O horror no filme “Um Estranho no Ninho” (1975), de Milos Forman

Ambientada num hospital psiquiátrico, comédia dramática ganha peso de libelo contra a repressão

Foto: Laís Franklin
O horror no filme “Um Estranho no Ninho” (1975), de Milos Forman

Apesar de ter perdido seus pais tragicamente no campo de concentração de Auschwitz, Milos Forman nunca abandonou o humor em seus filmes. Foi com graça que ele construiu sua filmografia na Tchecoslováquia, nos anos 1960, em pleno movimento de renovação do cinema (a Nouvelle Vague deles). Desta fase, destacam-se pelo menos dois longas, Os Amores de uma Loira (1965) e Baile dos Bombeiros (1967), ambos sobre inquietações da juventude.

Com a invasão soviética no país, em 1968, Forman partiu para os Estados Unidos. Lá, freou a estética mais arrojada que fazia na terra natal, mas manteve o olhar crítico sobre as instituições controladoras. Nessa pegada, alguns de seus filmes mais renomados são Amadeus (1984) e O Povo contra Larry Flint (1996), que trazem homens lutando contra o conservadorismo do sistema.

Neste aspecto, a prisão-manicômio de Um Estranho no Ninho é um campo mais sombrio. Um espaço fértil para Forman, mas sobretudo pela excelência de Jack Nicholson , ator perfeito para as inserções cômicas. Ele é Randle McMurphy, detido por se envolver com uma menor. Para se livrar da pena, consegue convencer a polícia de que está maluco. Ao ser internado num manicômio, percebe que a maioria dos internos é mais desajustada socialmente que doente mental.

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Bem ao estilo do diretor, ele desafiará as regras, representada, no caso, pela enfermeira-chefe Mildred (Louise Fletcher). O hospital psiquiátrico, palco para o humor de Nicholson, será também a representação do horror, algo que o filme mostra numa montagem que se faz mais dinâmica, mais brutal.

O realismo com o qual Forman constrói seu filme (ele chegou a usar pessoas com deficiência intelectual como figurantes) e sua direção de atores renderam resultados no Oscar de 1976. Nicholson, cuja atuação foi elogiada pela norte-americana Pauline Kael , crítica de cinema bem resistente ao trabalho “exagerado” desse artista, ganhou sua estatueta, assim como Louise Fletcher . A Academia ainda deu os prêmios de Melhor Filme , Direção e Roteiro Adaptado (da obra homônima de Ken Kesey, que levou para o texto parte de sua experiência quando trabalhava num hospital psiquiátrico).

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