Novos tempos: Globo muda contratos e atores ficam livres para outras emissoras

Mudança de contratos de atores na Globo pode mudar relação de artistas com a emissora e aumentar o trânsito por outros canais

A Rede Globo conta com grandes nomes em seu casting e por isso sempre fez o possível para manter a exclusividade deles. Por muitos anos, os atores tiveram longos contratos e não podiam fazer trabalhos externos, nem mesmo participações em programas de outros canais, ainda que estivessem fora do ar. Por mais que impedisse os atores promover trabalhos como filmes e peças de teatros, o acordo era beneficiário pois eles continuavam recebendo, mesmo sem estar trabalhando.

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Foto: Divulgação
Globo investe em contratos por obra e atores podem transitar por outros canais e formatos

Porém, as coisas tem mudado. Apesar das novelas continuarem sendo o maior formato de audiovisual do Brasil, a audiência já não é a mesma, e a televisão tem que lidar com streamings, canais fechados, e uma variedade cada vez maior de programas. Claro que isso acaba afetando também o faturamento do canal. Por isso, ao longo dos últimos anos, a Rede Globo tem mudado sua estratégia de contrato de atores, e muitos nomes consagrados no canal foram dispensados, fazendo contratos por obra.

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Entre os tipos de contratos oferecidos pela emissora, o por obra era exclusivo para nomes menores, enquanto o primeiro escalão assinava por 10 anos, com grandes chances de renovação. A emissora, porém, quase não tinha concorrência. O SBT tinha poucas produções nacionais, focando em importar produtos latinos. Já a Record não tinha grande representatividade em folhetins até os anos 2000. A partir daí, a emissora de Edir Macedo passa a investir no formato e engata produções com atores liberados pela Globo na época, como Marcelo Serrado, Bianca Rinaldi e Lavínia Vlasak.  

A mudança de cenário, no entanto, não surtiu tanto efeito na Globo, que ainda mantinha o monopólio das estrelas nacionais. Com algumas exceções como Rodrigo Santoro e Wagner Moura , a maioria dos atores preferia esses contratos, que garantiam participações em produções da casa, mas eram flexíveis o suficiente para que eles investissem em filmes ou peças de teatro eventualmente.

Novos tempos

Foto: Reprodução
Luiz Fernando Guimarães não quis renovar com a rede Globo

Foi apenas por volta de 2014 que esse formato de longos contratos começou a ser abandonado. Desde então, a Globo tem mudado sua lógica e apostado em contratos curtos ou por obra. Sendo assim, grandes nomes da casa não tiveram contrato renovado, como Carolina Ferraz , que foi dispensada da emissora este ano. Presença constante em novelas, a Rede Globo não renovou com ela. O que não significa que ela não possa voltar para programas futuros. Já Luiz Fernando Guimarães, contratado da emissora por 30 anos, decidiu não renovar. Assim que saiu da emissora, ele deu entrevista para Fábio Porchat, apresentador da Rede Record. No talk-show, ele falou que a Globo não tinha novos projetos em mente para ele, portanto ele optou por não continuar no canal.

Benefícios

Em alguns casos, os contratos por obra são beneficiários para os próprios artistas. Caio Castro , por exemplo, se recusou a assinar um longo contrato já que o valor não lhe pareceu vantajoso, nem a “falta de liberdade” para assumir outros trabalhos. Apesar de um mal estar inicial com a Globo, ele acertou um contrato por obra e segue engatando papeis na emissora, o mais recente deles como D. Pedro em “Novo Mundo”. “Nós estamos em um momento no Brasil de muitas produções cinematográficas, muito seriados. Esse formato dá oportunidade para o artista testar outros produtos em outras emissoras e outros canais”, explica Dell Santhos, agente de novos talentos de uma agência paulistana.

Mas a Globo também abre exceções: Caio Blat, por exemplo, tem contrato de curto prazo com a emissora, e não por obra. Mas pode ser liberado caso haja uma oportunidade que lhe interesse. Ele participou neste ano de uma série da BBC inglesa, McMáfia, com a autorização da casa.

Foto: Reprodução/Globo
Maria Fernanda Cândido e Dan Stulbach voltaram as novelas a pedido de Glória Perez

O casal de “ A Força do Querer ”, Eugênio (Dan Stulbach) e Joyce (Maria Fernanda Cândido), são ótimos exemplos de que os dois lados podem ceder. Stulbach, que não fazia novelas desde “Fina Estampa” em 2011, se viu de volta a plantinada a convite de Glória Perez. O ator, que testou sua habilidade como apresentador nos últimos anos, pode ser visto na Band e na Globo ao mesmo tempo este ano. Enquanto protagonizou a novela, foi ao ar “Era Uma Vez Uma História”, programa que recontava grandes acontecimentos mundiais que ele já tinha gravado na emissora paulistana.

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Já Maria se afastou das telinhas para cuidar dos filhos, sem perspectiva de retorno. Por vezes ela ensaiou uma volta à Globo, mas sempre em papeis menores ou participações em séries e outros programas da rede, como GNT. Dessa vez, com os filhos um pouco mais velhos, ela pode conciliar família e trabalho e, também a pedido de Glória voltou ao horário nobre.

As apostas

Foto: Carlo Locatelli/Agência Sagarana
Sem contrato fixo, Arianne Botelho tem emendado trabalhos na emissoras

A emissora ainda mantém algumas apostas com contratos fixos, mas mesmo assim eles são de curta duração. Felipe Simas , por exemplo, despontou na temporada de 2014 de “Malhação” e, desde então, tem sido presença recorrente na emissora. Fez “Totalmente Demais”, participou do quadro do Faustão, “Dança dos Famosos” e já engatou outro personagem em “Os Dias Eram Assim”. Marina Ruy Barbosa e Bruna Marquezine também entram nesse esquema. O contrato para esses artistas requer que eles apareçam em algum programa do canal ao menos uma vez ao ano. Apesar de terem ficado fora das produções em 2017, ambas retornam no mesmo folhetim, “Deus Salve o Rei”, em 2018.

Outros casos como o de Arianne Botelho , cliente de Dell, o contrato é por obra, mas a atriz também tem emendado um papel no outro. Logo que encerrou sua participação na minissérie “Amorteamo”, Arianne foi reservada para a “A Lei do Amor”.

Futuro

O monopólio da Rede Globo por seus atores pode ser a maior diferença com a implantação desse novo esquema. Com os atores mais livres, eles podem, com o tempo, começar a participar de programas de outras emissoras, abertas e fechadas, e emendar papeis em novelas com séries, por exemplo. Dell comenta que essa liberdade é boa para o artista pois, além dele poder testar suas habilidades em outros produtos, além de não ficar parado. “Às vezes é legal fazer contrato de dois, três anos, mas o artista um ano e meio esperando outra obra”, explica. Sem esse vínculo, o ator está livre para buscar novos trabalhos.

Foto: TV Globo
Com a incerteza de um contrato, Joana Fomm optou por trocar a Globo pela Record

Muitos atores, inclusive, ganham dinheiro fazendo presença VIP em eventos. Apesar de não abrir abertamente esse valor, especula-se que o cachê para ter a participação de Caio Castro em um evento gira em torno de R$ 60 mil. Alguns artistas, porém, não tem esse privilégio, e acabam optando pelos trabalhos disponíveis. Joanna Fomm , por exemplo, veterana da televisão brasileira que se viu sem contrato fixo com a Globo foi confirmada na próxima novela da Record. O problema é que a atriz estava cotada para o novo folhetim de Aguinaldo Silva, que estreia em 2018. Sem uma confirmação oficial, Fomm preferiu se garantir e assinou com a Record .

No longo prazo, essa mudança na Globo pode gerar uma movimentação maior de atores entre produtos e canais. E fomentar formatos ainda pouco explorados no Brasil. As séries da HBO Brasil, por exemplo, são sucesso de crítica, mas tem público pequeno. Com a liberdade para transitar pelos canais, poderemos ver artistas do primeiro escalão além dos capítulos das novelas.

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