BIOGRAFIA

Alberto Dom Abravanel vivia na Grécia e achou que a situação estava cada vez mais difícil para quem era judeu quando o Império Turco-Otomano aliou-se à Alemanha durante a 1ª Guerra Mundial. Passou por Salônica, mas não viu outro jeito senão embarcar para o Rio de Janeiro, bem longe daquela confusão, onde nasceu seu primeiro filho, Senor.

Senor, que mais tarde escolheria o nome Silvio Santos, mais fácil de ser entendido no Brasil, tinha uma caixa de miudezas para vender. Resolveram incentivar o talento do filho. No sábado, chiques, iam ao cassino jogar.

Quando Silvio fez 14 anos, o pai perdeu a loja, a mãe passou a costurar para sobreviver. Ele trabalhava na esquina da av. Rio Branco com a rua do Ouvidor. Era o melhor camelô do Rio de Janeiro, diziam. O Diretor de Fiscalização da Prefeitura o viu e ficou impressionado. Em vez de prendê-lo, deu a ele um cartão para a Rádio Guanabara.

O salário como locutor da rádio era menor que a féria de um camelô. Ele esperava o almoço da fiscalização e em 45 minutos ganhava o suficiente.

Passou a trabalhar na rádio Continental, em Niterói. Voltava na última barca, com as meninas que iam para os dancings. Teve a ideia de montar um sistema de alto-falantes para animar quem viajava na barca. De quebra, montou um bingo no local. Faturou um bom dinheiro. Silvio sempre gostou de jogos. De repente, a barca foi para o estaleiro. Foi aconselhado a ir para São Paulo.

Montou um circo em frente à Igreja Santa Cecília, eram três espetáculos por noite, ele ficava vermelho de tanto falar. Logo foi apelidado de “peru que fala” As caravanas do Peru Falante ficaram famosas na cidade de São Paulo, interior e outros Estados.

Ele passou à TV, adaptando o formato de shows e sorteios de circo. Seu primeiro programa estreou em 1962: chamava-se “Vamos Brincar de Forca”, transmitido à noite pela TV Paulista. Em 1964, passou a comandar seu programa aos domingos. No início era das 12h às 14h. Com o tempo, porém o formato seria expandido e aprimorado transformando-se no “Programa Sílvio Santos”.

Silvio Santos nunca foi homem de um negócio apenas. Comprou do amigo Manuel da Nóbrega o Baú da Felicidade, empresa que originalmente vendia baús de presentes de Natal para crianças mediante pagamento em prestações. Depois de uma reforma nos negócios, a empresa ficou conhecida pela venda de carnês e sorteios.

Quando a TV Paulista foi incorporada à Rede Globo, Silvio seguiu com seu horário dominical, cedido mediante aluguel. Era ele que revendia os anúncios publicitários. Silvio prosperava. Sorteava carros, móveis, eletrodomésticos; criou outras empresas (Móveis Tamakavy, veículos Vimave). Enfim, montou um feudo de negócios na Globo.

Os diretores da emissora não podiam influir no programa. O próprio Roberto Marinho, fundador e dono da emissora, convenceu Silvio a ficar mais quatro anos. Mas ele queria seu próprio canal. Foi até Brasília. No dia 22 de outubro de 1975, o presidente Ernesto Geisel concedeu a Silvio Santos o canal 11 do Rio de Janeiro. Ele passou a transmitir no Rio e em São Paulo, através da TV Tupi.

Com a falência da Rede Tupi, em 1980, o programa Silvio Santos em São Paulo foi para a Record, que já era 50% de Silvio desde quando ele estava na Globo. Teria usado um “laranja” para comprar metade da emissora, que tinha Paulo Machado de Carvalho como seu outro sócio.

Silvio Santos planejava adquirir uma rede nacional de televisão, ter uma programação completa e usar o canal para sorteios e promoções. No fim dos anos 70, um dos últimos soluços do regime militar foi conceder uma forma de Silvio Santos obter uma rede nacional, a TVS, hoje SBT.

Em 1987, Silvio Santos, um homem de negócios, teve suspeita de câncer de garganta. Ficou algumas semanas sem gravar seu programa, para fazer tratamentos no exterior. Recebeu milhares de manifestações – simpatias, promessas, manifestações de todo o país, uma paixão que o homem de negócios logo viu como oportunidade de se lançar à política, como forma de retribuição ou forma de ganhar algo com tanta devoção demonstrada pelo público.

Propôs em 1988 uma candidatura a prefeito de São Paulo, enfim não concretizada. Em novembro de 1989, tentou ser candidato a presidente pelo pequeno Partido Municipalista Brasileiro, no lugar do pastor evangélico Armando Corrêa. Mas teve a candidatura cassada, pois a mudança de candidato do partido às vésperas do pleito infringia a lei eleitoral. Também foi cotado para substituir o candidato Aureliano Chaves (1929-2003), do então PFL (atual DEM), o que não se concretizou.

Em 1990, Silvio Santos e Paulo Machado de Carvalho (1901-1992) venderam a Rede Record para o Bispo Edir Macedo. O SBT já estava consolidado nacionalmente, mas mesmo assim Silvio teria relutado em vender seus 50%.

O Grupo Silvio Santos é formado por 37 empresas, com cerca de 20 mil funcionários, incluindo o Baú da Felicidade, a rede de lojas do Baú, a Liderança Capitalização (que opera a Tele-Sena), o Hotel Jequitimar e empreendimentos agropecuários, além do Banco Panamericano, que recebeu propostas de compra em 2004 e 2005 por grupos financeiros do Brasil e do exterior, todas recusadas por Silvio Santos.

Apesar de ser visto como um "comprador nato", Silvio se desfez de algumas empresas nos anos 80: o CLAM (Clube de Assistência Médica), o plano de aposentadoria privada Aposentec e as lojas de móveis Tamakavy. Sobre o CLAM, Silvio crê ser muito difícil administrar uma empresa de saúde e que se sentiria indiretamente responsável por falhas que provocassem morte ou graves danos.

Antes preocupado com suas carreira de apresentador, Silvio parecia preparar Gugu Liberato para ocupar o seu lugar. O recente desentendimento e a saída do apresentador rumo à agora rival Record demonstram o contrário. Em 2006, durante as comemorações dos 25 anos do SBT, Silvio afirmou estar preparando sua filha Patricia Abravanel para sucedê-lo nos negócios da família. Desde 2008, Daniela Deyruti, também filha de Íris e irmã mais velha de Patrícia, está no comando da emissora, que tem obtido bons resultados de audiência.

No final de 2010, o Banco Panamericano foi vítima de fraude bilionária e precisou pedir um empréstimo de R$ 2,5 bilhões ao FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Sem saída, Silvio ofereceu o SBT e o Baú da Felicidade como garantias pelo empréstimo. Além disso, em entrevista admitiu, pela primeira vez, vender o SBT.

Reservado em sua vida pessoal, Silvio Santos enfrentou um drama que estampou as manchetes do País em 2001. Uma de suas filhas, Patricia Abravanel, foi sequestrada e liberada mediante pagamento de resgate. Porém, dias depois, o sequestrador Fernando Dutra Pinto invadiu a casa de Silvio Santos depois de executar a tiros dois policiais e manteve toda a família como refém em 30 de agosto de 2001.

Dutra ficou na casa durante sete horas e Silvio calmamente convenceu o sequestrador a libertar rapidamente todas as pessoas da família. Ficou sozinho no cativeiro com o bandido e Fernando só se entregou com a chegada do governador Geraldo Alckmin, que garantiu a integridade do criminoso.

Alguns meses depois, no entanto, Fernando Dutra morreu. Embora o laudo do IML afirme que ele morreu em decorrência de pneumonia e infecção generalizada, um relatório da ONG Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos afirma que ele foi vítima de tortura. O caso não foi esclarecido e sumiu do noticiário.

Reservado, mas não sisudo, Silvio Santos pregou uma peça na imprensa em julho de 2003, durante um período de férias em Orlando, na Flórida. Ele falou à revista “Contigo!” que tinha uma doença terminal e que lhe restavam apenas seis anos de vida. Por isso, Silvio teria vendido o SBT para um consórcio formado por Boni e pela rede mexicana Televisa. Dias depois, o apresentador desmentiu suas declarações nos programas “Boa Noite, Brasil”, apresentado por Gilberto Barros na Rede Banderantes e no Domingo Legal, no SBT. Ninguém até hoje sabe o motivo de embuste de Silvio Santos.

A primeira mulher de Silvio chamava-se Cidinha e morreu de câncer na década de 70. Ele tem duas filhas com ela: Cintia e Silvia. Seu segundo casamento, com Íris, aconteceu no final da década de 70. Desse casamento nasceram Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata Abravanel. Íris é dona da empresa “Sisters in Law”, grife com a cunhada, e tem escrito novelas para o SBT. A família é toda protestante, o que chegou a causar separações durante breves períodos.

De origem judaica, Silvio não é radical, mas até hoje vai à sinagoga do dia do Yom Kipur e faz jejum. Em 1990, Alberto Dines escreveu o livro “O Baú de Abravanel” que narra sete séculos da saga da família, que inclui de filósofos, financistas, médicos, poetas e mercadores, como Silvio.