeiro, e vai navegar, sem bússola, pelos mares.
Em 2001, Belmondo sofreria um derrame e lutaria por 20 anos para superar as sequelas da doença. Morreu “de cansaço”, informaram seus familiares.
O charme provocador de Belmondo, conhecido pela generosidade e fidelidade nas amizades, deixará saudades em todos. O Festival Varilux de Cinema Francês vai homenageá-lo em novembro, exibindo em particular o filme considerado pela crítica como o mais belo de sua carreira: “Um macaco no inverno”, de Henri Verneuil, ao lado de outro ícone do cinema francês, Jean Gabin. E brindaremos todos para o reencontro deles no sétimo céu.
Christian e Emmanuelle Boudier são criadores e organizadores do Festival Varilux de Cinema Francês.