"Além da ilusão": Calloni se inspira na avó para viver esquizofrênico
O ator que interpreta Matias conta que a avó sofria com alucinações: "Eu era o único que a trazia de volta"
Um homem justo e ético, que acha que nunca perde e erra. É assim que Antonio Calloni define Matias, seu personagem em “Além da ilusão”. O rígido juiz acaba matando Elisa (Larissa Manoela), sua filha predileta, e incrimina Davi (Rafael Vitti). Carregando a culpa do crime, ele vai perdendo o juízo aos poucos e, no capítulo de hoje, começa a mostrar os primeiros indícios da jornada difícil que enfrentará. A seguir, Calloni conta mais sobre o papel, de como sua avó o inspirou e outros detalhes de sua vida, como o amor pela pescaria.
Matias é um vilão?
Ele vai muito além do vilão, mas não acho incorreto chamá-lo assim. Eu o vejo como um ser humano que ama a família, mas comete um crime gravíssimo. Por conta disso, a vilania fica aparente, mas ele não é um criminoso, ele vira um. E, então, se perde completamente, enlouquece.
Acha que ele vai causar compaixão ou antipatia no público?
Esta pergunta eu faria a você (risos)! As opiniões vão ser diversas e todas são válidas, do ódio à compaixão. Mas acho que o ódio vai prevalecer.
Matias é um pai severo. Como você era com seu filho?
Sempre fui companheiro de Pedro (de 28 anos), respeitando suas necessidades, mas disposto a dar limites na hora e na idade certa. Depois de um tempo, é o filho que dá limite aos pais! Ilse (Rodrigues, sua mulher) é uma mãe excepcional. Minha relação com ela também sempre foi boa, de um grande companheirismo, sem querer pintar um universo cor de rosa. Meu filho mora em Los Angeles, mas os milagres da tecnologia resolvem a questão da saudade.
Como será a abordagem da esquizofrenia na novela?
Depois da tragédia, ele começa a manifestar uma “demência precoce”, como a doença era chamada. É um elemento fundamental para o personagem. Delírio para um ator é um prato cheio! Minha avó foi meu ponto de inspiração. Não lembro o diagnóstico, mas ela também tinha alucinações. A única pessoa que conseguia trazê-la de volta era eu quando criança, intuitivamente. Eu tinha uns 11 anos. Ela ficava na porta do quarto esperando o trem passar, gritando para ele parar. Eu falava que também tinha visto o trem, mas que não estava mais vendo os trilhos, procurava com ela pela casa. Aos poucos, ia fazendo ela perceber que não havia nada, e ela ficava calma. Meus pais ficavam apavorados, achavam que eu também estava enlouquecendo.
Você já passou por alguma perda que o deixou muito desorientado?
Quando perdi meus pais foi muito delicado, mas já era esperado. Não foi de repente. Também passei um momento muito duro com a morte de uma irmã. Mas continuo achando que a vida sempre ganha. Ela é a única solução!
Qual é a importância dos temas que a novela vai abordar?
Eu destacaria, por fazer parte do meu núcleo, a discussão sobre o patriarcado e como ele tenta oprimir esse feminismo que sempre existiu e está ganhando mais força. É importante que esse debate continue e se estabeleça cada vez mais.
Encontrou amigos na novela?
Houve um reencontro fantástico com Paloma Duarte. Fizemos “Terra nostra” (2000) e ela me mandou uma foto dela com a filha Clara e eu com meu filho, ambos pequenos, sentados num banquinho na gravação. Não só está todo mundo grande agora, como contracenei com Clara fazendo o papel de Paloma jovem!
Como é se ver 20 anos mais novo em “O clone”?
Muito legal! “O clone” foi um fenômeno e ainda recebo mensagens do mundo inteiro, principalmente da Rússia. Eles amam a novela lá! Eu vejo o envelhecimento com prazer. O tempo é uma coisa muito misteriosa, mas sempre fui amigo dele, não me assusta.
O que o distrai fora da TV?
Eu amo pescar. Já pesquei um marlim de 216 quilos! Quando as pessoas acham que é mentira, eu não fico chateado, não. O correto é achar mesmo que é mentira, achar que a verdade é um problema! Pescador é um mentiroso contumaz (risos).