Billy Porter: “Eu sempre uso a minha arte de modo político”

Em conversa com a jornalista Luiza Brasil, o artista divide suas inspirações para a vida e a sua carreira

Foto: Beatriz Lourenço
Billy Porter: “Eu sempre uso a minha arte de modo político”

A presença de Billy Porter é sentida antes mesmo que ele ocupe o centro da sala. Quando a jornalista Luiza Brasil o anunciou, mais de 350 membros do clube Soho House aguardavam a conversa com o premiado cantor, ator, escritor e diretor – definições que constam em suas próprias redes sociais. Sua estadia no Brasil ocorreu por causa do Festival Aceita , que aconteceu no dia 24 de agosto em Belém (PA). O evento teve como objetivo celebrar e resgatar experiências LGBTQIA+ da Amazônia – uma das causas pelas quais Billy advoga.

A performance foi feita por seu alter-ego: a Black Mona Lisa – nome que também intitula seu último projeto musical. A inspiração, é claro, veio do quadro de Da Vinci , um clássico. E é exatamente o que ele quer: um legado que possa ser levado adiante. Para os amantes, o alter-ego veio para ficar: “Daqui em diante, tudo o que eu produzir musicalmente será como Black Mona Lisa. Para meus outros projetos, serei Billy Porter. Então me chamem de Black Mona Lisa”.

Billy Porter na Soho House São Paulo Instagram/reprodução

O cantor aproveitou para anunciar o lançamento do EP Black Monalisa vol. II: the cookout sessions . E a ideia do álbum é abraçar a sua negritude. “Eu não sabia que essa era uma conversa que eu precisava ter, mas claramente é. Então vamos falar sobre isso. Antes de tudo, eu sou preto, e essa vai ser a música mais preta o possível.”

Para mostrar seu comprometimento com as pautas raciais, sociais e de gênero, mostrando que sua arte é política, o ator e cantor presenteou a audiência com a reprodução de suas novas músicas: Leap , Black Mona Lisa Remix , Skin Deep , Not Today e, para finalizar, escolheu a música que disse ser mais importante para ele, tanto que a ouviu contemplativo, com os olhos fechados: Audacity .


O menino da Pensilvânia que conquistou o mundo pela arte

Nascido em Pittsburgh no final dos anos 60, o artista cresceu frequentando a igreja local. Começou cantando música gospel, mas foi no teatro musical que sentiu que poderia ser ele mesmo: homem gay e que queria cantar. Aos onze anos, Billy assistiu o musical “Dreamgirls”, estrelado por Jennifer Holliday, e sua perspectiva mudou completamente: “Percebi que poderia viver fazendo algo que eu amava”, conta.

Como ator, construiu uma história admirável. Conhecido por sua atuação nos filmes “ Our Son” e “ Cinderela , na série “ Pose e na produção da “ Broadway Kinky Boots , hoje pode dizer que coleciona prêmios. Dos principais, são três Tonys , um Grammy e um Emmy . Esse último é um marco: foi o único homem negro abertamente gay vencedor. E se isso foi possível, é porque persistiu em seus sonhos. “Não sentei e esperei as coisas virem até mim. Eu fiz algo.”

A arte impactou e impulsionou sua vida – é por isso que é onde ele coloca toda sua energia. “Há pessoas que menosprezam a arte, como se a minha opinião não importasse por causa da minha profissão. Mas essas pessoas têm medo, porque a minha voz é ouvida”, declara.

Billy Porter na Soho House São Paulo Instagram/reprodução

Um jovem motivado pode conquistar muitas coisas, mas dificilmente sozinho. É aí que entra o papel de sua mãe, Cloerinda, que o apoiou até o dia de sua morte, em fevereiro deste ano. “Ela lutou por igualdade e me ensinou sobre o amor incondicional.” Emocionado, Billy diz: “Ela é a minha única heroína”. Graças à sua instrução, o artista aprendeu a se posicionar frente a vida.

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“Minha mãe lutou por igualdade e me ensinou sobre o amor incondicional. Ela é a minha única heroína”

Considerado um ícone fashion, ele também falou sobre a importância da autenticidade e da identidade na moda, que vem também de seu lugar social. “Tem um estilo que vem da opressão.” Quando se tem a possibilidade de se expressar, é aí que seu estilo aparece. “Meu estilo é eclético, é pessoal, e literalmente depende do dia.” Enquanto andava em frente ao público, ilustrava sua fala com um boné trançado e alto, uma echarpe estampada azul e mocassins prateados.

Sua presença e seu trabalho refletem o que quer para o mundo. Já extrapolando o tempo da conversa, Luiza perguntou pelo o que Billy quer ser lembrado, e a resposta resume seu legado: “acredito na bondade da humanidade e que contribuí para a cura dela. É por isso que quero ser lembrado.”

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