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eartstopper chega a sua terceira temporada mais madura e menos leve do que as anteriores – e isso é ótimo. Sem perder sua essência e encantamento, a série da Netflix aborda temas mais sérios, com destaque para o distúrbio alimentar de Charlie (Joe Locke) . Os novos episódios retratam não só a complexidade da anorexia nervosa como a importância de uma rede de apoio que esteja preparada para acolher e respeitar.
Na segunda temporada, Nick, personagem interpretado por Kit Connor, já havia começado a perceber sinais estranhos na alimentação do namorado, Charlie. A falta de apetite e um distanciamento em relação à comida o chamaram atenção. Esses sintomas se intensificam na terceira temporada de Heartstopper , assim como a preocupação de Nick ao ver seu parceiro se sentindo cada vez mais fraco e deprimido.
[A partir daqui você pode encontrar spoilers da terceira temporada de Heartstopper]
Desde o primeiro episódio, o jovem sabe que precisa interferir na situação e encontrar um jeito de ajudar o namorado. Mas como fazer isso sem ser invasivo, indelicado e sem acabar o afastando? Quando Nick puxa a conversa sobre o transtorno alimentar, após observar o comportamento do namorado e pesquisar sobre o tema, a reação imediata de Charlie é a negação e dizer que não é para tanto.
O sentimento de impotência diante do sofrimento de alguém que você ama não é fácil. Existe uma linha muito tênue entre respeitar o espaço e ser imprudente em relação à saúde da outra pessoa. Durante uma conversa com a sua tia no segundo episódio, Nick desabafa sobre isso: ele não pode forçar Charlie a comer, porque pioraria as coisas, mas ele também não pode ficar de mãos atadas, sem fazer nada. Ele lamenta que já tentou fazer o namorado se abrir com ele, ou conversar com os pais, mas ele não conseguiu.
Diane, personagem da tia introduzida na terceira temporada, interpretado pela atriz Hayley Atwell , traz um conselho que todo mundo que está tentando ajudar alguém em sofrimento deveria escutar. Ela esclarece que não é papel de ninguém consertar ou salvar o outro, mesmo que você ame muito a pessoa e que vocês sintam que são o mundo um do outro. Essa dependência não é saudável para ninguém e traz um fardo muito grande.
O amor não cura transtornos mentais e precisamos saber que, às vezes, o outro precisa de mais ajuda do que podemos dar. Em muitos casos, há a necessidade da ajuda médica e psicológica especializada. Mas isso não significa que não dá para ajudar seu namorado, amigo ou parente. Há muitas formas de colaborar, como explica a Diane, que é psiquiatra na série, ao sobrinho Nick: “Você pode ficar ao lado dele, para aconselhar ou ouvir. Pode tentar animá-lo nos dias ruins. Nesses dias ruins, você pode perguntar como pode ajudar. Devem ficar unidos, mesmo quando for difícil” .
A série, por meio dos conselhos de Diane ao sobrinho, ainda dá dicas para ter uma conversa acolhedora para ajudar alguém que está passando por um momento difícil:
- Escolha um lugar onde os dois se sintam seguros;
- Conte o que está te preocupando;
- Mostre que se importa com a pessoa;
- Em casos de distúrbios alimentares, tente evitar que a conversa seja sobre comida ou sobre peso.
Nick segue todos esses passos na série e ilustra a importância do acolhimento, respeito e apoio em casos de transtornos mentais. Ele entendeu que não dá para consertar o outro e curá-lo, mas é possível estar ali para quando ele precisa, como ele fez quando ficou ao lado de Charlie para lhe dar segurança para contar aos pais sobre o que estava acontecendo.
Heartstopper mostra também que ajudar uma pessoa em sofrimento demanda muitas paciência e força para lidar com os dias mais difíceis, como nas crises, recaídas e também para lidar com a saudade em alguns casos que necessitam de distância, por exemplo. Sim, assusta, dá medo e mexe com muitas emoções. Por isso, quem cuida também precisa se cuidar.
Isso fica nítido em uma das cenas mais marcantes da temporada quando Nick desaba no ombro de Tao ( William Gao ) durante a festa de Halloween no quarto episódio, tomado pela tristeza, saudade e preocupação. Kit Connor disse em entrevista à CAPRICHO , inclusive, que esse foi seu episódio favorito.
Então, que fique a lição: nós nunca entenderemos completamente o sofrimento de uma pessoa, muito menos, saberemos como o outro se sente. Ainda assim, podemos ajudar, respeitar, acolher e dar muito amor.