"Sonho com mais protagonistas gordas", diz Rafaela Ferreira
Atualmente em "Poliana Moça", do SBT, atriz comenta desafios de combater a gordofobia na televisão
No ar em "Poliana Moça" como a chef Nanci, Rafaela Ferreira também é ativa nas redes sociais contra a gordofobia. A atriz, com quase dois milhões de seguidores no Instagram, luta contra estereótipos do corpo gordo na internet e na sociedade. Para o iG Gente, Rafaela comenta como é abrir espaços para atrizes gordas na mídia e os desafios na novela do SBT.
Rafaela diz que Nanci, personagem simpática e lutadora da trama, é fruto do esforço para ser um exemplo para pessoas gordas que assistem à novela. "Me esforço bastante, sempre tento ao máximo estar ali presente. Acho a Nanci muito forte, uma inspiração muito grande. Eu, quando criança, não tinha uma Nanci na TV, que dá a volta por cima e que abre um próprio negócio. Penso que a Nanci tem muita coisa bonita para trazer para as pessoas. Sinto que ela tem muito a mostrar ainda", comenta.
A personagem, para Rafaela, não reforça estereótipos gordos na televisão. Ela diz que caso algo aconteça, tem liberdade no SBT para dizer que aquilo é ou não gordofóbico. "Quando acontecem algumas coisas, às vezes acontecem, alguns diretores têm abertura para conversar. Como sociedade estamos evoluindo muito", afirma. Ela também diz ser necessário mudar o cenário para atores gordos.
"Precisamos tirar os estereótipos desse corpo gordo, socialmente e estruturalmente vivemos a gordofobia. É comum hoje que alguém vire e fale que precisa emagrecer, é comum ver alguém se sentir mal por engordar, observamos que os corpos gordos não têm acesso, não entrando em um transporte público, em um avião, não encontrando roupas com facilidade. Seguimos nessa aura, é difícil ver pessoas escrevendo fora desse lugar e da caixinha gordofóbica", conta.
"Sonho com mais protagonistas gordas, mais personagens que fujam dos estereótipos. A gente ainda está naquele sentimento de ‘que bom que tem um corpo gordo nesse espaço’. Mas seguimos longe de encontrar uma segurança de que as personagens não repitam estereótipo", aponta.
A atriz comenta que apesar das evoluções, a estrutura de atuação segue gordofóbica. "O todo é gordofóbico, na seleção de atores é por perfil, se não estiver escrito gordo, não vão me escolher para o perfil. Se estiver só ‘advogada, 30 anos’, vão procurar uma atriz magra, branca e com todos os estereótipos possíveis. Fica difícil acessar", diz.
Rafaela já viveu muitas situações gordofóbicas, mas entende que a maioria delas não ocorreu por vontade da pessoa que cometeu a gordofobia. "A mídia, de modo geral, em um elenco de 60 pessoas, eu sou a única gorda, quando não tem mais um homem e uma criança, isso sendo otimista, então o ambiente vai ser gordofóbico", conta.
A atriz revela que por não se ver na televisão, teve medo de sonhar com o trabalho de atriz. "Foi difícil para mim, fiquei o tempo todo dizendo: será? Entrei na faculdade me perguntando, eu com o diploma na mão me questionando. Temos que nos afirmar o tempo inteiro", diz.
Muitos papéis interpretados por atores gordos são de comédia e trabalham com o humor depreciativo. Rafaela diz que é necessário dar liberdade para atores — gordos ou não. "O problema está no humor depreciativo, tanto auto-depreciativo, quanto depreciar o outro, principalmente o corpo. Não precisa, conseguimos chegar em um ponto onde isso não é legal, agora, não sendo isso, acho que devemos ter liberdade para fazer o que quisermos, seja drama ou comédia", afirma.
E a atriz ainda completa: "Bacana é poder escolher, se entender como ator e atriz. Penso que o caminho é mais esse, ter consciência que piada gordofóbica não é piada".
Trabalho como influenciadora
Nas redes sociais, Rafaela mostra os trabalhos atuando e também faz conteúdo contra a gordofobia. A atriz conta que pelas aparições em "Aventuras de Poliana" e em "Poliana Moça", recebe diversos relatos de pessoas com o mesmo sonho de atuar na televisão.
"Já recebi perguntas genuínas dizendo: ‘posso ser ator sendo feio?’, ‘posso ser ator sendo gordo?’, porque as pessoas não se veem ali, por isso que representatividade é tão importante. Se não se veem, não acham que é possível. Eu estou ali para alguém ver e dizer: ‘se ela está ali, eu também posso’", conta.
"Vai chegar a hora de tanta atriz gorda por aí, que não terá como não dar espaço. É como no caso das influencers, são tantas influenciadoras incríveis que a mídia não pôde dar as costas", comenta.
Para Rafaela, a novela do SBT dá exemplo para diminuir o bullying. "Eu recebo muitas mensagens sobre, no YouTube eu leio pessoas dizendo que mudei a vida delas, que mudaram o pensamento, de adolescentes também. Recebi uma foto de uma criança igual a mim quando era pequena dizendo que queria ser atriz como eu, é sobre isso, fazer a diferença", avalia.