Há quem diga que gato preto dá azar e há quem não acredite nisso. Não dá para culpar os pobres gatos pelos azares de “O Sétimo Guardião”, mas o animal místico poderia ser um prenúncio (juntos com outros problemas nada místicos), de que a novela passaria longe de ser um sucesso.
Fracasso não é uma palavra usual quando se fala de Aguinaldo Silva. Um dos maiores autores da dramaturgia brasileira, o criador de “ O Sétimo Guardião ” acumula sucessos – de audiência e crítica, mas nem seu prestígio serviu para salvar uma das novelas com pior audiência dos últimos anos.
Os sinais, porém, estavam lá. Antes mesmo da novela ganhar vida, quando ainda era um argumento, ela foi parar na Justiça . Aguinaldo Silva , que desenvolve anualmente uma “Masterclass” viu seus alunos o processarem por conta da sinopse, desenvolvida durante o curso.
A questão foi resolvida a tempo e a novela não precisou ser adiada, mas o entrave judicial era o primeiro sinal dos problemas que a trama enfrentaria . Além disso, foram muitas as crises de bastidores: rumores de traição , briga entre protagonistas , afastamento de ator por problemas de saúde.
Mas tudo isso seria irrelevante se a história se sustentasse, o que não acontece. No geral a trama foi fraca, e Silva abusou dos estereótipos, mesmo com tantas boas possibilidades ao retornar ao realismo mágico. Mais preocupado em reviver seus tempos de glória como “A Indomada”, ele somou referências, mas não apresentou nada novo.
Sua melhor história, envolvendo os excêntricos guardiões, foi deixada de lado em prol do mesmo dramalhão de sempre e só ganhou destaque quando eles foram assassinados. E nem assim ele acertou, ao matar primeiro Joubert (Milhem Cortaz), um dos melhores e mais complexos personagens.
Do céu ao inferno
A audiência da Globo não é a mesma nos últimos anos, e as novelas das 21h sofrem os efeitos disso. A emissora amargou uma sequência de produções cuja média de audiência não alcançava os 30 pontos: “Babilônia” (2015), “A Regra do Jogo” (2015/2016), “Velho Chico” (2016) e “A Lei do Amor” (2016/2017) fizeram muitos se questionarem se o formato da telenovela havia se desgastado.
Curiosamente, antes dessa leva de novelas ruins, havia sido justamente Aguinaldo Silva que tinha dominado o horário com “Império”, que teve 33 pontos de média. Os mesmos 33 pontos que poucas vezes foram alcançados por “Guardião”, que mantém uma média de 29 e chegou a amargar 15.
Na década, ele ainda teve outro sucesso com “Fina Estampa”, que chegou a fazer quase 50 pontos. Aliás, antes de “O Sétimo Guardião”, sua trajetória no horário nobre é invejável. As novelas desenvolvidas por Silva não só eram sucesso de audiência como foram tão marcantes que permanecem na memória do público até hoje, como “Senhora do Destino” (2004). Para comparar, a pior audiência da novela protagonizada por Susana Vieira foi 34 – mesmo número da melhor audiência da atual. “Senhora” chegou a superar 65 pontos em determinados capítulos, e desde então já foi reprisada diversas vezes na televisão.
Em 2001, novamente apostando no realismo mágico, fez “Porto dos Milagres” que, além de alçar Flávia Alessandra ao estrelato, teve média de 44 pontos de audiência. “Suave Veneno”, que não teve bom desempenho no começo, concluiu com 52 pontos em 1999 e “A Indomada”, lembrada até hoje, manteve média de 47 pontos.
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Aguinaldo Silva manterá seu nome entre os grandes da teledramaturgia mesmo com uma novela ruim, claro. Sua contribuição para o entretenimento e para a produção audiovisual, porém, sofre um baque com “ O Sétimo Guardião ”, uma novela que não está a altura de um grande autor.