“O Cravo e a Rosa” e “A Favorita” no pódio das melhores da década

Novelas de Walcyr Carrasco e João Emanuel Carneiro também são lembradas pelo público

“O Clone” foi eleita pelos internautas do iG a novela da década, mas duas outras tramas ficaram em honrosa posição. Completando o pódio, em segundo lugar ficou “O Cravo e a Rosa”, novela de Walcyr Carrasco , e em terceiro “A Favorita”, de João Emanuel Carneiro.

Foto: Divulgação/TV Globo
Du Moscovis e Adriana Esteves em 'O Cravo e a Rosa'

“O Cravo e a Rosa”, exibida de 26 de junho de 2000 a 9 de março de 2001, recebeu 16% dos 31.468 votos, mostrando que ainda está muito viva na memória do público. A novela, exibida na faixa das 18h00, fez sucesso ao adaptar para a telinha a clássica peça “A Megera Domada”, de William Shakespeare. Em vez da Itália renascentista, o cenário da ação é a São Paulo do início do século 20. O mote é o mesmo da peça: a indomável Catarina é obrigada a se casar com um homem rude, Petruchio, e por ele é “amansada”. A novela da Globo teve atuações impagáveis de Adriana Esteves como Catarina e Du Moscovis como Petruchio, certamente grandes responsáveis pelo sucesso da trama.

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Pedro Paulo Rangel, o Calixto

Além dos protagonistas carismáticos, a novela ainda contava com um excelente núcleo cômico em torno da fazenda de Petruchio. Pedro Paulo Rangel deu vida ao simpático Calixto, cuja filha, Lindinha ( Vanessa Gerbelli ), atormentava Catarina, interessada em atrapalhar o casamento da aristocrata com seu amor, Petruchio. Se por um lado fazia a protagonista sofrer, por outro Lindinha tinha que lidar com a paixão de Januário ( Taumaturgo Ferreira ), um simplório caipira que andava sempre com uma porquinha de estimação. A criada da fazenda, Neca ( Ana Lúcia Torre ) completava a divertida trupe.

A seguir, Walcyr Carrasco fala da importância da vice-campeã da enquete do iG em sua trajetória.

iG - O que “O Cravo e a Rosa” significou para a sua carreira?
Walcyr Carrasco - Foi a minha primeira novela na Globo. Eu havia escrito “Xica da Silva” na TV Manchete e “Fascinação” no SBT. “O Cravo e a Rosa” abriu espaço para mim na principal emissora do país, o que significou uma virada na minha carreira. Além disso, do ponto de vista pessoal também foi muito importante. Desde que comecei a escrever televisão, quando alguém queria dizer que um ator não era popular, usava a expressão “ele quer fazer Shakespeare”. Eu fiz e provei que Shakespeare é popular.

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Walcyr Carrasco: 'Shakespeare continua atual'

iG - Na sua opinião, o que a trama teve de inovadora para cativar o público?
Walcyr Carrasco - Se eu puder chamar uma obra de Shakespeare de inovadora... foi justamente a preservação do humor muitas vezes politicamente incorreto de “A Megera Domada”. E, modéstia à parte, a coragem de trabalhar com perfis de protagonistas não usuais: Catarina chegava às raias da antipatia, Petruchio era grosso, mal vestido. O trabalho de Adriana Esteves e Du Moscovis, grandioso, deu humanidade a esses personagens tão difíceis.

iG - Como você explica o fato de uma novela exibida há quase dez anos, na faixa das 6 da tarde – ou seja, fora do “horário nobre” –, ficar em segundo lugar na preferência do público?
Walcyr Carrasco - Eu acho que a novela marcou o público. Até hoje as pessoas falam comigo sobre ela. Os personagens são presentes na vida das pessoas. Mas o mérito não é meu: a peça original tem séculos e continua atual.

Quem é a mocinha, quem é a vilã?

Já a terceira colocada, “A Favorita”, de João Emanuel Carneiro, recebeu 13% dos votos da enquete. Exibida de 2 de junho de 2008 a 16 de janeiro de 2009, no horário das 21h00, foi a primeira trama de Carneiro no horário mais nobre da televisão brasileira após ele escrever os sucessos “Da Cor do Pecado” e “Cobras e Lagartos” para a faixa das 19h00. Um dos autores mais promissores da nova geração, ele ousou ao apresentar a história sem deixar claro quem era a vilã, quem era a mocinha.

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Claudia Raia e Patrícia Pillar: dupla central de 'A Favorita'

“A Favorita” começa quando Flora ( Patrícia Pillar ) deixa a prisão após cumprir 18 anos de pena pelo assassinato de Marcelo Fontini, marido de Donatela ( Claudia Raia ). Flora e Donatela, que haviam sido amigas de infância, passaram a disputar o amor do mesmo homem, e a rivalidade das duas resultou no crime. Flora sai da prisão dizendo que foi injustiçada, que era amante de Marcelo e foi condenada por uma armação de Donatela. A viúva, por sua vez, sustenta que a ex-parceira era culpada.

Na época do lançamento da novela, Carneiro explicou: “Pretendo discutir o julgamento que fazemos das pessoas. Acho que, hoje em dia, a gente não sabe nunca quem está dizendo a verdade. Não se sabe se os políticos estão dizendo a verdade, se as pessoas próximas a você são confiáveis... Nós estamos vivendo em uma época em que somos, em geral, lançados muito à dúvida. De certa maneira, essa história é uma ousadia, com a versão tradicional do folhetim. É uma brincadeira com isso, uma provocação ao folhetim.”

A revelação de que Flora era realmente a vilã da trama só aconteceu dois meses depois do início da exibição da novela. A partir da cena em que Flora e Donatela conversam sozinhas, a vilã passa a perseguir a rival e toda sua família, mostrando maldades dignas de uma das melhores psicopatas dos últimos tempos.

Além da forte história central, “A Favorita” ainda exibiu subtramas capazes de prender a audiência. O romance da filha de Flora, Lara ( Mariana Ximenes ), com Halley ( Cauã Reymond ) ganhou contornos dramáticos ao mostrar o drama de Halley. Ao descobrir que é filho de Donatela, o jovem passa a acreditar que é meio-irmão de Lara, já que a vilã sustenta que a moça é fruto do caso que tinha com o marido de Donatela. Apenas no fim da novela eles descobrem que Lara na verdade é filha de Dodi ( Murilo Benício ).

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Apaixonados, Mariana Ximenes e Cauã Reymond sofrem ao acreditar que são irmãos

Também despertou interesse o drama de Catarina ( Lilia Cabral ), casada com um marido violento e rude, Léo ( Jackson Antunes ). Depois de sofrer muitas humilhações, Catarina acaba se tornando independente a partir da amizade que desenvolve com a homossexual Stela ( Paula Burlamaqui ).

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João Emanuel Carneiro: História ousada, provocação ao folhetim tradicional

Nos números da audiência, “A Favorita” começou mal: sua estréia teve uma das piores médias de novelas do horário, marcando 35 pontos e 49% de share. Com o tempo, no entanto, a produção se recuperou – e como. Em seu penúltimo capítulo, registrou sua melhor média, 52 pontos, pico de 55 pontos e share de 76%. Foi o maior índice da Globo em cinco anos, desde a exibição de “Senhora do Destino”.

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