Um inimigo imaginário incomoda, mas ações reais podem muito mais

Passados os trinta segundos de urna, temos quatro anos pela frente. Neles, podemos e devemos engajar e acreditar em quem trabalha pautado no real.

Um inimigo imaginário incomoda, mas ações reais podem muito mais
Foto: Andréa Martinelli
Um inimigo imaginário incomoda, mas ações reais podem muito mais

C

om o fim das eleições, surgem algumas dúvidas. O que um vereador ou uma vereadora faz, afinal? Muita coisa, mas provavelmente nada do que muitos dos principais eleitos nas grandes cidades prometeram. Mas é bom ficar atenta ao que eles defendem ou ofendem, porque nossos direitos sempre são os primeiros a serem atacados.

Por exemplo: o vereador mais votado de uma grande cidade prometeu combater a ideologia de gênero, mas a ideologia de gênero como um monstro a ser combatido não existe – é uma criação religiosa, aliás. Isso não significa que precisamos ignorar o que o tal vereador fala, afinal mais de 160 mil pessoas votaram nele – também – por isso.

Cabe a nós perguntarmos: qual o “inimigo” dele, de fato? Como dissemos na última edição desta coluna, o inimigo de pessoas assim são aquelas que não fazem coro aos delírios que ele acredita. Tipo você e eu.

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Pessoas que não concordam com a existência do que é diferente de si já são inimigas daquelas que têm pensamento homogêneo. Sabe? Pensamento homogêneo é aquele que só reconhece verdade, profundidade e humanidade no que é igual, tudo igual. Mesma forma de se relacionar, vestir, se expressar, se identificar… Tudo que se choca contra com isso, é visto como mau.

Ainda bem que sabemos que não é. Por isso é importante ficarmos atentas ao discurso. Não é uma ideologia, algo inatingível e distante que discursos como esse combatem: somos nós, aquelas que não acreditam que todos devam ser iguais (porque isso é impossível). Esse discurso do tal vereador implica nas nossas vidas, porque fortalece quem pensa como ele e pode nos fazer recuar. Não recuemos.

A cada vereador com esse pensamento eleito, também há alguém que acredita, defende e vive a pluralidade de vivências que tanto queremos. Uma pluralidade que consiga ser plena, sem ser agredida, expulsa, adoecida, escanteada. Vidas que não sejam abreviadas, desprezadas, combatidas.

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Passados os trinta segundos de urna, temos quatro anos pela frente. Neles, podemos e devemos engajar e acreditar em quem trabalha pautado no real.

Lola Ferreira, colunista da CAPRICHO

Pleno viver, bem-estar e felicidade: isso também não está em planos de governo, mas é o que podemos alcançar se fortalecermos. Passados os trinta segundos de urna, temos quatro anos pela frente. Neles, podemos e devemos engajar e acreditar em quem trabalha pautado no real; quem não cria monstros imaginários, que no fim das contas sabemos ser pessoas LGBTQIA +, negras, pobres. Pessoas que estão bem longe do que o tal vereador e seus apoiadores veem no espelho, mas que são o que vemos nas ruas, nas nossas casas, nos nossos círculos de amizade.

A realidade no início, no meio e no caminho é bem melhor do que o inexistente, que é perigoso. Vamos ficar com o real, mesmo que isso siga incomodando.

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