Rival de Maria da Paz, atriz angolana bilha em "A Dona do Pedaço"
Heloisa Jorge, a Gilda na novela das 21h, se posiciona contra o preconceito
Por Agência O Globo |
Heloisa Jorge tinha uma missão em “ A dona do pedaço ”: duelar, na pele de Gilda, com Juliana Paes (Maria da Paz) pelo amor de Marcos Palmeira(Amadeu). A pesar do conflito, as duas atrizes demostram em cena um clima de empatia e aliança feminina.
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"Quisemos deixar as sequências leves. É como se fosse o encontro de duas pessoas maduras, inteligentes. Elas sabem em que situação estão envolvidas e, de alguma forma, apoiam-se", analisa Heloisa Jorge
, que é angolana e mora no Brasil desde os 12 anos (está com 35).
A experiência de ter vivido uma guerra civil, a distância da família e a necessidade de mudar de país ainda muito jovem fizeram com que amadurecesse rapidamente. Mas foi só na Bahia, quando cursava teatro em Salvador, que teve consciência de quem era.
"Até então, me achava feia. Morei em Salvador por dez anos, e creio que só a partir do quarto ou quinto ano elevei minha autoestima e comecei a me achar bonita", conta. "Passei a me comparar com outras mulheres negras, lindas, que falavam com orgulho de quem eram, e isso me inspirou. Antes, eu falava baixinho que era de Angola, era tímida, sofri muito na época da escola, quando ainda morava em Minas. Salvador me trouxe uma ousadia e um abuso necessários."
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Sua primeira novela no Brasil (e na vida) foi “Gabriela” (2012) — que, por coincidência, também tinha Juliana Paes no papel principal. Dividida entre dois países, ela depois foi convidada para protagonizar uma produção na TV angolana, “Jikulumessu”. Na trama, vivia Djamila, que ostentava black power, até então uma novidade na TV local.
"Minha personagem usava o meu próprio cabelo, e isso influenciou as meninas de lá. A atriz que fazia o meu papel na primeira fase teve que usar uma peruca para ficar com um black, porque tinha cabelo liso", lembra. "Isso foi um choque para as pessoas, que estavam acostumadas com as novelas brasileiras e portuguesas, que normalmente mostravam as negras com os fios alisados até então".
Orgulho da trajetória
Também cantora das boas (viveuIvone Lara jovem no musical sobre a a sambista), a atriz afirma que assumir os crespos, ainda choca algumas pessoas.
"Às vezes, eu só quero ir à padaria, mas isso significa que a pessoa vai parar você na fila e ficar te olhando de um jeito estranho. E aí ela vai tomar coragem de perguntar: 'É seu cabelo?'", observa. "E ainda se sentem na liberdade de tocá-lo. Acho inadmissível. Se o contrário não é permitido, então por que o corpo negro suscita essa permissividade? E, se você reage, isso é visto como problemático."
A atriz agora tem orgulho de sua trajetória. Nos próximos capítulos, sua personagem Gilda ainda vai encarar dificuldades por conta do câncer de pulmão e pelo amor doentio por Amadeu. Para essa fase, a atriz fez entrevistas com mulheres que encararam a doença.
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"Queria entender o que sentiam. Uma das coisas que me falaram tem a ver com a autoestima. Rolou uma cena em que Gilda confessou que 'tinha medo de ficar feia e de Amadeu não olhar mais pra ela'. Isso foi criticado nas redes, mas o conflito dela não é o câncer, é o medo de perder o amor."