Queremos saber quem é que vai pagar a conta das mudanças climáticas
Andréa Martinelli
Queremos saber quem é que vai pagar a conta das mudanças climáticas

A

sigla COP” é uma referência à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Passados mais de 30 anos desde sua primeira edição, que foi em 1997, a 29º COP ocorreu em novembro de 2024, em Baku, no Azerbaijão.

A COP29 foi chamada de “COP do Financiamento”, pois seu principal objetivo era decidir quanto dinheiro os países precisam desembolsar para políticas climáticas globais, como a transição energética ou a adaptação climática justa, que custam caro.

O resultado foi um desastre. O valor decidido na COP29 foi de US$ 300 bilhões por ano até 2035 – quantia muito inferior aos US$ 1,3 trilhões anuais que os países do Sul Global pedem. Não há clareza sobre as formas de pagamento desse dinheiro, ou quando, e também não garante que ele venha de recursos públicos, tampouco assegura que os países do Norte Global paguem a maior parte.

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Só para você ter uma ideia da assimetria, a organização Observatório do Clima (OC) calculou que, se esses US$ 300 bilhões fossem divididos entre os 45 países mais vulneráveis à crise climática, cada uma das nações ficaria com apenas US$ 6,6 bilhões por ano. Esse valor não cobre nem os gastos para auxiliar o Rio Grande do Sul: o estimado para a recuperação do estado gaúcho após as enchentes históricas deste ano é de até US$ 17 bilhões.

Então, voltando ao enunciado, quem deve pagar a conta da crise climática – no sentido literal, de desembolsar o dinheiro – são as nações mais poluidoras, do Norte Global, que mais emitem os gases do aquecimento global e que mais exploram, historicamente, outros países.

Agora, o que acontece na prática é que os países do Sul Global já estão pagando ao sofrerem com mais intensidade os eventos climáticos extremos e não poderem acessar mecanismos de adaptação climática. É o modus operandi da história do capitalismo: concentram-se as riquezas nos países enriquecidos, e socializam-se as mazelas nos países empobrecidos.

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Que fique claro: isso não exime os países do Sul Global de seu papel na transição climática justa, tampouco abre brecha para poluir mais – alô, Governo Lula e exploração de petróleo na Foz do Amazonas.

Mas fato é que mais do que ambição, falta vontade e faltam mecanismos de monitoramento e cobrança efetivos para as nações majoritariamente responsáveis pela crise do clima.

Bárbara Poerner, colunista da CAPRICHO

Mas fato é que mais do que ambição, falta vontade e faltam mecanismos de monitoramento e cobrança efetivos para as nações majoritariamente responsáveis pela crise do clima. Por isso espaços como a COP podem ser um palco de greenwashing ao construir cortinas de fumaça que, na verdade, nos fazem retroceder ao invés de avançar.

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Não é sobre acreditar ou não acreditar na COP, até porque ela não é uma religião ou livro de ficção. A COP é um espaço de negociação e uma tentativa de lidar com a maior crise de nosso tempo. Sendo assim, é também um espaço que deve ser questionado, mudado, melhorado.

A próxima conferência, a COP30, irá ocorrer no Brasil, em Belém do Pará. Seu sucesso, contudo, dependerá da vontade política de seus líderes, e, principalmente, do quanto haverá participação social e popular, especialmente, da parcela dos mais afetados pelas mudanças climáticas, que, inclusive, já estão especialistas nas alternativas para adiar o fim do mundo.

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