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Regiane Alves comenta censura ao beijo em Vai na Fé: ‘Senti um baque’

Intérprete de Clara conta bastidores de cenas com Priscila Sztejnman após polêmica do corte de beijo e avalia trabalho com o vilão vivido por Emílio Dantas

Foto: Reprodução/Globo/Manoella Mello - 24.05.2023
Regiane Alves interpreta Clara em 'Vai na Fé'


Regiane Alves vive uma “ressaca emocional” enquanto conversa com o iG Gente sobre o papel de Clara, em “Vai na Fé”. O sentimento foi causado pela gravação de cenas intensas com o Theo, vilão interpretado por Emílio Dantas. Com uma carreira marcada por vilãs odiadas, agora a atriz inverte o cenário e nota a maior repercussão da trajetória desde Dóris, de “Mulheres Apaixonadas” (2003), junto a uma raiva compartilhada ao marido da personagem.

Enquanto Dóris causava repulsa do público e impedia Regiane de sair na rua, agora a atriz é parada por telespectadores com pedidos para “reagir” e “mandar esse homem embora” para ficar com Helena, interesse romântico vivido por Priscila Sztejnman. No entanto, o atual trabalho não a afasta de controvérsias e foi marcado por uma polêmica recente, em que a Globo foi criticada por  censurar um beijo entre as personagens na trama de Rosane Svartman.

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“Clarena”, como os fãs chamam o casal, já tinha ganhado um beijo na telinha antes do caso, mas Alves diz que “sentiu um baque” ao descobrir a resistência da emissora com um beijo entre duas mulheres. “No primeiro beijo, eles estavam um pouco em dúvida, mas colocaram. Mas o Paulo Silvestrini [diretor] já tinha me procurado, falando que eles queriam ter muito cuidado para serem personagens mais aceitos do que já estavam sendo e que talvez não entraria no ar”, relembra.

“Tanto eu, quanto a Priscila e a Ju Almeida, uma diretora que é lésbica e dirige a maioria das nossas cenas, sentimos um baque de como seria. Até porque, para a artista que estuda e faz uma cena, ela quer que a cena aconteça. A partir do momento que ocorre uma edição, acaba prejudicando um pouco, no sentido de contar aquela história, de como seria. Mas se a Rosane [autora] colocou, é porque ela quer que seja contada”, completa.


Regiane questiona o motivo de um beijo entre mulheres ser tão polêmico enquanto há outras questões sérias da novela que não geram incômodo do público. “É muito louco, porque na história o Theo teoricamente é um estuprador e as pessoas estão aceitando. Estão falando de um estuprador e todo mundo está ‘ok’. Agora um beijo de duas mulheres, por que incomoda tanto? O que agride tanto?”, pondera.

A artista conta que já se indagou dos motivos que levam ao incômodo, mas acredita que a resposta de tal pergunta “não pertence” a ela. “Estou tentando colher informações para poder ter essa resposta, não sei. Porque vejo a empresa onde trabalho há 24 anos muito à frente do seu tempo [...] Sou intérprete de uma história, em que são muitas pessoas envolvidas - emissora, direção, autores e público. Sou só um pedacinho desse todo”, afirma.

Regiane Alves entrega os bastidores em cenas com Priscila após a controvérsia: “Daqui para frente, a gente está fazendo as cenas com beijos”. “Mas, na verdade, nunca teve um beijão assim, nunca veio escrito que é um beijo de língua e tal, não existe isso. Existe uma relação de parceria entre as duas, de apoio e que coloca sempre a Clara como uma ‘mola’ para Helena. Estamos fazendo com maior amor, eu e a Priscila não deixamos de fazer”, complementa.


Clara é a primeira personagem LGBT+ que Regiane Alves interpreta e a atriz conta como passou a observar a “luta gigante” da comunidade a partir do apoio do público. “Elas [mulheres LGBT+] querem ser vistas e representadas, querem que uma normalidade seja feita. Eu, Regiane, acredito muito que toda forma de amor vale amar [...] Se o público está pedindo, acho que talvez eles [Globo] pudessem prestar atenção nisso também”, pontua.

A artista também vê a existência das personagens como “um caminho” para a normalidade. “Quando teve polêmica do beijo e da censura, falei: ‘É um passinho de cada vez’. Foi assim que construí minha carreira e é assim que estou me sentindo agora, mais próxima. As duas personagens já são mais um avanço. Colocar na dramaturgia essas duas mulheres, de uma classe bacana, elegantes e delicadas, é bonito. E tem que ter a aceitação. A vida do outro não nos pertence nunca, o que nos pertence é o respeito ao próximo, independente da sua escolha”, destaca.

Alves conta que passa esse tipo de ensinamento para os filhos, João e Antônio. “Tenho muitos amigos gays, que estão sempre ao meu redor, no mundo artístico. Sempre trato com uma normalidade. Falo: ‘O tio namora o outro tio’. E tudo bem, porque o que eles fazem em um quarto ou em outro não pertence a nós, o que pertence a nós é ter o respeito a essas pessoas. Elas não são mais ou menos, elas são iguais a nós, é o ponto da igualdade”, diz.

A atriz ainda explica ter aprendido com Clara a tomar cuidado com a superproteção ao filho, como na trama em que vive uma relação que gera tal reflexão com Rafa, interpretado por Caio Manhente. Regiane enche o jovem ator de elogios: “É muito bonito o que a gente construiu. O Caio é um belíssimo ator. A primeira vez que vi ele no vídeo, falei: ‘Meu Deus, ele preenche tudo, tem uma profundidade’. Ele é muito talentoso, um dos atores dessa geração que bato palmas, adoro fazer cenas com ele”.

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Apesar de protagonizar situações tensas com Emílio Dantas na ficção, a artista expõe que o clima nas gravações com o ator é tranquilo. Regiane revela já ter filmado o momento esperado pelo público em que manda Theo para fora de casa. A cena foi marcada por quebra de objetos e, curiosamente, por risadas entre os cortes de câmera.

“Ele é muito bom e parceiro, tenho mil elogios para fazer o Emílio. Ele é um ser divertido, livre e entregue, você vê que ele está se divertindo. Para você fazer esse tipo de cena, você tem que ter outro amigo que jogue com você. Fazemos cena tensa e depois damos uma boa gargalhada juntos. Tivemos várias cenas em que disse: ‘Emílio, desculpa se te apertei, se te machuquei’. Ele: ‘Imagina, estava ótimo. Temos uma troca muito boa”, compartilha.

Regiane Alves reconhece “Mulheres Apaixonadas” como um “divisor de águas” na carreira e nota “Vai na Fé” como um projeto significativo para Dantas. “Esse é um dos grandes papéis do Emílio, com certeza. É um personagem maravilhoso. Os vilões sempre têm a coragem em primeira mão, sempre o que as pessoas têm vontade. É como se a gente tivesse que ser mais polido e ele é um personagem que vai lá e coloca tudo para fora. Realmente, acho que a Rosane escreveu ele perfeitamente", elogia.


+ O "AUÊ" é o programa de entretenimento do iG Gente. Com apresentação de Kadu Brandão e comentários da equipe de redação, o programa vai ao ar toda quarta-feira, às 12h, no YouTube, com retransmissão nas redes sociais do portal.