Em ‘Se eu fosse uma garota branca’, KING Saints toca na ferida com humor
Arthur Ferreira
Em ‘Se eu fosse uma garota branca’, KING Saints toca na ferida com humor

A

pós 12 anos de carreira como compositora, KING Saints finalmente lançou seu primeiro álbum, Se Eu Fosse Uma Garota Branca , em um momento que marca sua transição de compositora para intérprete. Em entrevista exclusiva para a CAPRICHO , ela refletiu sobre o significado desse passo em sua jornada artística, ao mesmo tempo, em que traz letras divertidas e provocativas.

“Sempre mantive vários projetos ao mesmo tempo. Mas, realmente, nesses últimos dois anos, coloquei muita energia no meu lado artístico, focando em ser intérprete também, sem deixar de lado a composição, que é algo pelo qual sou fascinada”, conta KING Saints à CAPRICHO.

Ao longo de 12 anos de carreira, a artista nascida em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, construiu um nome sólido nos bastidores da música, compondo para grandes artistas e colaborando em projetos que deixaram marcas no cenário pop e urbano brasileiro. Seu talento não passou despercebido, sendo indicada ao Grammy Latino por seu trabalho em DOCE 22 , de Luísa Sonza , e AFRODHIT , de IZA .

A decisão de se tornar a estrela de suas próprias composições é uma mudança significativa para a carioca, que vê o lançamento de seu primeiro disco como o momento certo, “tanto em termos de maturidade de mercado quanto de crescimento pessoal”.

Se Eu Fosse Uma Garota Branca chama a atenção logo de cara, não apenas pelo título provocador, mas pela capa que provoca ao trazer a artista após fazer um procedimento para clarear sua pele.

“A estética começou a partir de uma pesquisa sobre a Zezé Motta quando ela fez Chica da Silva, e também Taís Araújo, além de Grace Jones, que teve uma era marcante usando o whiteface”, conta King Saints. Essa pesquisa revelou uma conexão profunda com a questão racial no Brasil, ao abordar o uso do whiteface para representar elitização ou progresso financeiro entre mulheres negras.

“Esse conceito visual também se relaciona como um contraponto do blackface”, destaca, remetendo a uma história marcada pela representação caricata de pessoas negras.

Continua após a publicidade

KING Saints não evita temas complexos, mas sua abordagem mistura crítica e leveza. No álbum, há uma mistura ácida e divertida que permeia suas composições. “Eu acho que tem várias maneiras de abordar diferentes assuntos, e todas são válidas”, reflete.

Para ela, o humor é uma ferramenta poderosa de reflexão. “Eu preciso me divertir enquanto faço, e quero que as pessoas também se divirtam, mesmo que elas estejam entrando em um funil de crítica”, explica.

Continua após a publicidade

A artista também critica a forma como artistas negros são frequentemente limitados a determinados gêneros musicais no Brasil: “As pessoas ainda não conseguem enxergar um artista negro como um artista pop”, afirma. “O pop não é só música, é um movimento, uma cultura.”

O álbum de estreia de King Saints é mais que uma obra musical; é um manifesto cultural e social. Ela busca romper com as limitações impostas a artistas negros no Brasil, ao mesmo tempo que presta homenagem às mulheres negras que abriram caminho antes dela.

Continua após a publicidade

Para a gente estar aqui hoje fazendo música, criticando, ocupando esses espaços, foi porque muitas mulheres, que a sociedade muitas vezes considerou malucas, raivosas ou mal-educadas, pavimentaram esse caminho

KING Saints

Essa consciência histórica permeia sua trajetória e a maneira como aborda a música. Para KING Saints, a luta atual é um desdobramento de um esforço coletivo que busca visibilidade e reconhecimento. “Talvez o que estamos plantando agora, não veremos em sua total magnitude. A gente espera ver uma parte disso, e que se reverta em algo concreto, para que possamos, sei lá, comprar uma casa legal, fazer uma viagem internacional com a família.”

Continua após a publicidade

“Esse é o grande passo que muitas dessas mulheres não conseguiram dar: desfrutar do que plantaram. Então, o que a gente espera agora é que nós também possamos comer um pedaço desse bolo.”

Ouça o disco Se Eu Fosse Uma Garota Branca:

Publicidade

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!