Chacrinha traz a anarquia de volta à TV

Canal Viva exibe o clássico programa do Velho Guerreiro aos domingos

E continuando com sua programação especial, comemorando um ano no ar neste mês de maio, o Canal Viva (da TV por assinatura) resgatou pérolas do arquivo da TV Globo. Além da minissérie "Anos Dourados" e do seriado "Armação Ilimitada", o Viva traz também outro clássico dos anos 80: o "Cassino do Chacrinha", no ar desde domingo (08).

Foto: Divulgação/Viva
O apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Ao fundo, Rita Cadillac



Quem foi Chacrinha?

Um dos maiores comunicadores da história do Brasil, Abelardo Barbosa nasceu em Pernambuco em 1917. Começou sua carreira no rádio como apresentador e locutor nos anos 1940, onde apresentava o programa "Rei Momo na Chacrinha" - a expressão "chacrinha" referia-se a um diminutivo informal da palavra "chácara". Com o tempo, o termo "chacrinha" tornou-se até gíria para designar "fofoca", graças ao sucesso do apresentador.

Foto: Divulgação/Viva
Chacrinha foi um dos maiores animadores de auditório do Brasil
Do rádio, Abelardo Barbosa - já apelidado de Chacrinha - pulou para a TV, onde apresentou alguns programas, culminando com "Buzina do Chacrinha" e "Discoteca do Chacrinha", ambos na TV Globo, entre 1970 e 1972. Mas a emissora, preocupada com os exageros popularescos do programa, e buscando sofisticar seu hoje famoso "padrão Globo de qualidade", descartou o apresentador, que foi trabalhar na TV Tupi.

Na Tupi, Chacrinha permaneceu durante algum tempo, mas a emissora estava prestes a falir, levando o apresentador a migrar para a Band - na época, conhecida como TV Bandeirantes - em 1978. Em 1982, por fim, ele voltou para a Globo, onde comandou durante seis anos o "Cassino do Chacrinha" até morrer, em junho de 1988. E é esse pacote de programas dos anos 1980 que o Viva traz agora.

Foto: Divulgação/Viva
O apresentador era mestre em fantasias bizarras e anárquicas
Tropicalismo e bordões

Responsável pelo conceito de seus programas na TV, misturando circo com teatro de revista numa linguagem anárquica e bizarra, visualmente exagerada, Chacrinha virou até inspiração para o movimento tropicalista da MPB - e foi até citado na canção "Aquele Abraço", de Gilberto Gil , em 1969: "Chacrinha continua balançando a pança, e buzinando a moça e comandando a massa..."

Ele também era mestre em inventar bordões que colavam e eram repetidos pelo público, como "Terezinha!", "Eu vim para confundir, não para explicar", "Quem não se comunica, se trumbica" e "Roda, roda e avisa".

Outra mania de Chacrinha era atirar comida para o público. O apresentador jogava sacos de farinha na plateia, abacaxis, frutas e legumes em geral. Muitas vezes, com comentários de duplo sentido: "Vocês querem o bacalhau da Maria Bethânia ?", gritava ele, atirando o peixe para o público. "Quem quer a mandioca do Tarcísio Meira ?", e lá se ia o legume para os braços da plateia.

Rei do Auditório

Por essas e outras, Chacrinha foi o maior apresentador de programas de auditório do Brasil, ao lado de Sílvio Santos - que segue até hoje uma outra linha de trabalho. Mas a anarquia e a loucura de Chacrinha não deixaram herdeiros, embora muitos apresentadores atuais tentem se inspirar no estilo do apresentador, sem alcançar a mesma espontaneidade do Velho Guerreiro.

A liberdade era tanta que valia tudo no programa do Chacrinha. No corpo de jurados, astros globais como Tarcísio Meira, Glória Menezes e Mário Gomes aparecem fumando cigarros, enquanto Elke Maravilha comia bananas que o assistente de palco Russo oferecia. E cenas antológicas como Fábio Jr. se apresentando, e sendo agarrado por fãs enlouquecidas, obrigando o cantor a beijá-las - enquanto a música continuava tocando, já que os artistas dublavam as faixas no programa.

Foto: Reprodução
Chacrinha cercado por algumas de suas Chacretes nos anos 80
As Chacretes

Outra contribuiçao de Chacrinha para a cultura popular foi a criação das Chacretes. As moças eram aspirantes a dançarinas, e enfeitavam o palco do programa, dançando e fazendo caras e bocas para as câmeras, trajando maiôs laminados e maquiagem carregada.

Chacrinha apelidava as dançarinas com codinomes hilários. Assim, passaram por seu programa Bia Zé Colmeia, Índia Amazonense, Fernanda Terremoto, Fátima Boa Viagem, Soninha Toda Pura, Leda Zepelin , entre outras. E a mais famosa, Rita Cadillac , até hoje uma estrela popular.

Ao longo dos últimos trinta anos, Rita gravou discos como cantora, atuou em filmes e programas de TV, estrelou vídeos pornográficos na década de 2000, fez shows em presídios - como o Carandiru, fato que a levou a repetir a dose no filme "Carandiru", em 2003 - e segue na ativa, aos 57 anos de idade. Em 2010, foi homenageada com o documentário "Rita Cadillac, a Lady do Povo".

Outro documentário lançado em 2010, "Alô Alô Terezinha", mostra um pouco da carreira de Chacrinha, e principalmente focaliza a vida das ex-Chacretes nos dias atuais.

As Chacretes foram depois imitadas por inúmeros programas. O "Clube do Bolinha" tinha As Boletes, Angélica teve Os Angeliquetes, Xuxa teve As Paquitas e Os Paquitos... e mesmo o atual "Domingão do Faustão" tem um grupo de dançarinas aeróbicas diretamente inspiradas pelas Chacretes.

Rock nacional


Mais uma contribuição importante de Chacrinha foi no ramo musical. Durante a década de 1980, com o estouro do rock nacional, o programa do apresentador tornou-se palco essencial para o sucesso de bandas que marcariam o pop-rock brasileiro. Por lá passaram e se consagraram grupos como Barão Vermelho (com Cazuza nos vocais), RPM, Kid Abelha, Titãs, Legião Urbana, Capital Inicial e Paralamas do Sucesso, entre outros.

Estar no "Cassino do Chacrinha" significava cair nas graças do público, e ter suas músicas executadas em rádios de todo o Brasil, além de vender milhões de discos, numa época em que as gravadoras ainda dominavam o mercado musical.

Ao longo de seis anos, Chacrinha foi ao ar todos os sábados, das 16h às 18h, na TV Globo, com o "Cassino do Chacrinha", totalizando cerca de 300 programas. Um pouco dessa história pode ser revista agora. O Canal Viva exibe o programa aos domingos, também das 16h às 18h.

Foto: Divulgação/Viva
Chacrinha, no ar aos domingos, às 16h, no Canal Viva
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