Anorexia não está ligada apenas à distorção da imagem corporal

A terceira temporada de Heartstopper aborda o transtorno alimentar e traz ensinamentos importantes sobre o tema

Anorexia não está ligada apenas à distorção da imagem corporal
Foto: Juliana Morales
Anorexia não está ligada apenas à distorção da imagem corporal

trajetória de Charlie, interpretado por Joe Locke, na terceira temporada de Heartstopper, ilustra as dores e luta de quem sofre com um distúrbio alimentar . Com sensibilidade, a série mostra diferentes facetas da anorexia, desmistifica algumas ideias equivocadas sobre o transtorno e levanta um debate importante sobre saúde física e mental.

Ao longo dos episódios lançados na última semana, a falta de apetite de Charlie e o distanciamento em relação à comida – que já aparecem na segunda temporada – se intensificam. O garoto fica cada vez mais cansado, deprimido e isolado, até que a situação se agrava e ele, junto à família, decide fazer um tratamento em uma clínica especializada. Lá ele recebe, além do diagnóstico de anorexia, o de TOC ( Transtorno obsessivo-compulsivo) também.

Entrevistada pela CAPRICHO, a nutricionista Marcela Kotait, especialista em transtornos alimentares e obesidade, afirma que o caso fictício apresentado em Heartstopper não é uma exceção na vida real. As comorbidades psiquiátricas, que são outras doenças que acontecem junto com o transtorno alimentar, como o TOC, são muito mais comuns do que se imagina. “Alguns estudos estimam que 94% das pessoas que têm um transtorno alimentar não tem só um transtorno alimentar, mas também apresentam, ao mesmo tempo, outro transtorno psiquiátrico”, explica.

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Outra ideia muito comum que a série desmascara é que o distúrbio alimentar sempre está ligado à distorção da imagem corporal, o hábito de contar calorias e o desejo de perder peso. No caso de Charlie, a anorexia sempre esteve mais conectada a obsessões e compulsões: comer a coisa certa, na hora certa e nas circunstâncias certas – o que faz muito sentido com o diagnóstico de TOC. Em uma das cenas, ele descreve que “tem mil regras sobre comida em sua cabeça e, se não segue, sente como se fosse morrer”.

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Marcela explica que a definição de anorexia nervosa é um transtorno alimentar marcado pela restrição alimentar em que existe como consequência o baixo peso para a maioria das pessoas – ela pode ou não estar acompanhada da distorção da imagem corporal. “Temos alguns subtipos de anorexia, sendo os mais comuns o subtipo restritivo, em que ela é marcada primordialmente pela restrição alimentar, e o subtipo purgativo, caracterizado por episódios de comer de maneira compulsiva ou de compensação por meio de exercícios físicos ou de purgações”, explica a especialista.

Na série, desde a primeira temporada, vimos circunstâncias que contribuíram para a deterioração da saúde mental de Charlie, como o bullying que ele enfrentou na escola, e que podem ter contribuído para as obsessões e agravado a sua relação ruim com a comida. Trazendo para a realidade, fora da telinha também, Marcela enfatiza que as causas da anorexia nervosa são multifatoriais e isso incluí fatores psicológicos, sociais, culturais, genéticos, biológicos. “Pode, inclusive, acontecer um entrelaçamento dessas causas, engatilhando um transtorno alimentar, que é um quadro complexo”, esclarece.

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Da mesma forma, as consequências da anorexia não se resumem apenas na parte clínica e física, representada pela desnutrição, mas também há muitos efeitos psicológicos, emocionais e sociais – o que foi muito bem mostrado em Heartstopper. Além do peso corporal, é possível observar, por exemplo, mudanças de comportamento em quem sofre de distúrbios alimentares. “Normalmente, a pessoa para de sair porque, muitas vezes, a comida (que é o problema nesses casos) faz parte do nosso relacionamento social, então há um isolamento”, diz a nutricionista.

Por isso, vale ressaltar a importância de uma rede de apoio que esteja preparada para acolher e ajudar quem apresenta sinais de anorexia ou outras transtornos alimentares e psiquiátricos. Além disso, o tratamento com profissionais especializados, como nutricionistas, psicólogos e psiquiatras, é fundamental. Então, se perceber sinais e sintomas citados nesta matéria, peça ajuda, ok?

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