Não é fácil concentrar em si a expressão da maldade humana que emana de um universo inteiro. Mas é essa a tarefa de Joseph Fiennes em “The handmaid’s tale”. Na série, com três temporadas no Globoplay e na Paramount Plus (que lança a quarta em 2 de maio), ele vive o arquivilão Fred Waterford.
É um dos “comandantes”, como são chamados no enredo os homens que alcançaram os postos máximos na hierarquia de Gilead, o país totalitário em que os Estados Unidos se transformaram depois de uma rebelião ultraconservadora.
A degradação da natureza teve como consequência a infertilidade de quase todas as mulheres, menos de algumas, escravizadas e chamadas eufemisticamente de aias.
Elas são estupradas pelos comandantes em todo o período fértil. Mais do que um hábito, essa é uma obrigação, uma regra do lugar. O intuito é engravidá-las. Os filhos são tirados delas para que sejam criados pelas mulheres inférteis dos comandantes.
A aia que cabe a Waterford é June (Elizabeth Moss), a protagonista da história. Indicado ao Emmy pelo papel, Fiennes acredita que seu personagem tem chance de redenção. Em entrevista exclusiva por videochamada, o ator reflete sobre a rota da História que, como ele mesmo diz, tantas vezes caminhou na direção dos regimes totalitaristas. E promete grandes viradas, com uma reação das mulheres à opressão.
Margareth Atwood escreveu “The Handmaid’s tale” nos anos 80 e negou que fosse ficção científica. Lançada no governo Trump, a série chocou pela coincidência, com o obscurantismo em alta. Como acha que será recebida a quarta temporada nos EUA de Biden?
Ela escreveu o livro em Berlim. Você pode imaginar os fantasmas daquela cidade que devem ter impregnado o trabalho dela. Ainda assim, ela optou por ambientar sua história na América do Norte. E as maiores ameaças em termos de fundamentalismo estão presentes na Era Moderna, então ela se concentrou nisso. Quis lançar seu olhar sobre os conflitos do Ocidente cristão. E inventou Gilead. É notável que uma série como essa tenha esse caráter profético. Vejo a história como uma fábula cheia de questionamentos. Toca na fragilidade das democracias, lembra que elas podem se espatifar com facilidade. E temos que ficar alertas. As democracias precisam ser alimentadas.
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O que mais mudou, daquele lançamento para cá?
Tem sido uma jornada cheia de ironias. Quando Trump chegou, em 2016, lançamos a série. E agora, em 2021, o cenário é diferente. Com um agravante: há outras situações perturbadoras. Me refiro à pandemia. Foi sorte termos conseguido filmar nesse período. É um tempo de grandes perdas e ansiedade para o mundo. Estou feliz pelos fãs que tenhamos conseguido concluir o trabalho. Foram dois anos para que conseguíssemos entregar a quarta temporada.
A terceira temporada terminou com uma reação das aias. O que nos espera?
A quarta é diferente. Houve uma grande virada. Pela primeira vez, veremos um sinal de esperança. Nossa heroína, June (Elizabeth Moss), já de saída, está mesmo abraçando a briga contra Gilead. É uma reação finalmente. Aposto que os fãs vão ficar felizes com a energia nova.